Portugal. Camões e as Comunidades Portuguesas.- Diamantino Bártolo

    Provavelmente, e de acordo com processos mais evidentes, Portugal tem sido, ao longo da sua quase milenar História, como país independente, um impulsionador de valores civilizacionais, divulgados, ainda, no século XV, por todo o mundo e, naturalmente, nos espaços territoriais que, em menos de um século, viria a ocupar, como consequência dos descobrimentos marítimos, e que naqueles deixaria marcas indeléveis, a principal delas, a língua. 
    De Ceuta a Timor, da Índia ao Brasil, sempre haverá alguém que ainda conhece e fala o português, mesmo que um pouco distorcido, devido a sotaques e vocábulos dos autóctones que, naturalmente, têm prevalecido e se deseja que não se percam, embora se continue a defender, como língua oficial, aquela em que Camões se imortalizou no célebre poema universal – Os Lusíadas -, que, de alguma forma, é estudado nas Comunidades dos Povos de Língua Portuguesa. Esta dimensão da língua portuguesa, será motivo para outras abordagens.
    Conhecem-se os reflexos migratórios dos portugueses no século XIX e início do século XX para uma das mais importantes ex-colónias, o Brasil, que à época teria acolhido centenas de milhares de portugueses, por vários motivos, que nunca tiveram dificuldades de integração naquele país, bem pelo contrário, de resto, ainda hoje, os portugueses e Portugal beneficiam de facilidades diversas, relativamente evidentes, comparativamente com outras ex-colónias, acreditando-se que a partir de um passado muito recente, a situação possa vir a melhorar, principalmente devido à alta qualidade de mão-de-obra portuguesa. 
    Pouco se tem progredido nas dimensões culturais, eventualmente, por dificuldades diversas, excetuando-se a manutenção da língua portuguesa, cultura, história, artes, tudo o resto funcionara como países terceiros à União Europeia, o que se considera injusto e até imoral: injusto porque nem sempre existe reciprocidade do lado português, relativamente a determinadas facilidades concedidas pelas ex-colónias; imoral porque Portugal teria o dever de dar melhor acolhimento aos nacionais dos países da CPLP, uma vez que estabeleceu com eles um tratado, aliás, veja-se o “Tratado de Amizade e Cooperação entre o Brasil e Portugal de 2000” assinado em Porto Seguro em 22 de Abril de 2000 e que, ao que se comenta, tem vindo a ser de difícil aplicação, designadamente na legalização de cidadãos lusófonos, em Portugal. Igual atenção deverá ter para com os imigrantes, refugiados e perseguidos, oriundos de países que, em tempo, acolheram os nossos emigrantes com carinho e respeito, para além de lhes concederem trabalho e as regalias sociais, tais como os nacionais desses países. Felizmente, há vários indícios que Portugal estará a reestabelecer as melhores relações possíveis, com as suas ex-colónias. Ainda bem que a Gratidão chegou.
    E se a União Europeia: é um espaço com mais de quinhentos milhões de habitantes, distribuídos por vinte e sete países, todos concentrados num só continente; a Comunidade de Povos de Língua Portuguesa, tem mais de duzentos e oitenta milhões de falantes da língua de Camões, dos quais cerca de duzentos e treze milhões, são brasileiros, e os restantes distribuídos por todos os continentes, o que é uma mais-valia histórica, cultural, religiosa e até mesmo arquitetónica. 
    O mercado constituído pelas ex-colónias, aquele ao qual se virou as costas, por causa do sonho europeu, pode ser uma parte da solução, porém, a CPLP – Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa, já deveria ter sido e considerada como um bloco económico, equivalente à União Europeia, do qual, Portugal seria membro de pleno direito.
    E se por um lado, o mundo ainda sofre as consequências de uma terrível pandemia, denominada COVID-19, a qual, e tanto quanto se sabe, terá atingido cerca de 175 países, ex-colónias portuguesas, igualmente, afetadas. Por isso, agora mais do que em qualquer outra época, é necessário que não faltem: solidariedade, coesão, entreajuda e atribuição de meios, se e quando os houver, como são os medicamentos e as vacinas. Portugal, tem de demonstrar, uma vez mais, que continua a ser o país humanista, que as suas ex-colónias e os seus parceiros político-comerciais, sempre reconheceram. 
    Por outro lado, o mundo confronta-se, agora, com uma outra calamidade, com dimensões regionais que podem, provavelmente, propagar-se mundialmente, qual nova e terrífica pandemia, esta de natureza bélico/nuclear, a partir da invasão da Ucrânia pela Rússia. Iniciado este ataque desumano, criminoso e ilegítimo, em 24 de fevereiro de 2022, os combates prosseguem e, em algumas localidades, corpo a corpo.
    Na Ucrânia, aldeias, vilas e cidades já foram praticamente destruídas. Centenas de milhares de pessoas: mulheres, crianças, jovens, idosas e até animais de estimação e de produção/trabalho, foram dizimadas, pelos bombardeamentos russos. Os nossos irmãos ucranianos não têm as mínimas condições para desfrutarem de algum conforto, na medida em que: a fome grassa, a água, os alimentos, a eletricidade e as infraestruturas já não satisfazem as populações. 
    Os prisioneiros de guerra feitos pela Ucrânia estão a ser julgados com todas as garantias jurídicas de defesa, pelo contrário, os prisioneiros de guerra ucranianos, não têm quaisquer certezas sobre o destino que lhes possa estar reservado, a partir de uma colónia penal sob domínio russo: tanto podem ser condenados a prisão perpétua; como sumariamente executados, eventualmente, incluindo os doentes e feridos de guerra.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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