Confissões- Mar Navarro




Levo no corpo o suporte da vida
Que não é leve.

A chuva cai e forma rios na ruas
Que levam folhas para baixo
Nas correntezas da cidade
Perco-me quando parecia que tinha-me encontrado.

Paro
Escondo-me.

Labirintos de concreto
E contracturas nas ruas
Caminho rígida
Erecta
Direita
Vertical.

Sorrisos de pedra
Ilhas e vulcões.

Caminhos de pedra
Noites e palavras.

Conversas com pouca pressão atmosférica
Ciclones e marés ao redor
E o vento batendo forte no meu coração
Que começa a ficar um bocado mais frio.

Sou de todos os lugares
E de nenhum
Mando envelopes que não chegam
Apanho cartas que nem vão nem voltam
Vejo vidas que se juntam e separam
Tão rápido como uma estrela cadente
Caindo numa noite de verão no céu claro.

Faço poesia confessional numa língua que minha mãe não fala
E confesso que só soube hoje que estava a confessar-me.
Confesso que não vou usar o Twitter para me queixar
Confesso que minhas queixas vão se esconder entre versos e línguas estrangeiras
Faladas pelos lusos e lusófonos
Cabo-verdianos
Timorenses
Brasileiros.

Confesso que me dói quando alguém apanha a câmara e não sou eu.
Confesso que sinto que sou a melhor fotógrafa da pequena ilha
Mas que sou a pior vendendo o meu trabalho.
Confesso que quando as costas quebram tudo isto dá-me medo.

© Mar Navarro Llombart





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