Não se escreve sobre o AMOR, vive-se. O amor é indizível, inexplicável, inefável. Quando a palavra fria tenta captar o conceito, a essência do amor, ele já fugiu, amor não mais é. Amor é o momento vivido. Amor é aquele átimo, algo que não se pode captar, magia. Nem se pode dizer que o amor é efêmero, pois ele é de tal modo complexo, que não se capta o que ele é. Sua complexidade está em ordem direta à beleza, ao alumbramento, ao êxtase, e inversamente à lógica, à normalidade, ao usual, ao rotineiro. O amor é um susto, um desmaio da alma, uma ascese, uma descida aos infernos. Quando se pensa que algo já se aprendeu sobre o amor, ele já não existe e parte-se do nada à deriva com a fragilidade das causas perdidas, de pétalas ao vento, de painas na tempestade. Não há âncoras, grades ou portos no amor. Há ondas que morrem em espuma, há dores que matam sem ferir, há gozo e alegria, prometendo amargura, solidão e morte. Mas nisto, também, não há sensatez, no amor: ele é capaz, mil vezes, de ressuscitar, recomeçar, nascer do nada. É Fênix. O amor é paradoxo, antítese, contrários: quando se compreende algo do amor, é porque ele já se foi, morreu. Enquanto vivo é só no sendo, no vivendo, no mudando, na volúpia, na loucura, no matando de felicidade e no amargando de dor. É e não é. Sempre. AMOR.
O que diz do AMOR:
Tolo: O amor não é algo tão complexo, tão raro. Eu conheço todas as semanas, cada dia, um novo...
Ingênuo: Que sentimento é este? Parece tão simples...
Sábio: Fuja dele, se não quiser conhecer os infernos! Mergulhe nele, se quer experimentar o céu...
Cético: O amor não existe.
Realista: Amor é carne, é corpo, é matéria.
Platônico: Amor é desejar em silêncio, é viver só do olhar, é acariciar com a alma e beijar com os olhos...
Pessimista: O amor não vale a pena.
Otimista: Nunca mais o amor me fará sofrer!
Sensual: Amor são côncavos e convexos em harmonia, concerto de fogo... É o jogo macio, perfumado e doce da carne na carne...
Distraído: Era amor o que pensei ter um dia? Eu o perdi? Onde?
Cínico: Amor, eu o prometi? E promessas se cumprem? Vale a pena somente usufruí-las.
Irado: Deve-se odiar o amor como se odeia a vida
Avarento: Dar de mim? Em troca de quê? Amar de graça, sem ganho, lucro?
Preguiçoso: Amor é trabalhoso. Não vale o esforço. Melhor dormir, descansar na solidão, que é doce e ociosa...
Guloso: Amor? Um só?
Invejoso: Ao inferno quem o amor possui! Deve ser protegido dos deuses!
Estudante: Amanhã tem prova de amor? Tirarei nota máxima!
Professor: Amor é um conceito de semântica complexa, sintaxe arrevesada, estilística pessoal e fácil morfologia: substantivo comum, abstrato, masculino, singular, dissílabo, oxítono.
Médico: Amor é doença perigosa, de síndrome conhecida, diagnóstico sem erro e terapêutica impossível.
Economista: Amor é lastro, fundo de reserva com indexação na economia dos sentimentos pessoais.
Geógrafo: Amor é uma alegria rodeada de sofrimento por todos os lados.
Químico: Amor é uma reação química explosiva, perigosa.
Físico: Amor é um vetor endoidecido.
Negociante: Amor... Não pode ser em dólares?
Hiperbólico: Já conheci mil formas de amor, morri milhões de vezes por ele!
Antitético: Amor é e não é, céu e inferno, alegria e dor, ascensão e queda, ganhar e perder, ter e não ter.
Fatalista: O amor é o destino de cada um, na esquina de todas as vidas.
Bíblico: Amor é a união da dualidade de dois corpos, em um mesmo sopro, a volta ao barro essencial.
Inseguro: E se amor não for? E se só sofrimento trouxer? Isto é amor?
Amargo: Amor não é vida, é sofrimento, dor e morte.
Lírico: Amor é dar de beber à minha sede no seu corpo de água pura.
Ely Vieitez Lisboa
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