Fátima. Tempo Mariano – 13 de maio de 2021- Diamantino Bártolo

Entre as várias e muitas características do povo português, ainda e por enquanto, maioritariamente católico, é a sua Fé na Virgem de Fátima, a cujo Santuário acorrem, diariamente, em número relativamente significativo, aumentando aos fins-de-semana, tendo o seu expoente máximo nos meses de Maio, Outubro e Agosto, porque se celebram as aparições e no verão é quando se regista o maior número de emigrantes portugueses e peregrinos de outras nacionalidades, respetivamente, com destaque para os brasileiros.
    Os portugueses, na verdade, são um povo crente e o apego a Deus e aos Santos verifica-se a cada momento, nas mais diversas e complexas circunstâncias, de tal forma que, mesmo algumas daquelas pessoas que se autointitulam de não-crentes, agnósticas, ateias e outras posições, algumas das quais de duvidosa consistência religiosa, na verdade e quando em situações de grande desespero pessoal, familiar ou outra, no limite, sempre acabam por pronunciar, pelo menos, o nome de Deus: “Vala-me Deus”; “Deus me acuda”, ou de uma figura santificada: “Nossa Senhora me defenda, proferindo, portanto, o nome da/o santa/o a quem podem ajuda em troco, muitas vezes, do cumprimento de uma promessa.
    Escusado será referir que toda e qualquer pessoa bem-formada, acatadora das ideias, convicções e comportamentos do seu semelhante, a atitude mais adequada é a de total respeito pela religião professada, concordando, ou não, partindo, sempre, do princípio que não existe radicalismo, fundamentalismo e ações violentas, por parte de quem se diz praticante de uma dada confissão religiosa.
    Numa sociedade democrática, na qual a liberdade de expressão e de religião são direitos consagrados constitucionalmente, na respetiva Lei Fundamental, eles, os direitos, devem ser escrupulosamente exercidos, com equilíbrio, moderação e igual respeito pelas posições daquelas pessoas que, não sendo crentes, nem professando nenhuma religião, acatam, contudo, o comportamento dos crentes católicos, neste caso e em geral, mas também de outras confissões religiosas.
    Em Portugal, o Mês de Maio está consagrado como sendo um período “Mariano”, dedicado a Nossa Senhora de Fátima, porque foi em treze de Maio de mil novecentos e dezassete que teria ocorrido a primeira aparição da Virgem aos três pastorinhos: Lúcia, Jacinta e Francisco, na Cova da Iria, em Fátima, para, em Outubro do mesmo ano, nova aparição se ter repetido.
    De então para cá, a Fé, a devoção e o apego à Senhora de Fátima evoluíram exponencialmente, de tal forma que: quer as instalações anexas à Capelinha das Aparições, como o imponente Santuário Mariano, quer as infraestruturas instaladas para acolher os peregrinos, quer as vias de comunicação e acesso, quer, ainda, a indústria hoteleira e de restauração, bem como o turismo religioso, beneficiaram de um incremento jamais equiparável noutras localidades portuguesas, em tão pouco tempo, o que não retira as convicções de quem recorre a Nossa Senhora de Fátima, em situações de maior aflição na vida e/ou para agradecer alguma “Graça” recebida, e isso tem de se respeitar.
    O Mês Mariano em Portugal é de grande veneração a Nossa Senhora de Fátima, praticamente em todas as aldeias, vilas e cidades do país. As peregrinações a Fátima, seja de transporte motorizado, seja a pé, partindo de qualquer recando do país, ou do estrangeiro, são às centenas de milhares de crentes que vão à Cova da Iria para: pagar promessas, pedir ajuda e manifestar à Santa a sua Fé e Fidelidade.
    Quem entra no recinto do Santuário de Fátima, imediatamente sente-se como que num mundo celestial de serenidade, de transcendência, de proteção e de mistério. Os receios da vida como que desaparecem, para darem lugar a uma confiança imensa, uma segurança que nos deixa mais fortes, uma Fé que se renova, à medida que caminharmos para a Capelinha das Aparições e depois para a Basílica. Igual sensação de bem-estar, quando se visita a Igreja da Santíssima Trindade. Enfim, um mundo “Sobrenatural” que nos leva ao recolhimento.
    Maio Mariano, assim poderemos qualificar estes trinta e um dias de Oração, de Fé, de Peregrinação, de tentativa de realização de desejos e cumprimento das promessas. Os crentes, em geral; e os devotos de Nossa Senhora de Fátima, em particular, devem sentir-se orgulhosos, privilegiados, por poderem vivenciar experiências tão íntimas, misteriosas e salvíficas, na medida em que: é uma Graça Divina termos do nosso lado, a Senhora de Fátima.
    Há quem desvalorize, eventualmente, ridicularize estes sentimentos religiosos. Também existem outras pessoas que rotulam os crentes de “ignorantes”, “atrasados mentais”, “superpersticiosos” e outros epítetos que acabam, até, por ser difamatórios, mas que qualificam bem: a formação, a educação, os princípios, os valores, os sentimentos e o caráter de quem os produz.
    Ao longo da História da Humanidade, a religião sempre foi uma dimensão incontornável da pessoa verdadeiramente humana, que a distingue dos restantes seres da natureza e, também é verdade que: mulheres e homens, figuras ímpares, no mundo de milénios de anos, se revelaram de incomensurável importância, pela inteligência, atitudes altruístas, mártires; como também houve quem, pela ideologia maquiavélica, produzisse os maiores horrores do mundo.
    Defender a religião, no respeito pela laicidade de cada pessoa e instituição, é uma atitude que se deve considerar como fazendo parte de uma cultura mais global que, de alguma forma, nos enriquece, espiritual e moralmente, quando praticada com equilíbrio, isenção, convicção e Fé. Não se pode, nem deve defender qualquer tipo de sectarismos, seja ele religioso ou antirreligioso, porque cada pessoa tem, ou não, a sua Fé, as suas crenças e, acredita, ou não, numa vida eterna.
Comemorar o “Treze de Maio”, em Portugal, é festejar o que de mais sublime, misterioso e inefável se pode fazer, sem preconceitos de qualquer tipo de inferioridade, ou superioridade, porque a Fé alimenta-nos o espírito como a ciência nos enriquece a inteligência e nos conduz ao desenvolvimento material, mas estas duas dimensões nos distinguem dos demais animais e, sem qualquer complexo, até se podem complementar, enriquecendo-se, reciprocamente.
    Cabe aqui uma alusão a todas as pessoas que têm a felicidade de, neste dia, comemorar algo de importante nas suas vidas: um aniversário natalício; a realização de um projeto; a obtenção de um emprego; a conquista de um grande amor; a recuperação da saúde; a restauração da felicidade, enfim, que este “Treze de Maio” seja um dia marcante na vida dessas pessoas e que Nossa Senhora de Fátima as proteja, as acompanhe, ilumine suas vidas, suas consciências, suas inteligências, bem como de seus familiares.
    Neste Mês Mariano, nós, os crentes e devotos de Nossa Senhora de Fátima, queremos unirmos aos nossos irmãos em Cristo para, todos juntos, rogarmos que, por interceção da Virgem Maria, possamos viver em fraternidade, sem quaisquer discriminações negativas, uns em relação aos outros, porque em boa verdade, acreditamos que a nossa diferença e, possivelmente, superioridade, em relação à restante natureza: animal, vegetal e mineral, reside, precisamente, nesta misteriosa dimensão que a Fé religiosa nos confere.
    O mês de maio em Portugal e, muito especificamente o dia “Treze” é para ser festejado: crentes e não-crentes, devotos de Nossa Senhora de Fátima, com aquelas pessoas que, não acreditando na sua própria natureza espiritual, tenham a possibilidade, e a boa-vontade de, pelo menos, meditar no Ser Transcendente que nos governa e na santificação de quem já passou por este mundo terreno e deu exemplos de grande abnegação, altruísmo e amor ao próximo.
    Maria, Mãe Redentora, enaltecida neste “Treze de Maio”, profundamente marcado por uma terrível pandemia universal,  protegei as nossas crianças que, neste dia, tiveram o privilégio de nascer; mas protegei, também, todas as outras criaturas: jovens, adultos e idosos; as famílias e amigos; as instituições; sensibilizai todas as pessoas mais velhas, que não são crentes, para que ingressem no caminho que conduz à salvação do espírito, porque para lá do corpo físico, certamente, teremos uma outra natureza espiritual, encantadora, que mais nenhum outro ser, provavelmente, terá. Glorifiquemos, portanto, Maria.

 

Venade/Caminha – Portugal, 2021

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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