O casamento de Dúbio Elegante e Frígida Estonteante é o início do nada, a neutralidade presente desde sempre. A conquista e a descoberta da vida, de novos prazeres sexuais, diferentes pessoas e sabores. O casamento é um fracasso. O sócio mal sabe da falência, maquilada através do sorriso ou da falsa palavra escondendo assim a bancarrota e a navalha.
Elegante e Frígida conheceram muitos países. Percorreram hábitos culturais diversos. Um casal interessante e inteligente. A cultura transbordando em suas vidas; o tempo amigo do espaço e o dinheiro amigo do banqueiro. A falsa imagem de um casal feliz. Imagem não é tudo. A cumplicidade do casal é polvorosa. Padece de mal social, hipocrisia, a mentira e a falsa moral.
Frígida Estonteante é uma mulher linda e maravilhosa. Traços finos, elegante, simpática, simetria perfeita, olhos azuis e cabelos cor de mel, um pote de fel. Um olhar ingênuo e nada inocente. Uma mulher que foge a regra. O cheiro, o jeito, o leve traço da moda de Paris, advogada bem sucedida Frígida é uma mulher de causar inveja em muitas mulheres, deixando homens de queixo caído. Dúbio Elegante é diferente. Homem viril, de muito amor no coração. Talvez fosse esse o motivo que partilhava o excesso de amor em relação extraconjugal. Dúbio foi bem educado, elegante. Ternos e cortes italianos, sapatos italianos, cintos italianos. Moreno alto e forte, olhos da cor do céu e barba rala, um professor universitário de sucesso.
O olhar dissimulado e a mente serena de Dúbio Elegante e Frígida Estonteante sempre foi um porto seguro alçado em outras têmporas. Convictos da inocência alheia, o tempo da maldade nunca se desfaz.
Dúbio e Frígida são felizes. Mesmo não sabendo dos fatos e desconfiando das artimanhas do amor, o casal permanece mascarado. Um falso brilhante.
O tempo e as rugas surgem na aurora da vida. Filhos, netos, um laço de família. A idade chega e a solidão se ausenta. A cumplicidade dos erros e a idade, maximizando o amor, o carinho e a compreensão do casal. As lágrimas da primavera, congeladas, recaem sobre os olhos dissimulados dos errantes, sem pudor dos hormônios extintos e agora esquecidos.
Agora velhos, a margem da idade com o rosto cheio de rugas, o casal encontra as dificuldades da vida final. Sem o brilho dos seus corpos e a sensualidade das suas paixões, o casal envelhece só e mal acompanhado, entre mentiras e verdades, egoísta no amor e fracassados na sinceridade. Um casamento frio, aquecido pelo sentimento de culpa. Felizes para sempre Dúbio Elegante e Frígida Estonteante continuam casados até que a morte os separe. Enquanto esse casamento respira pergunto a mim:
- Alguém conhece esse casal?
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Crônica de Fernando de O. Cláudio, em destaque, na página 21 da 57a Revista Ponto & Vírgula (outubro/novembro/dezembro/2021)
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