Na Pele- Célia Moura

Trago na pele as memórias,
loucura desta estranha lucidez.
São horas mortas estes pedaços de nós
pois trouxe comigo desde o útero de minha Mãe
o anoitecer nos olhos e algas nos cabelos.
Poderás burilar as palavras mais belas
emoldurar meu rosto na ternura das mãos
com as quais divagas por este corpo prenhe de enseadas
onde se deliciam gaivotas
mas tu sabes que tudo isso serão instantes
alegrias breves, talvez tanto ou coisa nenhuma.
É assim possessiva esta insónia que me acalenta o peito
beijando-me como uma filha tão amada.
Diz-me, meu amor, um novo alvorecer
faz-me acreditar numa simbiose uterina
do caminho por percorrer
pois hei-de trazer na boca o sabor a amoras
e na pele todas as memórias.

Célia Moura

"No hálito de Afrodite"

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