LÍDERES COM AUTORIDADE DEMOCRÁTICA- Diamantino Bártolo

     

    A vida física de cada ser humano é muito limitada no tempo, mas, incomensuravelmente valiosa e, quanto mais não fosse, bastariam estas realidades, indesmentíveis, para que cada pessoa, cada família, cada grupo, utilizasse, de forma construtiva, inteligente e agradável, este pouco tempo que têm, de passagem por um mundo, que não pertence a nenhum mortal. 
Só as obsessões, próprias da teimosia, do orgulho inflamado, da arrogância e da prepotência, é que possibilitam comportamentos tão desestabilizadores, quanto injustos e prejudiciais à tranquilidade, harmonia e paz sociais.
    A estabilidade que conduz a uma determinada paz, equivalente ao marasmo ou à acomodação, obviamente que não interessa, na medida em que prejudica o desenvolvimento, a troca de conhecimentos, de experiências, de ideias e de opiniões. Uma estabilidade sem progresso, sem debate, sem democracia, seria própria de uma monopartidocracia qualquer. 
    Não é isso que se está a defender aqui, mas, bem pelo contrário, uma estabilidade dinâmica, que se credibiliza pela evolução, isto é: cada meta alcançada e ganha, a favor da comunidade, deve ser consolidada; fixados os seus resultados, a partir dos quais se avança para novos objetivos; caminhando sempre para um valor-ideal, o da perfeição, conscientes, porém, que jamais será alcançado, embora, persistentemente buscado.
    O confronto de ideias, a utilização recíproca de conhecimentos e experiências, sem recurso a ‘bodes expiatórios’, aproveitando os erros do passado, para com eles se aprender ou, pelo menos, a não repeti-los, e conjugando as sinergias de todas as pessoas e grupos de boa vontade, parece uma boa metodologia, para apaziguar ânimos mais exaltados, compreender as razões pelas quais certos factos aconteceram, e determinadas pessoas, e/ou grupos, tiveram comportamentos diferentes dos esperados. 
    Nem sempre o que parece é e, em política, como em religião, entre quase todas as restantes atividades, e como em tudo na vida, tal como se aplica, através do aforismo que nos transmite a ideia, segundo a qual: “à mulher de César, não basta parecer; é preciso ser”, na circunstância, é necessário parecer e ser, por exemplo, honesta ou, numa outra situação e interveniente: “não basta parecer sério; é preciso ser sério”.
    No contexto da governação política, poucos valores são tão importantes como a estabilidade, não significando que seja este o único, e o mais privilegiado valor, numa hierarquia axiológica, ou no quadro das referências ético-políticas. Em democracia é muito difícil governar, devido, justamente, à instabilidade provocada na luta política pelo poder. 
    Os interventores políticos têm dificuldades em separar a dimensão pública da cidadania, da dimensão privada dos adversários, recorrendo, quantas vezes, acreditando-se que sem intencionalidade ofensiva, ao insulto, à ingerência na vida particular do concorrente, na família, na atividade profissional, tudo vasculhando para denegrir e eliminar o opositor político. 
    A estas práticas, normalmente, adiciona-se: uma linguagem complexa, por demasiado perita, por excessivamente ambígua; também pela circularidade dos desenvolvimentos temáticos, vislumbrando-se, eventualmente, algumas técnicas ‘tautológicas’, um certo “cinzentismo”, que nada afirma e nada nega, mas que poucos entendem.
    A estabilidade social, no seio de uma comunidade, como são os aglomerados populacionais, da maior parte dos Concelhos Portugueses, consegue-se, portanto, a partir dos comportamentos modelares dos dirigentes, através de uma comunicabilidade assertiva, que se caracteriza, por uma: «Comunicação transparente, através da qual as pessoas expressam necessidades, pensamentos e sentimentos, de forma clara, honesta e direta, respeitando o direito dos outros. (…) A comunicação assertiva é o estilo que possibilita SER e PARECER, pois suas características estimulam uma comunicação transparente, honesta, objectiva e de mão dupla. A pessoa que adopta a comunicação assertiva consegue estabelecer as duas direcções que flexibilizam e dão equilíbrio à sua relação com o outro: influenciar e ser influenciado.» (MARTINS, 2005:16, 28, 48, 50).
    A estratégia, normalmente, utilizada por regimes prepotentes, passa pelo recurso a várias ‘técnicas’, como por exemplo: lançar a divisão entre os que se pretende governar; pelo obscurantismo e desinformação da população; pela hipocrisia envolvida em lamúria e tristeza, por situações conhecidas, entre outras.
    Felizmente, neste primeiro quarto do século XXI, têm vindo a implementarem-se, e a consolidarem-se, instrumentos políticos, os quais se revelam propícios à eliminação de tais sistemas políticos, embora, ainda, sem resultados evidentes, sendo a Democracia, atualmente, um valor frágil, mas essencial ao exercício pleno da cidadania. 
    Hoje, pretende-se que se formem verdadeiros líderes, no sentido profundo da Democracia, da comunicação e do comportamento assertivos. É não só desejável como imperioso a prática do diálogo democrático-assertivo, de elevado nível, e no respeito pela dignidade dos interlocutores, independentemente das suas posições.
    Atualmente desejam-se líderes com autoridade democrática. Adotando, portanto, alguns princípios e valores de liderança assertiva, num contexto de sinceras relações humanas, é possível viver com estabilidade, até com amizade e simpatia, na medida em que: «As relações sociais são cruciais para o desenvolvimento do indivíduo. Um corolário é que apenas através da experiência de outras pessoas podemos aprender a fazer frente a outras pessoas e compreendê-las, e isto, evidentemente, pressupõe que permitamos às nossas mentes permanecer abertas e que estejam preparadas para reconsiderar nossos próprios pontos de vista, quando estes forem questionados por outros.» (WILLIAMS, 1978:95).
    A paz social, proporcionada por uma estabilidade dinâmica, no conceito democrático-assertivo, deve constituir um dos primeiros objetivos a ser garantido, rapidamente alcançado e consolidado por qualquer líder, nas diferentes atividades socioprofissionais, importando, aqui, a dimensão política. 
    No espaço físico-territorial dos Municípios Portugueses, obviamente que os Presidentes das Câmaras Municipais e os Presidentes das Juntas de Freguesia, politicamente considerados como as máximas autoridades civis locais, são os líderes que devem constituir-se em paradigmas dos valores genuinamente humanos, tais como: o respeito pelo seu concidadão; pela dignidade da pessoa humana; a tolerância, a solidariedade, a humildade democrática e tantos outros.
    Os líderes locais devem simbolizar a autoridade democrática, a garantia da estabilidade social, os dinamizadores do trabalho em equipa, quaisquer que sejam as tarefas, com objetivos inequivocamente comunitários, os moderadores de conflitos, solucionadores de problemas e das dificuldades, enfim, devem ser os garantes de uma genuína e insofismável paz social, num clima de liberdade, de empatia, de relações humanas assertivas, de sincera amizade, ajudando a construir uma comunidade de valores, verdadeiramente solidária e coesa.
    A estabilidade dinâmica é a palavra-chave para o êxito dos líderes, quaisquer que sejam os níveis do poder que ocupam. A segurança pode conseguir-se pela generosidade, pela humildade, pela compreensão, pela entreajuda, pela tolerância e pelo respeito pela pessoa humana. É impossível liderar-se e pretender-se a paz e coesão pela “força violenta das armas”, considerando-se aqui, como armas, por exemplo, o insulto, a humilhação, a perseguição e todos os métodos que violam os mais elementares direitos humanos.

Bibliografia

MARTINS, Vera Lúcia Franco, (2005). Seja Assertivo – como ser direto, objetivo e fazer o que tem de ser feito: como construir relacionamentos saudáveis usando a assertividade. Rio de Janeiro: Elsevier

WILLIAMS, Michael, (1978). Relações Humanas. Tradução, Augusto Reis. São Paulo: Atlas

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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