A simples afirmação: “o nome representa o objeto”, nada explica, efetivamente, embora seja verdadeira, no entanto, tal afirmação, aplicada aos nomes próprios, levanta sérias questões e, uma delas, é saber se os nomes próprios têm um sentido?
Qual a natureza da relação entre o nome e o objeto representado, ou seja, se entre a forma pela qual uma descrição definida isola o seu referente, e a forma pela qual um nome próprio o faz. O nome próprio é, realmente, uma descrição abreviada? Para J. S. MILL, (John Stuart MILL 1806-1873) os nomes próprios não têm sentido, são marcas sem significação, denotam mas não conotam, porque um nome próprio não descreve o objeto, ao contrário de uma descrição definida, e daqui resulta a primeira diferença entre esta e o nome próprio, de resto, este também não admite predicação, pelo que usamos o nome próprio para referir, e não para descrever.
Esta posição, embora pareça correta, ela suscita algumas oposições, ou seja, contra a afirmação de que os nomes próprios não têm sentido, podemos, desde já, apontar três argumentos:
1º - Usamos os nomes próprios em proposições existenciais – “existe um local que se chama África” -, porque toda a afirmação de existência afirma que deve haver uma instância, em que certo predicado é verdadeiro para um objeto, logo, um nome próprio que ocorra numa afirmação de existência, ele deve ter algum conteúdo concetual ou descritivo;
2º - As frases que contêm nomes próprios podem ser utilizadas para fazer afirmações de identidade, que transmitem informação fatual e não somente linguística – “O Everest é o Chomolungma” -, esta frase pode servir para fazer uma afirmação de natureza geográfica, logo, há uma transmissão de uma informação, o que, afinal, dá um sentido ao nome próprio.
3º - O princípio de Identificação, exige que o enunciado de um nome próprio comunique uma descrição, da mesma maneira que o enunciado de uma descrição definida deve fazê-lo, se deseja que a referência seja completa, logo, parece deduzir-se que um nome próprio é um tipo de descrição abreviada, e, por conseguinte, tem um sentido.
Redunda daqui, e desde já, uma conclusão a saber: os nomes próprios são descrições definidas abreviadas, todavia, tal conclusão parece incompatível com algumas verdades evidentes, entre elas:
a) Se o nome próprio fosse uma descrição abreviada, então as descrições poderiam ser utilizáveis como equivalentes, mas em geral não temos definições para os nomes próprios;
b) Se apresentássemos uma descrição completa de um objeto, como sendo o sentido do nome desse objeto, poderiam resultar consequências diversas, como a mudança da significação do nome, sempre que houvesse qualquer modificação no objeto.
A antinomia criada: por um lado, pelo bom senso, em que concluímos que o nome próprio não é uma espécie de descrição, mas uma realidade “sui generis”; e, por outro lado, ao contrário, uma série de considerações teóricas levam-nos à conclusão de que o nome próprio deve ser uma descrição definida abreviada.
Tal antinomia, admite, porém, uma solução ao partirmos da seguinte questão: - Os usos referenciais dos nomes próprios implicam, logicamente, algum tipo de predicados descritivos? -.
Acontece que a caraterística do nome próprio consiste em ser empregado para se referir ao mesmo objeto, em diferentes ocasiões, pressupondo que o objeto permanece o mesmo, ao longo da história, o que implica a identidade do objeto, e de um critério para essa identidade.
Respondendo de maneira mais fraca, poderemos dizer que a todo o nome próprio é associado, analiticamente, um certo termo geral – O Everest é uma montanha -, sendo o termo geral o critério de identidade. Respondendo, porém, de maneira mais forte, poderemos decidir de modo determinante, se um nome próprio tem, ou não, um sentido, no uso que fazemos desse termo.
À luz do princípio de identificação, qualquer um que utilize um nome próprio, deve estar preparado para substituir uma descrição identificadora do objeto ao qual se refere, por um nome próprio.
Se é incapaz de fazê-lo, então não sabia de quem, ou de que fala, portanto, o nome próprio tem um sentido, e a descrição identificadora constitui esse sentido, quando ocorre um termo geral, cuja base é igual para todos os falantes, ou então que a disjunção seja analiticamente associada ao nome a que se refere, sendo essa uma resposta quase-afirmativa à pergunta: “Os nomes próprios têm um sentido?”, considerando naquela resposta a vertente mais forte, ou positiva.
Podemos dizer que os nomes próprios não têm sentido, se utilizados para descrever ou especificar as caraterísticas dos objetos; mas os nomes próprios têm sentido se são, ou não, logicamente ligados às caraterísticas do objeto ao qual se referem.
O nome próprio é uma instituição para realizar o ato de falta de referência identificadora. A existência dessas expressões, deriva da nossa necessidade de separar a função referencial, da função predicativa da linguagem. A referência da predicação nunca pode ser isolada, porque isso seria violar o princípio de identificação, sem o qual não é possível qualquer referência.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do
Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
NALAP.ORG
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