Eu sou muito terra a terra
Eu, que também sei voar
No pensamento, além serra
Vou de lugar em lugar
Eu sou muito terra a terra
Gosto de a verdade usar
Só para evitar a guerra
Posso factos ocultar
Eu sou muito terra a terra
Sem vaidades a marcar
Nesta vontade que encerra
Da singeleza mostrar
Eu sou muito terra a terra
Eu também sei ripostar
Contra injustiça que berra
Para justiças calar
Eu sou muito terra a terra
Talvez chegue a importunar
Quando eu uso, como serra
As palavras, pra cortar
Eu sou muito terra a terra
Mas também sei perdoar
Eu não sou peça que emperra
Porque eu também posso errar
Eu sou muito terra a terra
Sou difícil de alterar
Só esse mal que me aterra
Me pode vir a mudar
Eu sou muito terra a terra
Sou fácil de interpretar
Quem me achar ingrata erra
Gratidão não vou negar
Eu sou muito terra a terra
Numa constância vulgar
Que em mim sempre se ferra
Neste modo de versar
Eu sou muito terra a terra
Eu, que também sei sonhar
Quando o nevoeiro descerra
Eu vejo o sol a brilhar
Teolinda Marreiro
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