Da janela observo a praia
E um veleiro a navegar
Vai na brisa que se espraia
Mar azul, a velejar...
Quadro de rara beleza
Lá vai na força do vento
Ganhando mar na leveza
Da junção do firmamento
É rápido o meu olhar
Passo a contemplar apenas
Um ponto branco a acenar
Na linha entre céu e mar
Nas águas calmas, serenas
Fico a olhar o veleiro
Lá no remoto horizonte
balbucio: “Já tão distante!
Como se foi, tão ligeiro..."
Já nem parece um veleiro
Terá quase evaporado?
Ou talvez esteja encantado
Lá no fim do seu cruzeiro...
Passa o tempo assim e penso:
"Talvez além um barqueiro
Também diga: “Já se foi"
(Ao acenar-lhe com o lenço
Numa saudade que doi")
Mas outro em alegria imensa
Talvez diga em voz intensa:
"Olha, aí vem o veleiro!
Tão bonito! Tão ligeiro!"
E assim espontaneamente
Sou levada a compará-lo
Com a morte que na partida
Leva uma carga de amor
Morte que dá seu abalo
Amor que nos é tão caro
Entre o visível e o não...
Some um sentimento raro
“Já se foi” do coração
Terá ele evaporado?
- Não foi isso o ocorrido!
Foi da vista, agonizado
Pelo mar enraivecido
E é assim que analisando
Ao dizer que “Já se foi”
No além, estarão esperando
E algo mais se constrói
Talvez digam "está chegando"
Enquanto pra nós se foi
E nos recebam cantando
Pois nada mais nos destrói!
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