O JARDIM FECHADO DE RAQUEL (*) Ely Vieitez Lisboa


    Conheço quase toda a obra de Raquel Naveira, sem dúvida alguma uma figura de primeira grandeza na Literatura Brasileira. Basta consultar sua lista variada de obras, com poesia, romances, ensaios, crônicas e literatura infantil. Atualmente tem publicado crônicas no Portal Top Vitrine, textos ricos, profundos, inovando este gênero literário. 
    Tenho em mãos o livro mais recente de Raquel Naveira: a Antologia Poética Jardim Fechado, da Editora Vidráguas, Porto Alegre, 2015. Raquel Naveira deve ter feito um pacto com Atena, Deusa das Artes. Dotada de uma versatilidade única, escreve prosa e verso, declama, leciona, tem um programa de TV e, em seu dinamismo, corre o país dando palestras memoráveis, participando ativamente da vida cultural. Nascida em Campo Grande, entende-se por que recebeu o epíteto de Emblema Sagrado da Poesia Sul-mato-grossense. Laureada pela crítica, obteve Prêmios expressivos, com elogios de grandes escritores e críticos literários. É advogada e professora; isto talvez explique sua lucidez, o vasto conhecimento da língua portuguesa e a grande atração pela História. 
    A Antologia Poética Jardim Fechado, de Raquel, traz o prólogo do brilhante Carlos Nejar, que, pertinentemente, começa dizendo: A poesia de Raquel Naveira se mune de história e é a história que se mune de poesia, e de tal forma, que uma se confunde com a outra e num eito narrativo se impõe com precisão: “Por ser descrição que busca claridade lírica, o mistério, sempre com acontecimentos, como se sonhos fossem. E são eles que aprumam o fogo”. De maneira sábia, afirma: “E o admirável é que Raquel Naveira jamais abandona a dureza e o fervor da palavra. O que traz à baila na eclosão: verdor de estranha humanidade”.
    Em um alentado volume de 433 páginas, seguem alguns poemas de cada obra de RN, cuja listagem completa está no final do livro. Optou-se pela ordem cronológica, começando com “Via Sacra” (1989), seu primeiro livro; antes da seleção de poemas escolhidos há excertos da crítica elogiosa de autores famosos sobre cada uma das obras. São nomes de figuras proeminentes, como Leila Perrone-Moisés, Josué Montello, Moacyr Scliar, Lygia Fagundes Telles, Antônio Houaiss, Nelly Novaes Coelho e muitos outros.
    Impossível comentar em espaço tão exíguo toda a beleza e variedade dos poemas selecionados, nos quinze livros da autora, fechando, magistralmente a seleção com vinte sete poemas inéditos, de 2015. Tenho por hábito escrever pequenos comentários, após os poemas ou a seleção deles. Os de Raquel me inspiram muito, pelos enfoques históricos, mitológicos e/ou bíblicos, sempre originais. A Poeta canta figuras de grande beleza (Pilatos, Ícaro, Maria Madalena, Nefertiti, Maria Antonieta), só para citar poemas de Via Sacra; a História, a Terra, figuras famosas, realça personagens bíblicas, locais, deuses da Mitologia, dedica poemas a figuras excelsas como Rosalía de Castro, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Florbela Espanca, Sóror Mariana Alcoforado, locais pitorescos como Angola, Guiné, Cabo Verde, Moçambique, Macau, São Tomé e Príncipe, em uma gama rica, mas sempre em um lirismo de alto teor, com poemas belíssimos; a impressão, às vezes, é que os temas são mero pretexto para o lirismo rico de Raquel. Ela é pura poesia. 
    Este é um comentário rápido, uma abordagem pela rama, diante da riqueza magnífica do conteúdo dessa excelente Antologia. É preciso ler o livro para avaliar seu valor, sua beleza. Na contracapa, Carlos Nejar é, novamente, muito feliz. Como dá ao Prólogo o título expressivo de As Navegações de Raquel Naveira, ele, Poeta Maior, termina magistralmente: Mas em tudo “Naveira / é mais que um nome (...) / Alma galega que navega”.




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