O poder democrático, ao serviço do bem-comum, que o mesmo é dizer, do povo, independentemente dos estatutos individuais, pode constituir um chavão eleitoral, uma utopia, ou uma promessa demagógica em campanha política. O título em destaque seria suscetível de interpretação político-partidária se não se esclarecesse que o termo “socializante” é aqui utilizado na dimensão social do homem, da comunidade e do poder.
Exercer o poder democrático, sem preocupações sociais, também aqui considerando as diversas vertentes da socialização, designadamente: cultura, educação, religião, trabalho, saúde, formação, entre outras, revelaria, por parte de quem o exerce, a grande insensibilidade, e constituiria uma inaceitável injustiça, que não se coadunam com os valores da democracia, entre estes, a liberdade, a igualdade e a fraternidade, até porque o homem é um ser naturalmente social, e não teria condições para viver à margem da sociedade, mesmo que em certas situações pudesse estar muito afastado das normas, regras, condutas e valores societários.
Os titulares do poder: civil, miliar, político, empresarial, religioso, bem como quaisquer outras formas de domínio, serão sempre os primeiros responsáveis pelas boas ou más práticas, no exercício das respetivas funções. Nesta perspetiva, devem preocupar-se com a sua própria formação, e também cultivar um espírito de serviço público social, obviamente, sem prejuízo dos objetivos e finalidades da instituição que dirigem, no contexto da sociedade em que se inserem, porque o poder democrático socializante, no sentido já definido, é compatível com quaisquer atividades, inclusivamente, no âmbito militar, principalmente em tempo de paz.
Se se considerar que toda a pessoa sempre exerce algum tipo de poder, público ou privado, incluindo-se aqui na própria família, rapidamente se pode verificar que, utilizando-se princípios de: sabedoria, prudência, moderação, compreensão, tolerância, respeito e responsabilidade, os resultados serão favoráveis para todos os intervenientes.
Comportamentos sociais, democráticos, virtuosos, estes no sentido da objetividade, das realidades existentes e no relacionamento interpessoal, podem estabelecer a diferença entre: a construção de uma sociedade moderna, humanista, motivada e disponível para abraçar as grandes causas, na prática de atos altruístas; e uma outra sociedade cujos dirigentes enveredam pelo autoritarismo, pela prepotência, pela perseguição e eliminação político-social dos que, ideologicamente, se lhes opõem.
O poder totalitário, persecutório e ditatorial, muito dificilmente reunirá condições que contemplem a maior parte das diversas vertentes sociais: da educação à formação; da cultura ao lazer; da saúde à habitação; do emprego à reforma; da religião à axiologia. Estas práticas despóticas, também se verificam ao nível de muitas instituições, inclusivamente, daquelas que até têm uma natureza religiosa, de solidariedade social, cultural, desportiva e outras similares.
Importa, portanto, destacar as virtualidades do poder democrático, obviamente, sem perda da autoridade que lhe é devida e até vantajosa, aceitando-se a orientação segundo a qual:
«A ordem social não pode ser mantida sem autoridade, mas esta não significa força bruta, porque a força bruta é apenas manifestação excepcional de autoridade e não pode ser permanente. (...) Autoridade pessoal é baseada nas qualidades do indivíduo, no seu magnetismo às vezes extraordinário, nos dotes pessoais que possui. É a autoridade exercida pelos líderes pessoais, que conseguem espontaneamente a colaboração dos liderados.» (TORRE, 1983:178-179).
Em bom rigor, é oportuno destacar que parte significativa do sucesso do poder democrático socializante depende: das capacidades, conhecimentos, experiências e, principalmente, da sabedoria, prudência e sensibilidade dos dirigentes, em particular; e de todos os indivíduos, em geral, para administrar a justiça na repartição dos bens sociais, o que implica um total sentido ético-moral, justamente para que as virtualidades do poder não se desconfigurem.
A justiça é dos caráteres bem formados, prudentes e sensibilizados para as situações que afetam os mais desfavorecidos, os carenciados e os que, de alguma forma, estão marginalizados, porque em boa verdade:
«A injustiça é encontrada em todas as partes algumas vezes consequência de ações conscientes de pessoas de má índole ou mal-intencionadas, algumas vezes consequência de julgamentos ou decisões parciais ou protecionistas, algumas vezes resultantes de preconceitos e outras vezes, de erros involuntários, deficiências ou ausência de critérios de conceder ou repartir alguma coisa.» (RESENDE, 2000:186).
O poder democrático socializante, que se vem defendendo, naturalmente, e por si só, não será suficiente para implementar e demonstrar todas as suas virtualidades. Ele carece de executores preparados, sensibilizados e competentes na perspetiva dos melhores resultados sociais, com justiça e oportunidade, no tempo e no espaço. E se nas sociedades alargadas, multiculturais, urbanizadas, onde os seus membros se conhecem, ou então serão mesmo estranhos entre eles, outro tanto não se verificará nas comunidades locais ao nível das Freguesias e Concelhos portugueses.
Bibliografia
RESENDE, Enio, (2000). O
Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda
para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark
TORRE, Della (1983). O Homem e a Sociedade. Uma Introdução à Sociologia. 11ª Edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de
Portugal
http://nalap.org/Directoria.aspx
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