A galinha depois... nunca mais botou!- Irene Coimbra

    

          Eu tinha uma amiguinha que era cor da noite! Não dessas noites tenebrosas e tristes, mas dessas noites maravilhosas, embelezadas pelas estrelas e pelo clarão da lua!
Era uma de minhas amiguinhas prediletas, e sua vida era pra mim um grande mistério. Eu era a única criança branca a entrar em sua casa para brincar. Talvez porque fosse curiosa e sem preconceito.
Nossas brincadeiras nunca eram maldosas. Entretanto, naquele dia...
Bem... Estávamos sozinhas e já havíamos brincado muito. Sentimos fome, mas não havia nada pra comer em sua casa, a não ser um pouquinho de farinha de mandioca. Então perguntamos para nós mesmas: e se fizéssemos uma farofa de ovo? Mas, e o ovo? Onde encontrá-lo?
De repente, como se respondesse à nossa pergunta, uma galinha começou a cacarejar de modo estridente dentro da velha casa. Ela estava num ninho, sobre uma cantoneira, num cantinho escuro da casa e cacarejava, cacarejava... Às vezes, de um modo estridente e, às vezes, bem baixinho. E então, pé ante pé, pra não assustar a galinha, lá fomos nós. Com a respiração suspensa, aguardávamos ansiosas, que ela botasse o ovo.
A aflição já começava a se apoderar de nós quando, de repente, depois de cacarejar de um modo incessante, ela silenciou.
Uma troca de olhares e um pensamento: “Botou!”. E, de um salto pegamos a galinha e a tiramos do ninho. Mas, oh, decepção amarga... Não havia nenhum ovo!
A raiva e o despeito se apoderaram de nós e, numa só voz, dissemos: “Vai botar.”
Segurando-a, firmemente, começamos a apertá-la de uma maneira cruel. A galinha parecia morrer. Já não cacarejava, mas gritava como se estivesse sendo estrangulada. E nós, num silêncio pesado, a mantínhamos presa, apertando-a cada vez mais e mais.
De repente... Oh! maravilha das maravilhas!!! Um ovo branquinho caiu no ninho!  Soltamos, então, a galinha, que saiu correndo e cacarejando de modo assustador.
Mas, a nós, o que importava agora aquela galinha? Tínhamos à nossa frente o ovo!
Por alguns instantes ficamos a admirá-lo. Como era branquinho e quentinho!
Depois, rapidamente, fizemos com ele a nossa farofa! Que delícia!!!  Com nossa fome saciada, e como crianças angelicais, voltamos a brincar.
 A galinha depois... nunca mais botou.”

Irene Coimbra
    Do Livro: "Denúncias Poéticas, Contos e Crônicas" - Pág. 14


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