O Êxito: Expectativas. Realidade. Riscos-Diamantino Bártolo

 

    Aguardar com: expectativa, ansiedade, emoção; ou qualquer outro sintoma/sentimento, um determinado acontecimento, um resultado positivo, que se deseja muito, a concretização de uma oportunidade, é um comportamento que, ao longo da vida, qualquer pessoa tem, com maior ou menor intensidade, com mais ou menos serenidade.
    Vive-se num mundo de expectativas, aqui no sentido de previsibilidade de um desfecho, em relação a um acontecimento, a um desígnio, a um desejo, a um final. Cria-se um sentimento que pode conduzir ao sucesso, quando uma pessoa concebe um projeto e, precisamente, passa a ficar dominada por esperanças, quanto ao seu resultado, que pretende seja positivo, um triunfo.
    Será muito difícil que alguém se envolva numa atividade qualquer e fique aguardando, calmamente, sem nenhuma expectativa, o que vai acontecer no futuro. É assim que se compreende que: «A expectativa é um sentimento. Gera as qualidades necessárias para a obtenção da meta, qualidades que penetram no subconsciente e diagramam um modelo. Os teóricos dizem: “Pensem grande, visualizem a grandeza, contem com a grandiosidade e sejam gratos.» (Marcos Bach, in: MANDINO, 1982:175).
   Sempre esperamos algum resultado, uma solução, uma nova situação: seja de um projeto por nós concebido; seja de um acontecimento natural ou provocado pelo ser humano. A expectativa está integrada na nossa constituição biopsíquica, faz parte das nossas reações, e ela: «A expectativa é uma serva da vontade, a vontade é o resultado de um desejo e um desejo é formulado pela força do espírito. Isto está longe de explicar toda a natureza, nem explica por que alguns indivíduos parecem mais motivados espiritualmente ou psiquicamente do que outros. Algumas pessoas reagem mais prontamente a um nível profundo de sentimento, talvez porque sentem a sua recompensa, desejam a sua alegria, sentem o seu desafio ou prevêm o bem do seu carma. (…) A expectativa pressupõe a fé. É a fé mais fé sentida, fé fortificada.» (Ibid.:176).
    Habitualmente, a expectativa é muito maior do que a realização do projeto, ou dos resultados esperados. Poderá ser um erro, derivado de um cálculo otimista, eventualmente, porque o desejo é muito forte, leva a cenários que alimentam grandes esperanças, todavia, é essencial ter-se bem a noção de que conceber, planear, executar e avaliar um projeto, se não houver o máximo rigor e um estudo atualizado da realidade, as expectativas, em relação ao seu êxito, podem ser goradas ou, então, não corresponderem, totalmente, ao que se desejava.
    Alimentar esperanças, contra uma realidade que é adversa ao sucesso de um determinado projeto, situação, evento ou qualquer outro facto, dos quais se esperam resultados muito favoráveis, pode conduzir à frustração, ao abatimento e ao abandono de futuros planos, como à não-participação em atividades que, supostamente, até poderiam ter algum sucesso.
    Mas também é verdade que sempre existe a possibilidade de “remar contra a maré” e, quem sabe, vencer: «Evidentemente, há uma determinada espécie de corrente divina pronta para nos levar através de certas fases da vida e, quanto mais a percebermos e a ela nos entregarmos, em melhor situação estaremos. Mas quem tem a coragem de acreditar nela, a audácia de esperar por ela, a sabedoria de entendê-la, ou a prudência de estar de acordo com ela?» (Ibid.:179).
    Qualquer pessoa tem esperanças na vida: seja em relação a si própria; à família, aos amigos, às instituições. As expectativas como que são o motor da criatividade, e respetiva implementação dos inventos, entretanto esboçados. Acredita-se mesmo que: «As pessoas verdadeiramente de sucesso sempre se agarram às grandes expectativas, mesmo que possam esconder um pouco, (…). Homens corajosos, embora receosos, nunca têm medo de ter medo. (…). Nós nos agarramos à verdade e à técnica da expectativa naqueles raros momentos em que somos provocados por uma consciência de direção aparentemente mais alta e maior do que a nossa, (…). Confiantes e livres, cheios de assombro e pronta aceitação, nos permitimos ser dominados pelo nosso eu inquestionável.» (Ibid.).
    Na evolução das expectativas, também se pode constatar que, paralelamente, para as alimentar e reforçar, uma fé, por vezes inabalável, se vai formando, a esperança em que algo de bom aconteça, por vezes, é quase uma certeza, quanto a alcançar o sucesso, porque o desejo é intenso, o trabalho foi rigoroso, e/ou o facto natural, não terá sido tão grave, como se poderia prever.
    Por isso mesmo: «Se acharmos que estamos designados ao fracasso, talvez seja porque sabemos que somos designados para o sucesso. Nossas expectativas negativas são as nossas determinações positivas extraviadas, mas não de todo. Retornamos à fórmula: esperança é uma questão de sentimento, sentimento é um servo da vontade, a vontade é o resultado de um desejo e o desejo é formulado pela força do espírito.» (Ibid.:181).
    Quando se eleva demasiado o nível das expectativas, face a uma realidade que é, razoavelmente, conhecida, pela negativa, os riscos de fracasso e frustração, são maiores, portanto uma análise prévia, bem estruturada, a partir do espaço e tempo disponíveis, nos quais se pretende desenvolver uma atividade, é fundamental, até porque: «As pessoas não mudam quando se sentem bem. Mudam quando estão aborrecidas. Quando tudo está indo bem, nossa tendência é fazer muito mais do que estamos fazendo. O sofrimento nos impele para aqueles pontos cruciais e decisivos … estamos sofrendo, então finalmente escolhemos. É o advérbio finalmente. Quando chega, chega» (Tom Rusk & Randy Read, in: MANDINO, 1982:185).
    É verdade que a resistência à mudança é uma característica do ser humano, como igualmente se pode afirmar que a resiliência também é uma qualidade da pessoa, que até pode melhorar, em função das circunstâncias, todavia, de facto, o que mais predomina é um certo comodismo, principalmente quando tudo parece “certinho” e “seguro”, seja na vida pessoal, familiar, profissional, social, institucional, cívico-cultural e político-económico.
    As pessoas tanto cometem atos heroicos, por vezes inconscientemente, como se remetem à indiferença. Com efeito: «Nós humanos nos entregamos com muita frequência à covardia de sermos “cuidadosos” demais, de nos vendermos por uma promessa de segurança. E nos enganamos. (…). Por incrível que pareça, muitas pessoas mantêm seus velhos estilos de vida, seus hábitos, mesmo se se sentem infelizes, solitárias, entediadas, inadequadas ou maltratadas. Por quê? Naturalmente … porque o hábito é um lugar fácil de se esconder.» (Ibid.: 186-87). 
    É preciso pensar que, mesmo no remanso dos hábitos inofensivos e comodistas, por vezes também se correm riscos, desde logo uma certa estagnação intelectual, psíquica, física, ou de qualquer outra natureza, conforme a situação de cada pessoa. 
    Restam poucas dúvidas que, seja qual for a conjuntura: «A vida tem seus riscos inevitáveis. Há uma chance de risco toda vez que respiramos. Ataques cardíacos, acidentes de carro, taxa de imposto, problemas comerciais – toda espécie concebível de notícias ruins está aguardando para abater-se sem aviso sobre nós. Portanto, não é fácil para nós humanos participarmos do jogo da vida. É um equilíbrio difícil.» (Ibid.:187).
    Quantas vezes nossas expectativas ficaram aquém, ou nem sequer se realizaram, porque imponderáveis da vida a isso conduziram. Possivelmente nem sempre avaliamos os riscos com o maior rigor e os projetos correram mal. Certamente que os fenómenos humanos: psicológicos, intelectuais, físicos, patológicos e de outra natureza; bem como os acidentes naturais, nos impediram de avançar para o sucesso. Neste emaranhado de circunstâncias possíveis, a acomodação surge como uma tábua de salvação ou, se se preferir, um projeto com poucos ou nenhuns riscos.
    A vida humana é relativamente curta para ser desperdiçada. A pessoa dotada de capacidades, conhecimentos, experiências e sabedoria, não vai acomodar-se, até porque ela sabe muito bem que: «Correr risco é a parte principal da “cura”, portanto não espere que de alguma forma você será capaz de evitá-lo. A capitulação crônica ao medo apenas assegura a mediocridade. (…) Portanto, explore e experimente. Procure o equilíbrio entre arriscar-se de modo suicida de um lado e fugindo dos riscos de outro.» (Ibid.:189).
    Se procuramos o sucesso em nossas vidas, o comodismo é incompatível com os resultados positivos que desejamos, porque: «Ter sucesso significa viver corajosamente cada momento e viver o mais intensamente possível. Ter sucesso significa coragem de fluir, lutar, mudar, crescer e todas as demais contradições da condição humana. Ter sucesso significa ser autêntico para si mesmo.» (Ibid.:195).

Bibliografia.

 

MANDINO, Og., (1982). A Universidade do Sucesso. 2ª Edição. Tradução de Eugênia Loureiro. Rio de Janeiro, RJ/Brasil: Editora Record.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

NALAP.ORG

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