MARIA LAMAS- Biografia




Uma figura admirável de cidadã da Resistência contra o fascismo e de Mulher portuguesa do século XX. Investigadora autodidacta. Na história das Mulheres do Portugal contemporâneo, Maria Lamas foi uma mulher que fez história, que entrou na História como cidadã e que escreveu História como autora.
«O bem e a verdade. A igualdade e a felicidade. A liberdade e a justiça.
A fraternidade. São valores pelos quais luta, abnegadamente. Inclui a seriedade e a sinceridade.
Fala insistentemente no direito à felicidade. Quer uma sociedade mais justa, uma democracia plena, “uma política humana”. Tem fé no progresso e na humanidade. Foi uma humanista convicta. A luta pela dignificação e a emancipação da mulher, causa que sempre perseguiu, em várias frentes, inscreve-a na luta geral pelos direitos humanos.» (*)
1. Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas nasceu em Torres Novas a 6 de Outubro de 1893 e faleceu em Lisboa a 6 de Dezembro de 1983. Conhecida como Maria Lamas, foi uma escritora, tradutora, jornalista e conhecida activista política.
Filha de pai republicano e maçon, que a orientou nas leituras, e de mãe católica muito piedosa, militou convictamente pela plena igualdade das mulheres, igualdade baseada na educação e na independência económica, através do exercício de uma profissão ou de um ofício. Quando o século XX chegou, encontrou-a num colégio de freiras espanholas, que lhe deixaram marcas perenes do cristianismo universal e de misticismo erudito. Muito nova, casa por amor (1911) com um jovem oficial do exército republicano (Teófilo Ribeiro da Fonseca). Grávida, não hesita em acompanhar o marido, em missão num presídio militar, no inóspito interior de Angola. Regressa a Portugal (1914) porém, sozinha, com uma filha pela mão e, já de novo grávida, disposta ao divórcio e a lutar pela vida. Foi uma das primeiras mulheres jornalistas profissionais, iniciando-se na Agência Americana de Notícias. Volta a casar (1921) com um colega de profissão, monárquico (Alfredo da Cunha Lamas), num casamento algo turbulento que dura pouco, embora fique para sempre com o apelido Lamas, e com uma dedicadíssima filha (1922-2007), Maria Cândida Caeiro.
Esteve ligada à Oposição Democrática durante o Estado Novo. Ligou-se ao MUD (Movimento de Unidade Democrática) e depois ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, onde desenvolveu intensa actividade política e cultural. Presa em 1949, pela primeira vez, sofreu imenso na prisão no Forte de Caxias, porque a PIDE a colocou incomunicável durante quatro meses. Esteve então muito doente. Depois de várias prisões (1953 e 1962), viu-se forçada ao exílio.
Entre 1962 e 1969 viveu em Paris como exilada política, habitando o Grand Hotel Saint-Michel, no Quartier Latin, onde conheceu Marguerite Yourcenar, e onde desenvolveu intensa actividade política e de apoio a portugueses refugiados em oposição ao regime fascista.
Depois do 25 de Abril de 1974 viria a filiar-se no PCP. Quando regressou do exílio, tinha 76 anos e ainda a mesma esperança de melhores dias para Portugal. Foi então presidente do MDM.
A sua actividade como escritora e jornalista foi intensa e diversificada. Logo que se divorciou começou a escrever nos jornais. Como jornalista trabalhou em diversos jornais e revistas, tais como "A Joaninha" ( onde a sua colaboração no "Correio da Joaninha" passou a ser um diálogo educativo com as leitoras). Colaborou ainda no A Voz, Correio da Manhã, e no suplemento do jornal o Século intitulado "Modas e Bordados" (Em 1928 passou a dirigir este suplemento, dando-lhe uma feição diferente, ciente de que era preciso chegar às mulheres trabalhadoras pouco esclarecidas quanto aos seus direitos. Um jornal que dava prejuízo passou a dar lucro, tal a importância da sua colaboração).
Foi jornalista da revista Mulheres, da qual foi directora. Colaborou ainda nos jornais O Século, A Capital e o Diário de Lisboa.
Escreveu contos infantis e estudos na área da mitologia, porém o seu livro mais importante, fruto de dois anos de viagens por todo o país é «As Mulheres do Meu País» (1950), uma obra de referência, onde colaboraram com ilustrações os mais famosos intelectuais do seu tempo. Seguem-se «A Mulher no Mundo» (1952) e «O Mundo dos Deuses e dos Heróis» (1961).
Nas suas obras utilizou diversos pseudónimos como, "Maria Fonseca", "Serrana d’Ayre" e "Rosa Silvestre".
2. Intervenção política
Fez parte da direcção do MUD onde combateu o regime fascista de Salazar. Em 1946 participou no congresso que daria origem à Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM). Participou diversas vezes nos Congressos Mundiais da Paz. Em 1947 foi presidente da direcção do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. Em 1958 participou em Copenhaga no Congresso Internacional de Mulheres.
Em 1975 participou em Berlim no VII Congresso da FDIM.
3. Obras publicadas
• Humildes (poesia) (1923).
• Diferença de Raças (romance) (1924).
• O Caminho Luminoso (romance) (1928).
• Maria Cotovia (livro infantil) (1929).
• As Aventuras de Cinco Irmãozinhos (livro infantil) (1931).
• A Montanha Maravilhosa (livro infantil) (1933).
• A Estrela do Norte (livro infantil) (1934).
• Brincos de Cereja (livro infantil) (1935).
• Para Além do Amor (romance) (1935).
• A Ilha Verde (livro infantil) (1938).
• O Vale dos Encantos (livro infantil) (1942).
• O Caminho Luminoso (1942).
• As Mulheres do Meu País (1948).
• A Mulher no Mundo (1952).
• O Mundo dos Deuses e dos Heróis, Mitologia Geral (1961).
• Arquipélago da Madeira (1956).
Prémios e homenagens
• 1974 - Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada
• 1975 - Presidente honorária do Movimento Democrático de Mulheres (MDM).
• 1980 - Grande-Oficial da Ordem da Liberdade a 30 de Junho.
• 1983 - Medalha Eugénie Cotton, atribuída pela Fédération Démocratique Internationale des Femmes.
Em Torres Novas foi dado o nome da escritora à Escola Industrial de Torres Novas, na comemoração dos 50 anos da sua existência, passando a designar-se por "Escola Secundária Maria Lamas". A cidade relembra-a também numa pequena intervenção escultórica.
O nome de Maria Lamas tem sido lembrado em sucessivas iniciativas de homenagem e evocação. 

O espólio documental de Maria Lamas encontra-se na Biblioteca Nacional.




Comentários

Unknown disse…
Uma grande mulher uma grande camarada