Flores Revolucionárias- Diamantino Bártolo


    Portugal, decorridos cerca de quarenta e sete anos, após a Revolução de vinte e cinco de abril de mil novecentos e setenta e quatro, assumida responsavelmente pelos valorosos “Capitães de Abril”, assim mais tarde designados, vive, atualmente, uma tranquilidade e um desenvolvimento que faz inveja a grandes potências mundiais, para além da liberdade que se “respira” e experimenta na vida corrente dos cidadãos e das instituições.
    Está por escrever a História do 25 de abril de 1974, nesta data consubstanciada numa Revolução Democrática, Pacífica e Exemplar, que viria a designar-se por “Revolução dos Cravos”, devido ao facto de nas extremidades das espingardas, e outras armas dos militares, juntamente com as munições, terem sido colocados cravos vermelhos, a que se uniria o povo anónimo a distribuir, nas ruas, estas lindas e tão simbólicas flores.
    Naturalmente que, como em qualquer revolução, haveria algum confronto entre os apoiantes deste ato, libertador de uma ditadura de quase meio século, para a passagem  a uma democracia, e aqueles que continuavam e desejavam manter o antigo regime ditatorial e, nesta tensão, seria necessário tomar algumas medidas mais robustas, até à rendição dos principais responsáveis governamentais e altos quadros civis e militares, por isso, um reduzido número de disparos, teriam sido realizados, precisamente para intimidar; jamais para ferir ou matar.
    Aceita-se, e até se compreende, que existam diferentes versões deste acontecimento extraordinário, que a História e os seus especialistas, investigadores e intervenientes diretos, um dia darão conta aos Portugueses, e ao mundo, mas existem realidades que já são verdades e factos incontestáveis, que não carecem de qualquer prova científica, ao fim destas décadas de Democracia.
    As consequências, mais evidentes, desta revolução modelar estão à vista de qualquer pessoa, inclusive, das menos informadas política e historicamente, por isso e em jeito de breves tópicos, destacam-se as seguintes: cessação das guerras coloniais; independência das então colónias; restauração dos direitos, liberdades e garantias para todos os cidadãos; aprovação e implementação de uma nova Lei Fundamental, para um Estado Democrático de Direito; eleições livres por sufrágio direto, universal e presencial, para os Órgãos de Soberania: Assembleia da República, Presidência da República e Governo, assim como para as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira e Autarquias Locais: Assembleias Municipais, Câmaras Municipais e Assembleias de Freguesia; entre outros desfechos positivos que se vieram a concretizar pós-revolução, como a famosa trilogia dos “3D’s”: Descolonizar, Democratizar e Desenvolver.
    Portugal é, atualmente, primeiro quarto do século XXI, uma autoridade em Democracia, fazendo cobiça, seguramente, às poderosas nações económica e financeiramente assim reconhecidas. Os Portugueses são um povo de fracos recursos naturais, contudo, riquíssimo em recursos humanos, meios culturais, a todos os níveis e, também, em vários domínios da ciência, da técnica, da política democrática, cívica e multirracial.
    Os Portugueses, atravessam um dos grandes e brilhantes momentos da sua História, apesar das dificuldades económicas, financeiras e sociais, porque tem passado, nesta primeira década e meia do século XXI, na medida em que foram muitos os sacrifícios impostos à população: austeridade praticamente incontrolada e cruel, que arruinou a classe média, e atirou para a miséria mais de quinze por cento das famílias. Todas estas dificuldades têm vindo a ser ultrapassadas com grande coragem, eficácia, realismo e esperança em melhores dias.
    Portugal, hoje, é um país pacífico, onde se pode olhar o futuro com otimismo, um território cujo povo se revela profundamente humanista e bondoso, basta analisar a nova política de acolhimento de refugiados, oriundos de países em guerra, de regimes extremistas, nos quais a dignidade e os direitos humanos perderam ilegítima e ilegalmente qualquer sentido.
    A dimensão multicultural dos Portugueses, após a Revolução dos Cravos, como que se reforçou no mundo, agora com princípios, valores e sentimentos renovados, eventualmente, compagináveis com uma mentalidade universalista, pós-moderna que, em muitos países sociáveis, tal como em Portugal, releva de uma Civilização Ocidental humanista-cristã, muito embora, igualmente, aberta e dialogante com outras religiões moderadas.
    A Revolução dos Cravos, que também poderíamos designar de “Cetim”, - para não repetir o vocábulo “Veludo”, utilizado por Vaclav Havel, aquando da Revolução, não belicosa, de 1989 na antiga Checoslováquia -,  é hoje um bom exemplo de um povo culto, calmo e nobre como são os Portugueses, que bem podem orgulhar-se dos seus militares, libertadores de uma regime inaceitável, que não respeitava os Direitos Humanos, por mínimos que fossem, principalmente, aqueles que se reportavam à liberdade de expressão político-ideológica.
    Comemorar, com pompa e circunstância, a Revolução dos Cravos, em Portugal, será sempre um tributo merecido, não só aos militares que correram graves riscos, quer nas suas carreiras profissionais e, até, possivelmente, na vida física, como também prestar uma homenagem ao povo anónimo que, serena e civicamente, se juntou e apoiou os promotores da Revolução.
    E se feridas ainda existem, e é natural que sim, designadamente, nos Portugueses que escolheram as então colónias para trabalharem, viverem, educarem os seus filhos, e terem um futuro tranquilo e que, de repente, se viram obrigados a fugir, para a então Metrópole, ou para outros países, aqui se destacando o Brasil como o grande país irmão, acolhedor de milhares de irmãos lusitanos, sendo despojados dos seus bens, que nunca nenhum governo, em Portugal, e/ou nos novos países, os ressarciram destes prejuízos tremendos.
    Esta será, talvez, a parte menos positiva da Revolução, mas também se compreende que, à época, não seria possível fazer muito melhor. Afinal, os Portugueses, oriundos das ex-colónias, acabaram por se reintegrarem na sociedade nacional e: muitos deles, recomeçaram uma nova vida, com mais ou menos empreendimentos, criando, inclusive, postos de trabalho; outros, foram recolocados no aparelho do Estado, bancos e grandes empresas multinacionais. A resiliência destes Portugueses foi outro exemplo que muito nos honrou e correu mundo.
    Decorridas quase cinco décadas, após o dia das “Flores Revolucionárias”, em Portugal, constata-se que o país vive um clima de grande desenvolvimento: de avanços significativos na área da investigação científica; em todos os domínios da tecnologia e da ocupação de cargos importantíssimos a nível mundial, chegando, na circunstância, indicar que uma das mais elevadas posições políticas mundiais foi assumida, recentemente, por eleição e aclamação, por um ilustre Português, refira-se, o cargo de Secretário Geral das Nações Unidas a partir de 01 de janeiro de 2017. É uma grande honra, um privilégio para Portugal, que assim reforça a sua importância, influência e respeitabilidade, num mundo tão complexo.
    Portugal recuperou a democracia perdida há décadas, e hoje é admirado em todo o mundo, porque sabe fazer bom uso deste valor supremo, na medida em que: «Manter viva a realidade das democracias é um desafio deste momento histórico, evitando que a sua força real – força política expressiva dos povos – seja removida face à pressão de interesses multinacionais não universais, que as enfraquecem e transformam em sistemas uniformizadores de poder financeiro ao serviço de impérios desconhecidos. Este é um desabafo que hoje vos coloca a História.» (FRANCISCO, 2016:79).
    Infelizmente, Portugal e o mundo em geral, lutam contra um inimigo invisível, que tem dizimado milhões de vidas, infetado muitos mais milhões. Estamos a atravessar uma das maiores pandemias do último século, na qual o vírus COVID-19 e suas variantes, não têm dado descanso aos investigadores e diversos especialistas. Atualmente, com a descoberta de várias vacinas, já se vê uma “luz ao fundo do túnel”, por isso: «Protejamo-nos. Vamos vencer o vírus. Cuidem de vós. Cuidem de todos». Cumpram, rigorosamente, as instruções das autoridades competentes. As “benditas” vacinas começaram a chegar. Acreditemos nos Investigadores, na Ciência, na Tecnologia e instrumentos complementares. Agradeçamos, a quem, de alguma forma, está a colaborar na luta contra a pandemia, designadamente o “Pessoal da Linha da Frente” Estamos todos de passagem, e no mesmo barco.  Aclamemos a VIDA com Esperança, Fé, Amor e Felicidade. Tenhamos a HUMILDADE de nos perdoarmos uns aos outros»

 

Bibliografia.

 

PAPA FRANCISCO (2016) Todos os Dias com Francisco. Prefácio, Padre Vitor Melícias. Selecção e Organização, Helder Guégués. Lisboa: Guerra & Paz, Clube do Livro.

 

 

Venade/Caminha – Portugal, 2021

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

NALAP.ORG

http://nalap.org/Directoria.aspx

http://nalap.org/Artigos.aspx

https://www.facebook.com/diamantino.bartolo.1

http://diamantinobartolo.blogspot.com

diamantino.bartolo@gmail.com

 

Comentários