POIS É!- Por José Magalhães (17)


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Quand il ne disait rien
il observait le silence

Parávamos todos os dias no mesmo local para descontrair e tomar um café. Olhei-a de longe, mais tempo do que deveria. Nem sei porquê. Naquele dia havia um qualquer “não sei o quê” no ar. Se calhar era só de mim.
O olhar dela parou em mim, inquiridor. Via-o à distância. Sentia-o penetrar-me. 
Ver assim, à distância, não menoriza o fascínio das coisas escondidas e do seu mistério desproporcionado, que nos impede de saber tudo de uma só vez. 
Queria saber mais, mais um pouco.
Aproximei-me. Convidou-me a sentar, com o olhar.
Uma pergunta queimava-me a garganta, e outra, e outra, sem que eu alguma vez soubesse quais eram. Tanta coisa para perguntar e acabo por não perguntar nada.
Sem resposta às minhas questões, àquelas que eu, alegadamente, quereria fazer, fico sem saber se fui eu quem se esqueceu de perguntar, ou se simplesmente o meu inquirido, se esquecera de me responder.
Não percebo nada, não entendo, mas, haverá alguma coisa para entender? E então nestas coisas de permanecer quedo e mudo com as perguntas a bailarem-se-me na cabeça, ainda entendo menos.
 É triste, tudo isto é triste, cinzento como os dias escuros e de chuva no frio do Inverno. Há lá coisa pior que os dias de frio e chuva, escuros e cinzentos, sem a beleza da neve, no meio do Inverno, para amenizar? Só mesmo querer respostas e não as obter, por ter perguntas e não as fazer.
Os olhares entrelaçavam-se, gritavam uns com os outros. São eles que pagam a conversa.
As perguntas que moram dentro de mim esticam o tempo que se me começa a escassear. É uma tremenda de uma chatice a vida inteira durar tão pouco tempo, e nós sem tempo para perguntar tudo o que queremos saber.
Perguntei-me, uma e outra vez, que pergunta seria aquela que continuadamente quero fazer. Esforcei-me por encontrar uma, qualquer que ela fosse, uma que não mostrasse falta de inteligência ou de sagacidade, que demonstrasse interesse e que, tivesse eu a certeza, provocasse uma resposta mais do que satisfatória.
Neste diálogo feitos de silêncios nem uma frase ocasional tinha ainda aparecido.
Se calhar acabaram-se-me as palavras. Gastei-as todas nos meus escritos, uma a uma.
Começa a anoitecer, estava já escuro lá fora. O cinzento do dia estava já negro. Não podia esperar mais. Sentia frio e era urgente aquecer.
Respirei fundo, uma e outra vez, olhei-a nos olhos, longamente, e com voz rouca disse;
- Pois é!


Contos-José Magalhães


José Magalhães (facebook)

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