Sou nem mais nem menos,
Que uma gaivota de asas partidas,
Perdida na ilha.
Não tenho espaço,
Nem lar,
Não tenho horas,
Nem tempo.
Existo aqui,
Mais uma sombra a cobrir a calçada,
Olhos perdidos na neblina das montanhas,
mãos estendidas para o mar.
Não tenho horizontes,
Nem o mar me pertence.
Não tenho qualquer ilusão!
Mas amo a ilha,
Gosto de abraçar os jacarandás,
Gosto de passear-me nas avenidas de acácias...
Às vezes abraçam-me as palmeiras,
Ou as buganvílias que cobrem as ribeiras.
Há um til que me segreda palavras verdes,
E às vezes,
Se me passeio pelos canaviais,
Sinto um certo aroma a doçura.
Fascinam-me os socalcos verdes,
As levadas que me servem de espelho,
As avenidas de bananeiras,
O mar à volta de mim.
Muitas vezes,
Medito no negrume do calhau...
Deslumbra-me a imponência dos rochedos,
As grutas respingadas de água cristalina,
Os furados que dão acesso ao outro lado.
Sinto como se partisse para o desconhecido.
Faz-me meditar o nevoeiro tombado do céu,
O luar em noites mornas...
Não sou ninguém.
Existo aqui.
Chamo-me meditação.
1988
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