UM POETA CHAMADO ALFREDO ROSSETTI - Ely Vieitez Lisboa


Quando alguém recebe antenas especiais e capta mensagens esconsas que nos rodeiam, em geral vira poeta. Assim se diz e é comum encontrar esses seres privilegiados, com rara sensibilidade. Nasce então, dentro dos ungidos pela poesia, uma necessidade ingente de fazer poemas.
Alfredo Rossetti é um homem diferenciado. Reconhecido
como grande poeta, tem uma obra lírica expressiva:
2002- Tempo do Meu Tempo
2005- Dia ade Chuva, Concisão e Em Busca do Verso
2006- Haikai
2008- Colheita dos Ventos
2011- Trem das Palavras
2013- Luz de Alpendre.
Antes de abordar algumas características de seus poemas, será interessante esboçar seu perfil literário, uma minibiografia: Nascido em São José do Rio Preto, iniciou suas atividades literárias em 1968, quando cursava o Curso Clássico. Dedicou-se primeiro à poesia, crônicas e teatro. Com o advento do Tropicalismo, entra em contato com o Movimento Concretista. Em 1970, a peça Aquárius, escrita a quatro mãos, com Amaury Faria, é encenada pelo Grupo Teatral Riopretense. Passa então a dedicar-se somente à poesia e ao estudo do verso. Promove e participa de vários saraus de música e poesia, durante os anos de 1969 e 1970, em Rio Preto e região. Após um período em outras áreas profissionais, retorna às letras em 2000, com o Bar Estação Cultura e o sebo de livros Velhas Novidades. Em 2003, ingressa na Biblioteca Padre Euclides, como voluntário, onde permanece até hoje. 
Poeta respeitado, participou em várias edições da Feira Nacional Livro de Ribeirão Preto, demonstrando sempre grande cultura e uma sensibilidade poética rara. Alfredo Rossetti á a prova viva de uma verdade insofismável: é um grande poeta; além da sensibilidade e a decantada inspiração, ele conhece bem os instrumentos, dos quais é mestre: a língua portuguesa e a Teoria da Literatura. Junte-se a isto, o hábito de leitor voraz, um bom gosto literário e poder-se-á reconhecer a receita de um Poeta Maior.
Inteligente e perspicaz, Rossetti, percebendo que o número de leitores brasileiros é cada vez menor, ele começou a utilizar uma ferramenta valiosa: a Internet. Deu certo. Muitos internautas acabaram por criar o hábito de ler poesia e ele posta belos poemas, diariamente. Assim, a lição do Poeta Alfredo Rossetti é uma preciosidade: para se fazer boa poesia é necessário conhecimento da língua portuguesa, da Teoria da Literatura, da Estilística e ter um vocabulário rico; e mais: muita leitura, convívio com a obra de grandes poetas, uma dose de inspiração, regada por forte sensibilidade.
Basta joeirar os poemas de qualquer obra sua, para se encontrar verdadeiras joias do gênero lírico. Em 29 de outubro/16, postou no Face um poema, Alegoria, cujos doze primeiros versos são plenos de alusões literárias e artísticas, versos com vocabulário rico e um final meio hermético, que só ele suscitaria um grande comentário.
O uso de metáforas raras é o alimento maior, que embeleza um poema. Veja-se a riqueza do poema Desconforto, de março de 2006:

“Escrevo um verso taciturno 
dentro do erro desta hora
Indesejoso de ser noturno, 
não voa, 
não tem olhos para a lua; 
somente ímpetos de se ir embora. 
são os eternos vetos ao meu coração 
ou me roubaram a aurora?”.

O poema Anima, postado dia 4 de novembro último, é uma obra-prima:

“Escamoteio a vida à Ulisses
Bloom; espertos sorrisos à deriva, 
(nunca fui que me escolheram ser) 
A razão de minha alegria; 
desconhecimento que acolchoa 
o infindável retorno 
a solidão de tantos rostos ao redor. 
Descubro-me em mote: 
sou eu quem teço e desteço” 

(2013, in Luz de Alpendre). A alusão literária inicial e o verso final dariam outra página de considerações.
Este é o grande problema para falar sobre um Poeta Maior, em um pequeno espaço. São apenas pinceladas e fica o ressaibo de tudo o não dito. Resta só um apelo final: leiam sua obra.

 Ely Vieitez Lisboa




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