Dois países, duas atitudes...todos humanos- Eduardo Mesquita


Ao longo destes quatorze anos da minha permanência, aqui neste imenso país que é o Canadá, tenho procurado através dos meios que hoje em dia muito facilmente se colocam á minha disposição, manter–me informado a todos os níveis sobre aquilo que se passa no meu país de origem e na minha cidade, Bragança.
Para aqueles que pensam que a crise financeira que se instalou nalguns países da Europa, incluindo Portugal, é única e exclusiva, tenho a dizer que aqui neste grande país onde vivo, as pessoas vivem hoje com dificuldades muito similares aquelas que os portugueses vivem. Muito frequentemente vejo pessoas a vasculhar nos caixotes do lixo á procura de garrafas e latas de bebidas vazias para poderem vender em postos de reciclagem que por aqui proliferam. 
Depois da queda dos preços do petróleo, milhares de pessoas ficaram sem os seus empregos e consequentemente, ficaram sem meios para continuar a viver tranquilamente como até então. É certo que o preço dos combustíveis praticados por aqui são muito mais baixos que em Portugal, cerca de setenta cêntimos do euro o litro da gasolina, mas outros bens essenciais, principalmente os bens alimentares e habitacionais, os preços praticados são exageradamente elevados ao ponto de muitas pessoas quando vão ao supermercado e carregam os carrinhos com os produtos que precisam, são obrigadas a desistir de muitos na hora de pagar nas caixas registadoras.
Aqui os trabalhadores quando são despedidos não têm direito a qualquer tipo de indemnização e as entidades patronais têm o poder de despedir as pessoas como e quando querem.
Normalmente um trabalhador só sabe que está despedido na hora de ir para casa, e a maior parte das vezes sem qualquer tipo de subsidio de desemprego...O Canadá actualmente, não é um paraíso mas continua a ser um grande país e quem faz a grandeza deste país são exclusivamente as pessoas que vivem e participam na procura da resolução dos problemas sociais. Os canadianos sabem que a crise vai passar e o mais importante acreditam nas pessoas que os governam, respeitam as pessoas que os governam, porque sabem que o governo que têm é fruto das suas vontades democraticamente expressas.
Como eu gostaria de sentir esta cultura em Portugal! 
Em vez disso, vejo pessoas, a aproveitarem–se de uma tragédia onde dezenas de pessoas perderam as vidas, para tirarem proveitos políticos, vejo pessoas a desculparem–se das falhas de um sistema que deveria ter sido previamente e rigorosamente testado para poder dar garantias de perfeito funcionamento na hora e local exato, o que parece que não veio a acontecer mesmo sabendo dos elevados custos que um sistema desses tem. Vejo num noticiário televisivo um presidente de câmara na hora em que lavrava um incêndio no seu concelho e em directo, afirmar que não era aquele dia do incêndio o que mais o preocupava mas sim os dias a seguir ao incêndio, como que o salvar o que pudesse ser salvo, incluindo a vida das pessoas não fosse o mais importante naquele momento, mas sim já estar a alertar o governo para a ajuda que tem que ser dada para a recuperação da economia na região.
Os combates políticos deveriam ter sempre como objectivo principal a luta para criar melhores condições de vida para as populações e as tragédias deveriam ser um motivo para unir todas as classes num sentimento de respeito mútuo e de solidariedade para com todos os abrangidos.
Como pode uma classe como a dos jornalistas que politicamente deveria ser independente, ter membros que estão tão enraizados e ligados a forças políticas, que se transformam nos mais descarados agentes de propagandas dessas forças políticas? Como podem eles fazer um trabalho honesto no sentido de dar uma informação credível e independente? Eu pensava que ser–se jornalista, era ser–se independente na hora de relatar e opinar sobre factos. Infelizmente assim parece não ser e quem perde com isso são todos os outros que procuram fazer o seu trabalho de uma forma séria e imparcial.
Finalmente espero que na minha cidade, Bragança, impere o bom senso durante a campanha para as autárquicas que se aproximam, que haja um debate sério e com respeito, com um claro confronto de ideias, onde os intervenientes dêem a cara com rostos próprios sem precisarem de se refugiar única e exclusivamente nas redes sociais, muitas vezes falando do que não estão informados só para obedecerem a diretrizes partidárias. O poder autárquico deverá ser um poder para servir e contactar directamente com as populações e não estar ao serviço de um centralismo político que tantas vezes se mostra insensível para com muitos dos problemas locais. O poder autárquico existe, e deverá ser soberano e justo nas atitudes que o poder da constituição lhe dá. 
Até para a semana desse lado do mar, depois de oito anos espero encontrar mais serenidade e paz emocional e cada vez mais, o sentido de haver mais sensibilidade para as justiças sociais no país que me viu nascer e que haverá de ser para sempre o país do meu coração.


Eduardo Mesquita



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