AS MENINAS DA AV. BRASIL (*) Ely Vieitez Lisboa


Decididamente eu sou uma mulher jurássica, um espírito anacrônico, fora de época. Como explicar isto? Seria a educação tradicional, os ensinamentos antigos que marcaram muito? Mas e tudo que estudei posteriormente, tudo que li, que analiso minuciosamente no mundo atual? De um lado, a Ely moderna, aberta, do outro, uma aversão sem remédio sobre o fato.
Desde criança soube de histórias de meninas e mulheres que, expulsas de casa, ou não tendo como sobreviver, optaram pela prostituição. Isto é coisa antiga. Hoje, prostituição é uma profissão como outra qualquer e as profissionais do sexo, como querem agora ser chamadas, pleiteiam até carteira assinada. Relembro o filme Bruna Surfistinha, quando ela confessa: Minha família me amava, ninguém me obrigou. Sou prostituta porque gosto. E não me sai da memória a cena do filme, a Débora Secco, no papel principal, seminua, na porta do quarto, diante de uma enorme fila de homens, seus fregueses, dizendo: “Quem é o próximo!”.
Procuro entender, analisar, mas não consigo aceitar esta opção moderna, a prostituição, como uma profissão igual às outras. Por isso faz-me mal passar pela Av. Brasil, a qualquer hora, desde às oito da manhã. Em cada esquina, três, quatro garotas lindas, seminuas, quase todas de corpos bem feitos, esperando fregueses. Carros e bicicletas param, negociam. A cena me estraga o dia. Por que a opção? Não se preocupam com a nódoa que fica, com este presente sem futuro? Será que pensam que é só por pouco tempo?
E a profissão vai ficando sofisticada. Há Chácaras, Hotéis Cinco Estrelas, com books, onde são oferecidas Garotas de Programa de fino trato, elegantes, até bilíngues. Antigamente dizem que aliciavam garotas para a prostituição, em pequenas cidades. Hoje, há tanta procura, que se brinca ser necessário até fazer vestibular para uma vaga... São jovens estudantes, universitárias, de todas as classes, mulheres casadas que se prostituem para complementar a renda do casal. 
Sei de tudo isto, tento entender, aceitar, mas algo me atormenta, diante da realidade. Já me explicaram que prostituta é diferente de Garota de Programa. A segunda tem apartamento, casa, onde recebe os fregueses. Nada disso me consola, nem a história bonita de uma jovem conhecida, que era garota de programa e um dia apaixonou-se por um freguês. Os dois se casaram, são felizes e ela estudou, hoje é professora, com bela família e ótimo marido. Mas isto é uma exceção. E a regra? Qual o destino das Meninas da Av. Brasil, que esperam seus fregueses, desde cedo, até à noite? 
Certa vez passei lá perto e próximo dali, em uma pracinha, estavam umas trinta dessas meninas. Sentadas, alegres, descansando. Pareciam trabalhadoras normais, no período de folga.
Eu continuo na minha angústia. Alguns dirão: Há tragédias mais sérias, doenças, guerras, fome, o angustiante problema dos refugiados, brutalidade, estupros, o crime que grassa como erva maldita. Basta assistir aos jornais televisivos, ler a mídia escrita, para conhecer os horrores do mundo moderno, com inundações, deslizamentos de terra, crimes, roubos, corrupção, violência. Mas por que me faz mal ver as Meninas da Av. Brasil? Seria porque é uma realidade mais próxima? E a violência nas Escolas, o consumo de drogas, as famílias desestruturadas, os preconceitos, o Ensino falido?
Às vezes converso com Deus e lhe pergunto se Ele não pode fazer nada... Ele nunca respondeu. Penso que desistiu de sua obra e deixou-a à deriva. E os seres humanos ainda acham que o livre arbítrio foi um presente! Deu no que deu. Será o reinado de Lúcifer?

Ely Vieitez Lisboa



Comentários