Abraços- Ada Abaé

Senti-me abelha no inverno
e hibernei. Entendi o convite do urso
que vive, não muito longe daqui,
e aninhei-me confortável no seu pelo macio.
Ele grunhiu carinhosamente
e mais carinhoso ainda
abraçou-me e deixou-me ficar quieta
dentro das suas enormes patas.
Prometeu-me que esse abraço 
duraria até chegar a primavera.

Precisei do abraço do urso;
necessitava de ser abraçada
por alguém que soubesse abraçar sem olhar o relógio
e sem ir além do abraço. 
O abraço é um continente gigantesco,
com margens que o separam de outras intenções.

São fronteiras quase impercetíveis 
mas quando é ultrapassada a terra do abraço
entramos em terrenos muito diferentes.









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