As portas coloridas de Dublin- Aline de Oliveira Cláudio


Foi durante meu primeiro dia em Dublin que algo atraiu, forte-mente, minha atenção. 
Não foi o frio, nem a paisagem cinza e dramática do inverno, nem o sotaque extremamente carregado dos irlandeses. Foram portas. Portas extremamente coloridas. Esses objetos inanimados acabaram virando uma espécie de vício para mim: fotografar todas as que eu encontrava. Era uma espécie de caça às melhores portas.
A história de como acabaram surgindo em Dublin é, no mínimo, intrigante. Data-se dos anos 1700 quando a capital irlandesa vivenciava o período Georgiano (1714 – 1830). A época que além de introduzir e descrever os estilos arquitetônicos dos edifícios da cidade, também trouxera o início do reinado de Jorge I da Grã-Bretanha. Dublin entrava em um período de prosperidade, vindo a se tornar a segunda maior cidade do Império Britânico, até então, após Londres. Com a cidade crescendo cada vez mais rica, o estilo elegante na arquitetura acompa-nhava a boa maré. Novas casas de modelo Georgiano eram construídas e desenvolvidas. A cidade, até então, de aspecto medieval começou a receber ordens restritas sobre como deveriam ser suas novas medidas e estilos de casas e edifícios. Com isso a cidade foi sendo re-desenhada com a mesma fachada em todos os locais, trazendo, para muitos, uma ideia de falta de personalidade. No entanto, com o passar do tempo, os moradores começaram a buscar maneiras de deixar seus lares com diferentes aspectos, quebrando as regras que haviam sido impostas. As portas foram a maneira que encontraram de demons-trar que pessoas diferentes possuíam personalidades diferentes e, sendo assim, portas diferentes. Portas extremamente coloridas começaram a ser pintadas, além de possuírem ornamentos como novos batentes e pequenas janelas, sobre elas.
Hoje, as portas de Dublin além de contarem uma parte da histó-ria irlandesa, nos ensinam que para nos destacarmos em meio à multi-dão, a personalidade é o que nos faz ir além.

Oitava Antologia Ponto & Vírgula - Pág. 65 
Editora: FUNPEC/2016 
Coordenação: Irene Coimbra


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