Lágrimas de emigrante - Rama Lyon

Nos braços duma quimera
Converti-me em emigrante,
Ganhei a saudade austera
Que me abraça a cada instante.

Ao partir ao Deus dará,
A minha aldeia deixei
E ninguém hoje saberá
Quando eu lá voltarei.

Tendo o Céu como parceiro
Nesta minha grande empresa,
Sou um pobre mensageiro
Da cultura portuguesa.

Assim ando vagueando
Pelos trilhos que Deus quis,
Nesta vida caminhando
A clamar o meu país.

Sem juiz fui condenado
Como um dia o foi Jesus,
Sigo sempre carregado
Com o peso da minha cruz.

Como um ser que hoje tem
Um fado em cada esquina,
Não torno culpas a ninguém,
Esta é bem a minha sina.

Essa mesma que um dia
Me trocará a vida errante
Por uma grande alegria,
De não mais ser emigrante.





Comentários

Eduardo Mesquita disse…
Muitas vezes a procura da realização pessoal, leva-nos a estas situações.
A nostalgia deste poema contrasta com a esperança de um regresso definitivo.
Este é um tipo de vida que ninguém deseja em condições normais, mas fica pelo menos o inconformismo que faz com que se lute e reme contra a maré.
Eduardo.