Desejos vãos- Florbela Espanca

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o sol, a luz intensa
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos céus, os braços, como um crente!

E o sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras... essas... pisa-as toda a gente!...

Florbela Espanca

Comentários

Anónimo disse…
O querer de Florbela e' o querer do impossivel e quando chega a conclusao do possivel,percebe que o seu querer esta'em si,personalizado no mar, nas arvores,no sol e nas pedras.Um excelente poema como todos desta diva da poesia.Obrigado Fernanda.
Eduardo