Cartas de Van Gogh a Théo- (JULHO DE 1873 – MAIO DE 1875)




Londres, 20 de julho de 1873 

    A arte inglesa não me atraía muito no começo, é preciso acostumar-se a ela. Contudo, existem aqui pintores hábeis, entre outros Millais, que fez o Huguenote, Ofélia, etc., e que você certamente deve conhecer por gravuras, é muito bonito. E Boughton, de quem você conhece os Puritanos Indo à Igreja da nossa galeria fotográfica. Vi coisas muito bonitas dele. Além disto, entre os velhos pintores, Constable, um paisagista que morreu há uns trinta anos atrás, é esplêndido, com alguma coisa de Diaz, de Daubigny; e Reynolds, e Gainsborough, que pintaram sobretudo retratos de mulheres, e ainda Turner, de quem você deve ter visto algumas gravuras. Existem aqui alguns bons pintores franceses, entre outros Tissot... Otto Weber e Heilbuth. Este último está fazendo atualmente belas pinturas no gênero precioso de Van Linder. Quando puder, escreva-me se existem aí fotografias de Wauters, exceto Hugo van der Goes e Marie de Bourgogne, e se você conhece também fotografias dos quadros de Lagey e de Braeckeleer. Não é do velho Braeckeleer que estou falando, mas de um filho dele, acho, que tinha na última exposição de Bruxelas três quadros esplêndidos, intitulados Antuérpia, A Escola e O Atlas. Caso você veja também alguma coisa de Lagey, de Braeckeleer, Wauters, Maris, Tissot, George Saal, Jundt, Ziem, Mauve, escreva-me sem falta, são pintores de quem eu gosto muito.


Londres, janeiro de 1874 

    Estou vendo que você se interessa pela arte e isto é uma boa coisa, velho. Fico contente que você goste de Millet, Jacque, Schreyer, Lambinet, Frans Hals, etc., pois, como diz Mauve, “é alguma coisa”. Sim, o quadro de Millet, Angelus du Soir, “é alguma coisa”, é magnífico, é pura poesia. Como eu gostaria de falar sobre arte contigo... só nos resta nos escrevermos bastante; ache belo tudo o que puder, a maioria das pessoas não acha belo o suficiente. Escrevo abaixo alguns nomes de pintores de quem eu gosto particularmente: Scheffer, Delaroche, Hébert, Hamon, Leys, Tissot, Lagey, Boughton, Millais, Thijs Maris, De Groux, de Braeckeleer, jr., Millet, Jules Breton, Feyen-Perrin, Eugène Feyen, Brion, Jundt, George Saal, Israels, Anker, Knaus, Vautier, Jourdan, Compte-Calix, Rochussen, Meissonier, Madrazzo, Ziem, Boudin, Gérôme, Fromentin, Decamp, Bonington, Diaz, Th. Rousseau, Troyon, Dupré, Corot, Paul Huet, Jacque, Otto Weber, Daubigny, Bernier, Émile Breton, Chenu, César de Cock, Mlle. Colart, Bodmer, Koekkoek, Schelhour, Weissenbruch e last not least Maris e Mauve. Mas eu continuaria a lista não sei por quanto tempo mais, e há ainda os velhos, e estou certo de ainda ter omitido alguns dentre os melhores .

Londres, 6 de abril de 1875 

    A respeito do Meerestille de Heine, que eu tinha copiado no teu caderno, não é? Há algum tempo atrás eu vi um quadro de Thijs Maris que me fez pensar nele. Uma velha cidade de Holanda, com fileiras de casas num castanho avermelhado com oitões em escadinha e patamares nas portas, telhados cinzas, e portas brancas ou amarelas, vãos e cornijas; canais com barcos e uma grande ponte levadiça branca sob a qual se encontra uma chata com um homem ao leme, a casinha do guarda da ponte que se vê pela janela sentado em sua pequena escrivaninha. Um pouco mais longe no canal, uma ponte de pedra sobre a qual passam pessoas e uma charrete com cavalos brancos. E movimento por toda parte; um homem com um carrinho de mão, um outro apoiado ao parapeito, olhando para a água, mulheres de preto com toucas brancas. No primeiro plano, um cais com lajotas e um parapeito preto. Ao longe, uma torre se ergue sobre as casas. Acima disso tudo, o céu, num branco cinza. É um pequeno quadro, vertical.


Comentários