A Pastelaria Defronte À Casa Vazia De Mim- Célia Moura


Na pastelaria defronte à casa vazia de mim
onde habito
distraio-me nas gargalhadas imbecis
das gentes rotineiras que absorvem meias de leite e galões
fazendo uma espécie de orquestra 
com o autocarro parado adiante
falando da vida alheia
com a boca tão cheia
que chegam a cuspir “gafanhotos” espaciais
apanhando os mais incautos.

São raras as vezes que passo por lá,
mas gosto de observar o saltitar dos pardais em busca de migalhas.

Na pastelaria defronte à casa 
onde ainda habito
o álcool ameniza as mágoas,
a marijuana devolve-lhes os sonhos mais banais
e as crianças vagueiam soltas sem jantar
brincando e comendo gomas e chocolates.

Se ao menos fossem como os pardais da manhã a saltitar
entre as mesas,
se ao menos fossem como alguns cães que certas senhoras
levam a passear aos quais compram bolos de arroz ou com eles dividem a tosta mista!

Quão estéril é a pastelaria defronte a esta casa vazia de mim!

Célia Moura






















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