Pedagogia para o Dia dos Namorados- Diamantino Bártolo

 
    Com relativa facilidade se verifica que ao longo do ano civil, designadamente, na cultura ocidental, praticamente, a cada dia do calendário é atribuído um evento, uma comemoração, uma recordação, um facto relevante num determinado domínio, que a sociedade pretende festejar, relembrar ou, até mesmo, repudiar. São os chamados “Dias Universais” e também há os denominados “Dias Nacionais”, tal como o ano, o mês ou a semana, consignados a uma situação mundial, entre outras celebrações.
    Desde a época de S. Valentim que o “Dia dos Namorados” é comemorado e festejado no dia 14 de fevereiro de cada ano, principalmente pelos jovens enamorados que, reciprocamente, vivenciam aquela data com as mais diversas, quanto apaixonadas, atividades e ofertas românticas, destas se destacando o famoso lencinho branco bordado, passando pelas flores, um convívio mais íntimo.
    É muito lindo observar as manifestações que jovens, por vezes, ainda adolescentes, têm a generosidade, e a sensibilidade, de revelar perante a pessoa amada e, naturalmente, apesar de se tratar de uma tradição, de um dia especial para um casal que se julga romanticamente “enfeitiçado”, a verdade é que, este dia, dedicado aos namorados, com toda a paixão, carinho, oferendas e tudo o que de mais íntimo e confidencial possa envolver, só volta a repetir-se, decorrido que seja mais um ano.
    O “Dia dos Namorados”, obviamente, deve ser festejado todos os dias, ao longo do ano, justamente por todos os casais, independentemente das idades, que, indubitavelmente, se amam, se respeitam, não obstante os erros que, precisamente, ao longo desse mesmo ano, se tenham vindo a cometer, porque é natural que assim seja, na medida em que o ser humano não é perfeito.
Num dia tão importante como é o que está atribuído aos Namorados, seria muito interessante que todos os casais: adolescentes, jovens, adultos e seniores; solteiros, casados, em união de facto, bem como os que tencionam juntar-se, por via de um qualquer e legítimo processo, meditassem muito bem nos princípios, valores e sentimentos de que estão imbuídos, e, necessariamente, preparados para aplicar na vida diária, a dois.
    De nada vale comemorar este dia para com a pessoa que dizemos amar, se depois e durante os trezentos e sessenta e quatro dias, nos preocupamos, apenas, com a satisfação dos nossos egoísmos, e exercemos junto da parte, alegadamente, querida, as mais inconcebíveis e inaceitáveis arbitrariedades, nomeadamente: maus tratos físicos, psicológicos e exploração permanente.
    Gostar, amar, respeitar, doar-se à pessoa que queremos que seja a nossa outra “metade gêmea”, implica uma: entrega permanente, uma dedicação sem limites, a defesa intransigente da sua honra, bom-nome, reputação e dignidade; postula um comportamento de inabalável solidariedade, de lealdade, de humildade, de gratidão e assunção de responsabilidades, inerentes a quem verdadeiramente ama, e/ou tem profunda amizade por outra pessoa.
    O “Dia dos Namorados”, tanto se pode aplicar aos casais já constituídos, a viverem em conjunto, como aos jovens enamorados que, por via do namoro, preparam o enlace matrimonial, ou, ainda, a duas pessoas que estão unidas por laços profundos de uma amizade conquistada no dia-a-dia, até ficar consolidada.
    O que se destaca neste dia, são sentimentos verdadeiros, sejam de intensa paixão, amor incondicional, ou amizade sincera, sempre no respeito por princípios de grande probidade, de reserva e confidencialidade. Estes sentimentos, no que possam ter de mais íntimo, jamais podem cair na praça pública, ou serem utilizados por uma das partes para dominar, humilhar e ostracizar a outra.
    É fundamental abordar no “Dia dos Namorados”, desta vez, numa perspetiva positiva, por forma a que esta data seja um pretexto para se refletir nas possibilidades maravilhosas, que o namoro nos proporciona, como um recurso que é de excelência para a preparação de um possível, quantas vezes tão desejável, matrimónio, partindo-se do princípio, ético-moral, que as partes envolvidas, estão verdadeiramente apaixonadas e de boa-fé.
    Assiste-se, atualmente, primeiro quarto do século XXI: a uma banalização de certos relacionamentos, habitualmente, designados por namoros; ou então, também se constata que, determinadas amizades passam à suposta condição de namoros, para delas, uma, ou as duas partes, retirarem proveitos que, em princípio, só deveriam ocorrer numa fase posterior, dir-se-ia, naquele período pré-nupcial, ou seja, experimentam-se as relações mais íntimas, alimentam-se determinadas práticas, e depois, troca-se de parceiro e procede-se a um inqualificável e desumano “descarte” de uma das partes, pela outra. O namoro, como a amizade verdadeira, não são isto, como o afeto e a consideração não devem caminhar por tais estradas de prazer, luxúria e orgias temporárias.
    Quando duas pessoas se aproximam, cada vez mais, estabelecem laços de simpatia que, posteriormente, podem progredir para uma amizade autêntica, e, se tais pessoas não têm quaisquer compromissos, mais profundos com outras, nomeadamente, namoro ou até matrimónio, é possível que venham a desejar um relacionamento profícuo, em ordem a um desfecho nupcial e, mais tarde ou mais cedo, assumam a condição de cônjuges.
  O “Dia dos Namorados” é,  portanto, um bom motivo para se aquilatar do estado de uma relação, que, para além de uma ligação de amizade inicial, já passou a um nível superior, mais digno e mais íntimo, a partir do amor que, entretanto, se gerou. Analisar se existe muita, pouca, ou nenhuma compatibilidade entre os namorados, em diversos domínios, que, mais tarde, acompanharão o casal ao longo da vida matrimonial, se esta for a decisão, será um dos objetivos do namoro.
    A responsabilidade por condutas excessivas, praticadas pelos namorados, obviamente que deverá ser partilhada por cada um dos elementos do casal, exceto se houver violência de um dos membros, contra o outro, em que esse outro fique física e psicologicamente  em desvantagem e, certamente, impedido de se defender, ou seja: atribuir, por exemplo, a culpa de uma determinada situação ao jovem, pode não corresponder à verdade se, entretanto, se verificar que a jovem colaborou na execução de um ato que, à partida, poderia ter sido evitado, pelo menos numa fase inicial do namoro.
    Considera-se, ou, no mínimo, poder-se-á aceitar, que o namoro será um tempo de pedagogia para os elementos que compõem o casal, indistintamente da sua composição em género, idade ou estatuto. Nesse sentido aponta a presente reflexão, que não pretende ser uma crítica destrutiva a determinados atos, incluindo os mais íntimos, mas, pelo contrário, uma abordagem pedagógica sobre as precauções, princípios, valores, sentimentos e emoções, que este período pré-matrimonial, ou de conhecimento mútuo, encerra.
    O “Dia dos Namorados” pode, e deve, iniciar-se, se possível, logo pela manhã, quando surge a primeira oportunidade das pessoas apaixonadas se encontrarem e, no mínimo, a troca de alguns beijos: ternos, carinhosos, apaixonados, com amizade sincera, ou, se for já o caso, com aquele amor que une tais pessoas, depois, poderão ver os presentes: lenços,  flores, perfumes, anéis, eventualmente, de noivado, outras joias que simbolizam o amor que umas das partes nutre pela outra.
    Muitas são as histórias, os romances, as cartas alusivas ao “Dia dos Namorados”, mas qualquer que seja a veia cultural, poética ou literária, é sempre possível idealizar uma cena arrebatada para este dia, por isso, imagine-se que: «Numa certa manhã fria, de catorze de fevereiro, duas pessoas viajavam no mesmo carro, a quem poderíamos dar nomes fictícios de Cema e Amável, até que este lhe pediu para fazerem um desvio, para um local fora da estrada principal e, num sítio, relativamente recôndito, param o veículo para, ternamente, se abraçarem e beijarem, com intensidade, um, dois, três e muitos mais beijos quentes, húmidos e prolongados e que, por esta forma, penetram, um no    outro, olhos brilhantes, rostos resplandecentes, felizes. Depois prosseguiram viagem, até ao destino que estava previamente combinado, desde o dia anterior.»
    Hipoteticamente, assim se poderiam idealizar uns breves momentos para serem vivenciados no “Dia dos Namorados”, como muitos outros são possíveis, seja à beira mar, num campo, numa montanha ou, simplesmente, em casa. Neste dia, o importante é estreitar uma relação que, mesmo sendo, ainda, de amizade, deve ser preservada, porque namorar, também significa, “galantear”, “cortejar”, “seduzir”, “afeiçoar-se”, enfim, manter uma amizade sincera, desejavelmente, para a vida, entre duas pessoas que se gostam, respeitam e se retribuem nas gentilezas.
 

Venade/Caminha – Portugal, 2021

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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