Biografia- António Aleixo

António Aleixo.
Poeta possuidor de uma rara espontaneidade, de um apurado sentido filosófico e notável pela «capacidade de expressão sintética de conceitos com conteúdo de pensamento moral», António Aleixo tinha por motivos de inspiração desde as brincadeiras dirigidas aos amigos até à crítica sofrida das injustiças da vida. É notável em sua poesia a expressão concisa e original de uma "amarga filosofia, aprendida na escola impiedosa da vida". 












Livros de António Aleixo


O poeta António Aleixo escrevia de uma forma comum e simples, usando a linguagem do povo português, em pequenas composições de quatro versos, conhecidas como "quadras" ou "trovas"). Nnunca teve a preocupação de registrar suas composições. Alguns amigos do poeta lançaram folhetos avulsos com quadras por ele compostas, mais para angariar algum dinheiro que ajudasse o poeta em sua situação de miséria do que com a intenção de divulgar a sua obra. Depois com a intenção de compor o primeiro volume de suas poesias (Quando Começo a Cantar), Joaquim de Magalhães, dedicou-se a compilar os versos que eram ditados pelo poeta. Posteriormente registada pelo próprio poeta, com o incentivo do professor, a obra de António Aleixo adquiriu algum trabalho documentado.

Quando começo a cantar – (1943);
Intencionais – (1945);
Auto da vida e da morte – (1948);
Auto do curandeiro – (1949);
Auto do Ti Jaquim - incompleto (1969);
Este livro que vos deixo – (1969) - onde se encontra reunida toda a obra do poeta
Inéditos – (1979)


De salientar também a importância de José Rosa Madeira, que o protegeu, divulgou e coleccionou os seus escritos, contribuindo no lançamento do primeiro livro, "quando Começo a Cantar" (1943), editado pelo Círculo Cultural do Algarve.

Foi bem aceita pela opinião pública a primeira obra de António Aleixo e bem acolhida pela crítica. Com uma tiragem de cerca de 1.100 exemplares, o livro esgotou-se em poucos dias, o que proporcionou ao Poeta Aleixo uma pequena melhoria de vida.Mas pesava na sua alma morte de uma filha sua, doente com tuberculose. Doença que a vida dificil lhe viria a oferecer, tendo que ser internado no Hospital – Sanatório dos Covões, em Coimbra, a 28 de Junho de 1943.

Apesar de todos os infortúnios a amizade foi a alegria que o acompanhou, oferecida por amigos verdadeiros o que lhe proporciona uma nova era em Coimbra onde o poeta novas amizades e novos admiradores, que reconhecem o seu talento. Entre eles destacam-se o Dr. Armando Gonçalves, o escritor Miguel Torga e António Santos (Tóssan), o artista plástico e autor da mais conhecida imagem do poeta algarvio, amigo do poeta que nunca o desamparou nas horas difíceis. Os seus últimos anos de vida foram passados, ora no sanatório em Coimbra, ora no Algarve, em Loulé.


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Estátua de António Aleixo em Loulé, em frente ao Bar "Calcinha", freqüentado em vida pelo poeta



António Aleixo por palavras de: JOSÉ MARIA ALVES

António Aleixo nasceu em 18 de Fevereiro do ano de 1899, em Vila Real de Santo António. Filho de um tecelão, vai viver para Loulé, ainda criança. Aí aprende as primeiras letras e com apenas dez anos já se revela como improvisador, cantando as janeiras.
Com apenas treze anos, inicia-se no ofício do pai. Primeiro soldado, depois polícia em Faro, casa em Loulé e emigra para França. Retorna a Portugal e vende cautelas. Até ao internamento em Coimbra, no Sanatório dos Covões, torna-se conhecido, dando à estampa no ano de 1943 o seu primeiro livro.
Até 1949 mantém-se no Sanatório, regressando em princípios de Outubro, definitivamente ao Algarve.
Morre tísico no dia 16 de Novembro de 1949.
António Aleixo é um poeta popular, sabe ler e escrever, mas não é propriamente um intelectual. E ainda bem que o não é, porque se o fosse, provavelmente nada saberia da vida e dos homens.
Cauteleiro e guardador de rebanhos, homem pobre e sofrido, poeta e filósofo que soube abrir o Grande Livro da Vida, é perspicaz, espontâneo, irónico, sarcástico... Poeta sofrido, sem conhecer ódio, poeta do sim a uma existência madrasta, do sim à Morte, poeta da verdade que só os génios e os insubmissos exprimem com liberdade.
A sua escola é a eterna Universidade do Quotidiano, que apenas a alguns eleitos é permitido frequentar.
O seu saber e engenho provoca uma improvisação espontânea, de lucidez instantânea.
Não sou homem dado a homenagens, e, se algum dia as merecesse – que não as mereço, nem merecerei – nunca as aceitaria. Mas, homenagear Aleixo, é homenagear o sofrimento, a dor, o génio e a desventura. É homenagear a sageza, virtude que se foi extinguindo neste mundo de miséria moral, de incompetentes, ladrões, aduladores e de “doutores analfabetos”.
Aleixo não é doutor, não é analfabeto, mas é um catedrático da Vida, que não os papagaios engravatados que nos rodeiam e botam discurso e “faladura”, assemelhando-se à serradura quase imprestável que queimamos nos fogões nas noites de álgida invernia.

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