MENINA DO POVO- Natália Nuno

O cheiro da relva humedecida
A fragância das rosas
O balouço nos ramos da velha arvore
centenária,
tanta e tanta vida!
Ao lado, margaridas mimosas
No balouço uma figura
imaginária.
Um rosto liso na juventude
Foi há tanto
que não
consigo lembrar-me,
como antes... amiúde.
Mas a memória vai ajudar-me!

O tempo cada vez mais me distancia
Da menina descalça no carreiro
E do cantico das cigarras no salgueiro.
E da lua que na noite se perdia.

Ao fim da tarde
Um raio de sol atravessava
As frestas do telhado.

E agora a saudade
Da felicidade que enxergava?
É um rosário delicado.

Misturo-me com as sombras
do crepúsculo ao entardecer
Observo o cair da noite
Ouço o piar da coruja
Já me deixo esmorecer.
Lá em baixo o rio serpenteia
a aldeia
E a água me chega à cintura.

Com ternura,
Lembro, esta recordação vaga,
como quem se embriaga!
Mas este sonho é augúrio especial
Tudo passa aos meus olhos,
tão real.
Amanhã, volto a sonhar de novo
Sorrateira uma lágrima teimosa
A aldeia, o rio, o balouço
E a menina que inda ouço
Menina saudosa
Menina do povo.



rosafogo

 A autora

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