Com o olhar toldado por névoas estranhas
o horizonte seco de sonhos perfeitos,
a fome mordendo, à força, as entranhas
e a boca torcida deserta de beijos...
o homem subiu a íngreme estrada!
Com o rosto gretado por falsos desejos
os braços caídos, o corpo mirrado,
a roupa rasgada, sapatos desfeitos,
as pernas tremendo pisando o destino
e o traço contínuo que a vida traçou
nas curvas da estrada da sua existência...
o homem olhou, parou e voltou!
Com passos incertos, o homem mudou
o rumo da fé, da esperança, dos credos...
e sorvendo do vento o sabor da geada,
gemendo palavras da boca babada...
cheirando da noite segredos e medos
que iam e vinham com as pedras do chão
lançadas pelas garras da sua demência
às ondas de choque da sua ilusão...
o homem desceu a íngreme estrada!
Ao fundo, a cidade, oferecia desejos
luzes néon anunciavam promessas
e o homem, cansado, sorriu e sonhou!
Andou pelas ruas da grande cidade
arrastando o peso da mendicidade ...
sorriso amarelo nos lábios cinzentos
o homem da estrada, o homem sem nome...
acenava e falava aos cães lazarentos.
Procurou um canto, um gesto, um carinho
um rasgo de amor, de solidariedade...
caminhou, caminhou e apenas achou
a dor e o desprezo no fim do caminho
no chão dessa estrada que alguém projectou
e o homem, sem glória, subiu e desceu.
O inverno da vida rendeu o Outono
corria janeiro...e o homem da estrada...
o homem sem nome, cansado e doente,
caiu derrotado pela estrada da vida
à luz duma lua que os olhos mal viam
em céus inventados que não existiam
O homem da estrada,
o homem sem nome
suspirou...gemeu...
e sem choros, exéquias,
nem toque de sinos...
o homem da estrada
na estrada morreu!
Albertino Galvão (abril 2013)
Comentários
Com estima
Abgalvão
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