SÃO DIAS TRISTES- Paula Nunes

 Ontem não foi dia de escrever poemas.
nem de olhar o céu,
o sol ao entardecer,
a lua noite dentro…
Não se deu pela nebulosa a envolver as estrelas.
Não houve cor nem cheiros nem sentimentos acrescidos.
Apenas horas a passar
controladas pela agenda das coisas a fazer.
Sem que para isso, fosse necessário
um olhar diferente;
um capricho novo;
um sentido especial.
Tudo igual em todas as horas
de todos os momentos do dia de ontem.
De ontem, além do incómodo de ter sido ontem,
ficou o travo acerbo do vazio.
Dos dias tão cheios de coisas inúteis.
Cheios de urgências mesquinhas
a amesquinharem o sentido da vida.
Dois sentidos, têm quase todas as estradas.
Tão pouco sentido, têm quase todas as vidas.
Ontem, dia de não escrever poemas,
conquistou apenas a condição
de ser um dia antecipado a hoje.
Ter horas e a habilidade de usar a máscara
sublime de um sorriso
a incutir pressa aos ponteiros
na pressa de acabar o dia de ontem.
São dias tristes os dias em que não se escrevem poemas.


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