DIA INTERNACIONAL DA MULHER (*)Ely Vieitez Lisboa


O preconceito contra a mulher vem de tempos imemoriais, na Bíblia, na vida e até na Gramática. Essa verdade levou a inteligente Débora Vendramini, Secretária Municipal da Educação, em uma palestra, afirmar: Diante do crescimento intelectual e cultural da mulher moderna, questiona-se a verdade bíblica que a Mulher foi feita da costela de Adão. Imagine se fosse do filé...
Dia 8 de março comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Costuma-se ver a data ligada ao incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova Iorque, dia 25 de março de 1911, quando morreram 146 trabalhadoras, a maioria costureiras, que lutavam pelos seus direitos. Na verdade, foi em 1910 que ocorreu a primeira Conferência Internacional das Mulheres, em Copenhagen, quando foi aprovada a proposta da socialista alemã Clara Zetkin. No Ocidente, o Dia Internacional da Mulher foi comemorado de 1910 a 1920, mas só em 1977 a data foi oficializada.
Até hoje se publicam muitas obras sobre o assunto, principalmente por feministas, seguidoras das ideias da famosa Simone de Beauvoir (1908/1986) escritora, filósofa existencialista e feminista francesa. Culta, com uma obra literária premiadíssima, ela teve uma tumultuada relação com Jean Paul-Sartre durante anos. Os dois foram sepultados juntos, no mesmo túmulo, no Cemitério de Montparnasse, em Paris.
Simone de Beauvoir defendia a igualdade entre os dois sexos. Algumas frases suas ficaram para a posteridade e viraram bandeiras das verdadeiras feministas: “Entre as que se vendem pela prostituição e as que se vendem pelo casamento, a única diferença consiste no preço e na duração do contrato”. Ela defende ardorosamente a liberdade feminina: “Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância”.
Suas ideias continuam atualíssimas. Com a crescente violência contra as mulheres, hoje e sempre, vê-se que o mundo evolui muito devagar. Paliativos tentam minimizar a brutalidade dos maridos, dos companheiros ferozes, a quantidade de estupros cresce a cada dia (cerca de 15 mil mulheres são estupradas por ano, no Brasil). A Lei Maria da Penha arrefece muito pouco a sanha dos monstros violentos. Na última década, 45 mil mulheres foram assassinadas, no nosso País.
Ideias feministas surgem aqui e ali, muitas vezes destorcidas e equivocadas, como as ridículas “Marchas das Vadias”, protesto realizado inicialmente em Toronto, no Canadá, evento copiado em inúmeras cidades brasileiras. Realiza-se no Brasil a mais famosa Parada Gay do mundo, na Av. Paulista; contraditoriamente, é o Estado onde a homofobia é mais ferrenha.
Esse câncer moderno parece não ter solução e pelo contrário, surgem modalidades bestiais, como o estupro coletivo. O problema é grande demais para as terapêuticas usadas, as leis muito brandas são meros placebos. Talvez se a castração química fosse implantada contra estupradores e pedófilos, os resultados seriam outros.
Enfim, quando no Dia Internacional da Mulher tenta-se analisar o ínfimo resultado da luta diante da violência contra a mulher, vê-se que as mudanças profundas arrastam-se morosamente, diante do aumento da selvageria animalesca do propalado sexo forte.
Um pálido consolo é ver um pequeno exército de jovens mulheres, provando todos os dias sua superioridade intelectual, galgando cargos antes só dos homens, numa luta sem trégua. Seu posicionamento e modo de ser lembram a afirmação sábia de Simone de Beauvoir: “Não se nasce mulher. Torna-se”.
(*)Artigo publicado em 2014 no Caderno C do Jornal A Cidade.


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