Experiência e Teoria na Equipa de Trabalho- Diamantino Bártolo

  

 
É muito importante, e desejável, que todas as pessoas bem-formadas pretendam alcançar o poder, ou que através dele executem projetos: em favor da melhoria das condições de vida individuais, familiares, comunitárias e universais, porque só assim se poderá atingir um nível social, económico e de bem-estar próprios do ser humano, verdadeiramente digno, justo e feliz, na medida em que, através de outros processos e recursos, designadamente ditatoriais e bélicos, agravam-se, cada vez mais, as já difíceis condições de sobrevivência que, em algumas comunidades, tocam os limites da miséria e da desumanidade.
    Têm vindo a atravessarem-se tempos problemáticos e difíceis: 2008-2015; 2020-2023, cujas responsabilidades cabem a todos em geral, evidentemente em proporções devidamente escalonadas, em função dos diversos papéis que cada pessoa exerce na sociedade, o que implica, maior ou menor culpabilidade, sendo certo, todavia, que quem detém poderes de: deliberação, execução e fiscalização terá de assumir um maior ónus das situações, até porque, quem defende e pratica radicalismos, sejam quais forem, e invoquem teorias e valores fundamentalistas, então, o comprometimento é bem mais grave.
    Seguramente que quem sustenta, e aplica no seu dia-a-dia, o bom-senso, estará, porventura, no caminho certo, porque nada funcionará sem harmonia, sem equilíbrio, sem moderação, porquanto, agora mais do que nunca, se necessita de: «Coexistência e harmonia (…). Deve haver equilíbrio em tudo. A natureza está em equilíbrio, os animais vivem em harmonia. Os seres humanos ainda não aprenderam a fazê-lo. Continuam a destruir a si próprios.» (BRIAN, 2000:137).
    Na conceção de um projeto que vise alcançar o poder, é fundamental, como primeira medida, constituir uma equipa que ofereça garantias de moderação, de compreensão das situações e resolução justa das mesmas e, tanto quanto possível, favorável às vítimas de situações complexas, tal como para nós desejaríamos. Quem exerce um qualquer tipo de poder, tem a obrigação de ser equitativo, tolerante e solidário, porque de facto: «As pessoas terão de compreender que somos todos iguais, que somos todos o mesmo, que todos nós lutamos por um pouco de paz, de felicidade e segurança no nosso quotidiano.» (Ibid.:140).
    Parece legítimo que cada ser humano queira dar o seu contributo, através do exercício do poder, para se (re) construir um mundo melhor, a partir de cada pessoa, de cada família, de cada instituição e da sociedade global. Mas é necessário haver, desde logo, por parte dos líderes, um grande cuidado na escolha dos elementos da sua equipa devendo, tanto quanto possível, aperceber-se das qualidades, valores, sentimentos, emoções, experiência, situações negativas passadas, maturidade e disponibilidade dos respetivos elementos, considerando, sempre, como critério essencial, a exclusão de quem procura o poder para exibição, ostentação de uma feira de vaidades, ajustes de contas e outras intenções inconfessáveis, antecedentes, consequências e práticas inaceitáveis, verificadas na vida de um candidato ao poder.
    A constituição de equipas, para determinadas instituições e cargos, revela-se, muitas vezes, de extrema complexidade, precisamente porque a ânsia: de notoriedade, de protagonismo e vaidade, sobrepõe-se aos legítimos interesses de quem vai estar sob a alçada deste poder, seja ele de que natureza for: político, religioso, militar, instituições, empresas e quaisquer outros.
    O líder tem de se rodear de pessoas simples, equilibradas, prudentes, humildes e, se exequível, sábias, que realmente saibam o que é a vida real: fora da proteção dos progenitores, dos padrinhos, das universidades, dos apoios sociais. O líder deve ter o cuidado de escolher pessoas que tenha códigos de ética e deontológicos, bem definidos, esclarecidos e demonstrados, que saibam avaliar as dificuldades de quem nunca foi protegido, beneficiado e privilegiado.
    Os membros de uma equipa de trabalho, com funções executivas, de legítima e legal autoridade democrática, para o exercício do poder, ao utilizarem os seus conhecimentos teóricos, devem: primeiro, verificar se eles são aplicáveis a uma determinada realidade, a um bem identificado público-alvo; depois, saber adaptar, se valer a pena, tais conhecimentos e informações, sempre com a consciência plena, de que tudo estão a fazer para produzir os melhores resultados, porque com a vida das pessoas não se podem fazer experiências, aprendizagens irresponsáveis, apenas para tentar “mostrar serviço”, e/ou agradar ao líder, na mira de mais uma promoção, mais um privilégio.
    Uma equipa de trabalho, habitualmente, tem uma liderança, que responde hierárquica, e/ou publicamente, muito embora deva existir solidariedade e corresponsabilização nas medidas tomadas, nos atos praticados e nas consequências verificadas. Por isso, cada elemento deve assumir as suas funções com rigor, competência, permanente atualização e ética nos diversos domínios da sua profissão, porque: «A consciência plena é a prática de estarmos cientes do que estamos a dizer e a fazer. Quanto mais conscientes estivermos dos nossos pensamentos, palavras e ações, mais concentração desenvolveremos.» (HANH, 2004:24).
    Assiste-se, com alguma frequência, a uma luta, quase titânica, para ocupação de determinados lugares, na constituição de uma equipa de trabalho, em atividades que se sabe, facilitam, desde logo, uma projeção individual na sociedade, com inerentes benefícios remuneratórios, estatutários e socioculturais. 
    Pelo contrário, por vezes, para se conseguir “meia-dúzia” de pessoas, para assumirem funções em certas instituições é preciso pedir-lhes por favor e, mesmo assim, nem sempre se consegue, obviamente, porque tais organizações não acrescentam prestígio, influência e riqueza. Daqui decorre, por exemplo, a crise no associativismo amador, os cargos exercidos “por amor-à-camisola”.
    É notório que a experiência adquirida na “Universidade da Vida Real” é muito importante, não a única, para se saber analisar, e resolver situações que afetam as pessoas. Independentemente dos títulos académicos, que naturalmente são valorizados, honoríficos e sociais, o grau de “Doutor” com especialização em “Experiência de Vida Complexa e Responsável” é, igualmente, muito útil, para se ter mais possibilidades de governar bem uma instituição, uma comunidade, um povo, de resto, já reza a velha sabedoria popular: “Quem não sabe obedecer, não sabe mandar”; “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”; “Nunca sirvas a quem não soube servir, nem peças a quem foi ingrato”.
    O exercício de funções executivas, ou de grande simbolismo, ou ainda de uma atividade, cujos profissionais, têm de tomar decisões, das quais, muitas vezes, depende o futuro de uma pessoa, de uma família, instituição ou de uma comunidade, supõe, realmente, pessoas muito equilibradas, humanas, que tenham conhecimento direto da vida real, seria conveniente que fosse assumido por pessoas a partir de uma certa idade. A título de exemplo, destaca-se, o exercício das funções de Presidente da República, cuja idade mínima, para o exercício do cargo, é constitucionalmente estabelecida, para pessoas com mais de 35 anos de idade, ou de juízes, de cujas decisões depende o futuro de uma pessoa, de uma família, de uma empresa e até de uma comunidade inteira.
    Exercer funções executivas públicas, (não se invoca a maturidade em função da idade, nem outras qualidades, as quais se encontram em idades ainda jovens como, eventualmente, não se verificam em idades mais avançadas) aconselha, portanto, uma certa cautela, até porque antes de se chegar a tais responsabilidades, há muitos outros cargos que até podem servir de preparação. 
    Ser o primeiro de uma lista, para quaisquer atividades públicas, deveria pressupor que tal candidato já exerceu funções, próximas do cargo para que se candidata, por exemplo, assessor, adjunto, colaborador, membro de assembleias deliberativas e outras ocupações similares. Em tudo na vida deverá haver uma teoria, uma aprendizagem, uma prática que confere alguma experiência, se se quiser. “a escada da vida”, a qual se deveria subir a “pulso”, sem “redes”. É aqui que reside o mérito e a segurança de quem vai depender dessas pessoas, quando elas atingirem o cume das suas carreiras.


Bibliografia.

BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, Alegria e Paz Interior. Tradução, António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.

HANH, Thich Nhat, (2004). Criar a Verdadeira Paz. Cascais : Pergaminho


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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