Mistério- Florbela Espanca


Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.

Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende,
Murmúrios por caminhos desolados.

Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…

Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!

Florbela Espanca - Charneca em Flor
 
Vila Viçosa, 8 de Dezembro de 1894 — Matosinhos, 8 de Dezembro de 1930

Comentários

Fernanda
Belo adoro Florbela
Beijos
Sonhadora
Este comentário foi removido pelo autor.
Eduardo Mesquita disse…
Florbela ao seu melhor estilo, num poema profundo que cactiva por um lado o amor pela natureza, por outro o desalento de uma vida de tristezas imcompreendidas.
Eduardo