Sol- Posto- Francisco Espínola de Mendonça


Vens de tão longe, e este calor de agosto
tornou mais longa a extensa caminhada.
Ardes em febre e a tua voz magoada
revela bem um íntimo desgosto.

Chegas à hora triste do sol-posto,
cabelo em desalinho, desvairada.
Pergunto-te ao que vens, não dizes nada,
e as lágrimas respondem no teu rosto

Perturbaste-me e agora sofro tanto.
O coração afoga-se-me em pranto,
e estou vivendo uma tremenda hora.

Uma profunda dor me mortifica:
- é não ter forças pra dizer-te: - fica,
nem ter coragem pra mandar-te embora.

Francisco Espínola de Mendonça 
(Açores) 1891-1944

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