O exercício da atividade
política, enquanto prestação de um serviço à comunidade, deverá ser suscetível
de exigências, cuja satisfação poderá não se encontrar ao alcance de muitos
cidadãos que estão, ou pretendem estar envolvidos em funções políticas.
Enveredar por uma
carreira política, ao nível local, nacional ou internacional, implica estar-se
dotado da faculdade de forte sensibilidade para as causas nobres, de resolução
dos problemas que afetam a pequena comunidade local, a sociedade nacional ou o
conjunto das sociedades internacionais, respetivamente, onde o político exerce
as tarefas inerentes ao cargo que ocupa, e para o qual foi eleito por essa população
que, obrigatoriamente, tem de servir bem, sob pena de perder a confiança que
nele depositou a maioria que o elegeu.
Como em qualquer outra atividade
e profissão, o político tem regras a observar e a cumprir escrupulosamente,
desde logo, para com os seus companheiros ideológicos, perante os seus próprios
adversários políticos e, com idêntico rigor, face ao eleitorado ao qual se
submete para sufrágio das suas ideias, do seu projeto e da sua intervenção na
comunidade.
Mas na política não vale
tudo, não se deverá aplicar o “salve-se
quem puder”, existem normas jurídicas e sociais, costumes e tradições, valores,
sentimentos, comportamentos e decisões que não podem ser ignorados. Em
política, a lealdade, o sigilo, o respeito e a tolerância constituem valores
que, em circunstâncias normais, não podem ser violados, mesmo perante os
adversários.
Nenhum político, ou
candidato a um cargo político, tem o direito de invocar aspetos da vida
privada, profissional, social ou mesmo partidária, dos seus opositores, para
tentar humilhar, denegrir e afastar qualquer correligionário, e/ou adversário.
Essa apreciação, e apenas no que respeita aos projetos e promessas, cabe ao
povo fazer e julgar, respetivamente.
E o povo, na sua imensa
sabedoria, e sentido de justiça, fará o seu juízo de valor sobre os candidatos,
sobre os políticos em exercício e, na hora certa e local apropriado, proferirá
o seu veredito, que, indiscutivelmente, deve ser respeitado com humildade e
compreensão, quer por quem perde, quer por quem ganha.
O político, e/ou o
candidato a um cargo político, devem empenhar-se profundamente, para se imporem
pela atitude correta, justa e pelo caráter, tudo fazer para manter a confiança
ou conquistá-la, respetivamente, junto da comunidade. É uma questão de ética. Ao
exercer a atividade política deve fazê-lo com profissionalismo, competência,
preocupação em obter os melhores resultados para os projetos que apresentou ao
eleitorado, beneficiando este indistintamente.
O político deve realizar
o seu trabalho, exercer o seu mandato com ética e deontologia, tal como
qualquer outro profissional liberal ou por conta de outrem, porque: «O elemento ético é o elemento normativo
da democracia que há-de servir para lubrificar de uma forma permanente a
relação entre governantes e governados; porque esta relação não teria sentido e
todo o sistema democrático perderia o seu sentido se se deteriorasse um
princípio fundamental como é o princípio da confiança; …» (ESCRIBANO, 2006:92).
A confiança a que se
alude deve ser, também ela, extensiva aos próprios correligionários e adversários
políticos, sustentada pela lealdade, pela compreensão, pela tolerância e pela
humildade. A vida política não pressupõe cargos vitalícios, nem uma carreira
hierarquizada em termos de uma determinada evolução progressiva no sentido ascendente.
O político que se dedica a esta nobre atividade, a tempo inteiro, tanto pode ser
Presidente de Junta de Freguesia hoje, como Primeiro-ministro amanhã,
Presidente de Câmara depois e, por que não, Presidente da República, já na
idade bem madura, a mais aconselhável para tão elevado cargo.
Trata-se de uma atividade
não sequenciada em termos de ascensão profissional., muito embora nada houvesse
a perder se o fosse. O poder que através dela se exerce é efémero, dura
enquanto se exerce o cargo e enquanto os eleitores assim o quiserem. Constitui
sinal de imaturidade, imprudência, falta de sabedoria e de bom senso, exercer o
poder com objetivos revanchistas, prepotência, parcialidade e vingança, por
isso, não vale a pena enveredar por tais práticas porque, mais tarde ou mais
cedo, às vezes muito mais cedo do que se previa, e/ou desejava, será o mesmo
eleitorado, ou os próprios correligionários, que destituem o político das suas
funções, e o descem do pedestal em que ele próprio se autocolocou, sem honra
nem glória, qual “Sadam Hussein” e tantos outros ditadores em todo o mundo.
Importantes são as
ideias, os valores, os projetos, os resultados, a confiança e o reconhecimento
do povo, o mérito que será, ou não, atribuído ao político, pela via democrática,
representará a recompensa, ou a punição. Ao julgamento popular, na câmara de
voto, ninguém se furtará.
As ideologias, políticas,
religiosas, económicas, sociais ou quaisquer outras, serão tanto mais credíveis
quanto mais e melhores resultados concretos, o político conseguir para o
bem-estar da população. Que significado terá, propalar a tolerância, quando se
é prepotente? Que interpretação se dará à humildade, quando se age com vaidade
e superioridade em relação ao seu concidadão? Como enquadrar o conhecimento
local, numa perspectiva de rápida e irreversível globalização? Como defender a
igualdade, quando na realidade se pratica a discriminação negativa?
Como sustentar a defesa
do socialismo (liberal, social, democrático e político), quando se tomam atitudes
que não privilegiam a situação dos mais carenciados? Como se proclama a
liberdade, quando muitos são perseguidos, humilhados e, sub-repticiamente,
punidos por, democraticamente, dizerem ou escreverem o que pensam e sentem?
Como é possível afirmarem-se determinados valores e praticarem-se outros contrários?
Seria importante refletir
sobre a circunstância, segundo a qual: «Somente
uma visão superficial desconhece a continuidade de processos e de propósitos
humanos entre o movimento em prol da liberdade e o movimento em prol de se
assegurar a todos certos direitos ao bem-estar. O próprio socialismo nasceu
dentro da era da liberdade, por se sentir que, somente com ela, não se davam a
todos as mesmas oportunidades como se prometera.» (MIRANDA, 1979:598-99).
Evidencia-se, contudo, a
insuficiência do que se afirma, se promete e se estimula perante o que depois
se realiza, ao longo do mandato, no exercício de funções políticas. Destaca-se,
também, a sobrevalorização de uma ou outra qualidade, princípio ou atitude, em
detrimento da visão, defesa e prática do conjunto axiológico.
Reforça-se, todavia, o
comportamento das boas-práticas no domínio da Deontologia, aplicada à
intervenção política, numa perspectiva profissional, aqui direcionada para a
obtenção de resultados, a favor da comunidade no seu todo, como também em
benefício dos grupos, legalmente constituídos e com provas dadas a favor do
bem-comum, jamais descurando a vertente social.
Alterar, premeditada e
intencionalmente, atitudes, comportamentos e vocabulário, em períodos críticos,
de campanha eleitoral, aparentemente favoráveis ao bem-estar do povo, para
captar o voto dos cidadãos, é como a publicidade enganosa, é um manifesto
desrespeito pela ética que, lamentavelmente, não poupam pessoas, nem
instituições, sejam elas quais forem. Aqui sim, quase se poderia dizer que,
para alguns, “vale tudo”.
Na dimensão religiosa,
que é característica da maior parte das pessoas, ninguém deve “travestir-se”
naquilo que não é, e/ou raramente faz. O que se afigura eticamente correto, é
que cada um assuma a sua ideologia religiosa, sem vergonha, nem preconceitos e,
muito menos, sem os oportunismos do momento.
Nessa linha de
orientação: «(…) cada cristão deve
comprometer-se em intensificar a sua vida evangélica para poder confrontar
permanentemente a sua opção à luz dessa vida, esforçando-se por fazer fermentar
tudo o que ela contém de valores humanos e por repelir energicamente tudo o que
o Evangelho lhe indica como factores ou perigo desumanizantes.» (CABRAL,
1974:55). O político não deve recear a verdade, não deve renegar,
intencionalmente, e por interesse próprio, as suas origens, a sua formação, os
seus valores: éticos, morais, religiosos e estéticos, entre outros.
A Deontologia
profissional assenta como uma luva na intervenção política, mesmo nos domínios
mais melindrosos, que muitos se recusam abordar com receio de perder votos. A
atitude ética, que o povo merece por parte do candidato, é revelar-lhe as suas convicções
políticas, religiosas, sociais e quaisquer outras.
É apresentar-lhe os projetos
e os objetivos, sem subterfúgios, nem linguagem ambígua, que mais confunde do
que esclarece. O povo eleitor estará sempre em primeiro lugar, deve ser
merecedor da verdade, da lealdade e da solidariedade: primeiro, por parte do
candidato; depois por parte do político detentor do cargo para o qual foi
eleito por esse mesmo povo.
Bibliografia
CABRAL, S.J., Roque, (1974). Socialismos, textos cristãos.
Porto: A.I.
ESCRIBANO, Juan José Garcia, (2006). Democracia y
ética in: Comunicação, Cultura &
Cidadania, Campinas SP: Editora Átomo, Vol. 1 (2) julho-dezembro. 2006. Págs.
69-93
MIRANDA, Pontes de, (1979). Democracia, Liberdade, Igualdade: Os Três Caminhos. 2a
Ed. São Paulo: Saraiva. Págs.588-607.
Venade/Caminha –
Portugal, 2021
Com o protesto da minha
permanente GRATIDÃO
Diamantino Lourenço Rodrigues de
Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de
Letras e Artes de Portugal
NALAP.ORG
http://nalap.org/Directoria.aspx
https://www.facebook.com/diamantino.bartolo.1
http://diamantinobartolo.blogspot.com
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