Bálsamos para a Felicidade- Diamantino Bártolo

    

    É perfeitamente legítimo, desejável e justo, que toda a pessoa, ao longo da sua vida, se esforce e tudo faça, no respeito pela lei, valores, sentimentos e emoções, para alcançar objetivos que se autopropôs, em ordem a conseguir ser feliz, no conceito de felicidade que tiver, porém, sempre no contexto de uma sociedade civilizada, humanista, solidária e pacífica, onde se possa viver com harmonia, na base da saúde, do trabalho, da família, do amor e da Graça Divina.
    A vida, tantas vezes extremamente problemática; que impõe situações complexas, de dificuldades, mágoas, dor, sofrimento e desgostos; mas também a vida, que de vez em quando, proporciona alegrias, sucessos, esperança e conquista de amizades, verdadeiramente sinceras, leais, solidárias e para sempre; a vida, que, afinal, tudo nos dá e que tudo nos tira, inclusivamente, ela própria, na sua componente física, acaba por morrer.
    A passagem física de cada pessoa por este mundo é, relativamente, fugaz, comparativamente com a idade que o planeta Terra habitável terá, por muito longa que se considere uma vida humana, aceitando-se aqui uma esperança média otimista, no futuro, na ordem, por exemplo, dos cem anos. Um tal período de tempo, de facto, é insignificante, portanto, terá de ser muito bem usufruído, evidentemente, em tudo o que depende da própria pessoa.
    É frequente dizer-se, e será verdade, que: “ninguém tem a vida nas suas próprias mãos” e, com tal assertiva na mente, tomam-se decisões importantes em diversos domínios no: trabalho, negócios, política, organização da própria existência humana, no projeto que se deseja desenvolver em ordem ao sucesso, ao bem-estar pessoal, enfim, à felicidade, segundo o conceito de cada pessoa. Também é verdade que nem todos os projetos são realizados com êxito, mas tudo isto é vida vivida.
    Refletindo, positivamente, sobre a vida, será interessante mencionar a importância de alguns valores, sentimentos e emoções que, com mais ou menos intensidade, influem na sensação de bem-estar, de alguma euforia, de esperança num futuro sempre cada vez melhor, com elementos essenciais ao que se poderia designar por felicidade, a começar na tranquilidade própria de quem está de bem: consigo, família, amigos, colegas, sociedade, mundo e com Deus.
    Um dos “Bálsamos” mais desejados, eventualmente logo a seguir à saúde, poderia ser, por exemplo, a amizade ou, se se preferir, o amor, este considerado nas suas diferentes “tipologias”: filial, paternal, maternal, fraternal, de amigo, neste caso até se poderá designar por: “Amor-de-Amigo”. Este amor, será uma amizade levada ao seu expoente mais sublime, num sentido mais íntimo, aqui com o significado da cumplicidade, do confiar, totalmente, no amigo, tudo o que de mais sensível pode existir em cada pessoa.
    Ao longo da vida, quem é que não deseja ter, pelo menos, um amigo íntimo, no qual se possa confiar totalmente: todas as nossas alegrias e tristezas; sonhos, realizações, amores e desamores; dificuldades, sucessos, enfim, o amigo com quem contamos nas horas mais complicadas da vida, a quem pedimos ajuda ou a recebemos, mesmo sem a pedirmos. Estes amigos não se encontram com facilidade, e quando se consegue um, então é preciso estimá-lo e amá-lo com um sincero “Amor-de-Amigo”, sem reservas, para toda a vida. Este amigo é um “Bálsamo” inestimável.
    A amizade levada a este nível será, porventura, o núcleo mais importante da vida, no qual, e à volta do mesmo: se desenvolvem todas as atividades; desabrocham sentimentos e emoções intensos e inesquecíveis; praticam-se valores verdadeiramente humanos como: a solidariedade, afeição, lealdade, reciprocidade, gratidão e culmina com um sentimento de imensa felicidade, porque sabemos que nunca estaremos sós, desprotegidos, desconsiderados, rejeitados e até marginalizados. O “Amor-de-Amigo” incentiva-nos a viver com entusiasmo, tolerância, compreensão, generosidade e carinho.
    A vida, pouco sentido teria sem princípios, valores, sentimentos e emoções, os quais como que constituem os quatro pilares, entre muitos outros, para que se possa ter uma vivência dinâmica, bem ativa e que se tornam numa autêntica panaceia, para se vencer muitos obstáculos que a nossa existência nos vai colocando, ao longo do seu percurso, mais ou menos distendido no tempo, e no espaço, sendo certo que na idade mais madura, depois do período sénior, o aperfeiçoamento é um facto incontornável. 
    Os bons e os maus momentos da vida ensinaram as pessoas e, em muitos casos, tornam-nas mais sensíveis, mais autênticas, mais prudentes e sábias, na medida em que se chega à conclusão de que determinadas atitudes, valores e sentimentos não fazem sentido, porque realmente a passagem pelo mundo terreno é muito rápida e, das memórias que vamos deixar, interessará perpetuar: sentimentos de amizade, de saudade, de boas ações, em quem vai permanecer “por cá”, mais algum tempo.
    Provavelmente, muitas doenças, talvez possam ser curadas e/ou, pelo menos, controladas com a “medicação” dos valores, dos sentimentos e das emoções, através de um pensamento e comportamento positivos, bem intencionados, dirigidos para o amor, e consolidados na felicidade, esta aqui entendida como sendo um: «Estado adquirido de plenitude subjacente a cada instante da existência (…), um estado de bem estar que nasce de um espírito excepcionalmente são e sereno (…), um estado de sabedoria, livre de venenos mentais e de conhecimento, livre de cegueira sobre a verdadeira natureza das coisas.» (RICARD, 2005.15).
    Eleger o amor, ao máximo das suas dimensões possíveis, poderá revelar-se decisivo, para a felicidade global de cada pessoa, família, grupos de intervenção sócio-política, profissional, religiosos, comunitários, entre outros. Pelo amor e com amor, praticamente tudo se consegue na vida porque: «O amor não é um processo intelectual. É sim uma energia dinâmica que entra em nós e flui todo o tempo através de nós, estejamos nós conscientes desse facto ou não. O fundamental é aprendermos a receber o amor, assim como a dá-lo. Só poderemos compreender a energia envolvente do amor na comunhão com os outros, nas relações, no serviço.» (BRIAN, 2000:64).
    É muito interessante, e também extremamente importante, interiorizar-se o sentimento da amizade, independentemente de a elevar aos diversos níveis do amor, porque ela, efetivamente, poderá ser a chave para a resolução de muitos problemas humanos, na medida em que: «A amizade é a base na qual a consciência grupal é edificada e a cooperação é aprendida e praticada. O sucesso dos esforços de cooperação e consciência grupal depende da qualidade dos relacionamentos entre as pessoas. Sua nação é uma espécie de amizade, sem amizade não há nação.» (SARAYADARIAN in: CARVALHO, 2007:47).
    E se a saúde, família, trabalho, estudo, segurança, conforto e a estabilidade são importantes, sem dúvida alguma; também é verdade que sem amor e sem felicidade, a pessoa humana, provavelmente, não se sentirá realizada, porque ela tem de estar de bem: consigo própria; com o mundo; com Deus. Naturalmente que conseguir congregar valores, sentimentos e bens materiais, numa só pessoa, é muito difícil, mas será possível, pelo menos, o maior empenhamento para que tal aconteça.
    As pessoas e o mundo, ainda que impercetivelmente, e/ou não querendo admitir, a verdade é que quase tudo gira à vota dos sentimentos e, na vasta panóplia destes, o amor é mais congregador do que todos os outros e, sem dúvida, conduz a melhores resultados. 
    Por isso é essencial que: «Alguém precisa de nos encorajar a não pormos de lado aquilo que sentimos, a não termos medo do amor e do sofrimento que ele gera em nós, a não termos medo da dor. Alguém precisa de nos encorajar para o facto de esse ponto mais macio em nós poder ser desperto e, ao fazermos isso, estaremos a alterar as nossas vidas.» (CHODRON, 1997:117).
    É este “Bálsamo”, poderosíssimo, que está no centro da composição dos restantes “Bálsamos” da vida, como os valores da: solidariedade, amizade, lealdade, carinho, consideração, estima, confiabilidade, cumplicidade e da felicidade. Sem amizade, na sua máxima intensidade e nível supremo, que é o amor, nas suas diferentes dimensões, a pessoa jamais se sentirá verdadeiramente digna, um ser superior, num mundo que ainda não conhece totalmente.
    O amor é um sentimento que, quem o possui e o oferece sinceramente, ajuda a resolver a maior parte dos conflitos e dos problemas. É preciso que quem exerce algum tipo de poder e intervenção, tenha amor por aqueles que estão dependentes das decisões dos detentores da influência, esta em todos os níveis da sociedade: da pessoa individualmente considerada, passando pela família, pela empresa, pela política, pela religião, pelo mundo.
    Manifestar e exercer, autenticamente, amor pelo próximo não é nenhuma vergonha, nenhuma fraqueza e, muito menos, qualquer tipo de “lamechice”. Desenvolver e praticar este sentimento, talvez o maior de todos, afinal só revela a superior condição da pessoa humana, porque se é verdade que no restante reino animal se descobrem comportamentos, entre as diversas espécies, que até se podem comparar ao amor humano, é no seio da sociedade, verdadeiramente humana, que este sentimento será estudado, relativamente conhecido e, tanto quanto possível, racionalmente sentido, vivido e conduzido.
    Valores, sentimentos e emoções nobres transportam, inevitavelmente, ao supremo bem que todo o ser humano deseja alcançar na vida, e que é a felicidade, com tudo o que ela comporta: alegria e tristeza; sucesso e fracasso; dor, sofrimento e desgosto; mas também esperança, reconciliação, paz e amor solidário; proteção, benevolência, tolerância, generosidade, lealdade porque: «O homem mais feliz é aquele que não tem na alma qualquer vestígio de maldade.» (PLATÃO, in: RICARD, 2005:156).
    É possível enquadrar a maldade, também, na ausência de valores humanistas, quando entendida numa situação de reciprocidade, ou seja: a pessoa não sendo totalmente maldosa, provavelmente, não será bondosa, quando não reconhece o bem recebido através de valores, sentimentos e emoções, que lhe são dispensados por verdadeiros e firmes amigos.
    Como corolário, para meditação futura, parece interessante deixar-se a ideia segundo a qual: o sentimento do amor, desde logo a começar no “Amor-de-Amigo”, tem uma dimensão que: no respeito, consideração e sinceridade que se deve adotar, em nada será inferior a outros amores, por isso, a comprovação de quem tem o privilégio de saber-se amado com este amor, será através da retribuição sincera, com atitudes de estima, consideração, disponibilidade para, fielmente, estar sempre do lado do amigo que, generosamente, cultiva um amor tão lindo quanto intenso e importante para a felicidade.

Bibliografia

BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Tradução, António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.
CARVALHO, Maria do Carmo Nacif de, (2007). Gestão de Pessoas. 2ª Reimpressão. Rio de Janeiro: Senac Nacional
CHODRON, Pema, (2007). Quando Tudo se Desfaz. Palavras de coragem para tempos difíceis. Tradução, Maria Augusta Júdice. Porto: ASA editores.
RICARD, Matthieu, (2005). Em Defesa da Felicidade. Tradução, Ana Moura. Cascais: Editora Pergaminho, Ldª.

Venade/Caminha – Portugal, 2022

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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