Fragilidades Humanas- Diamantino Bártolo




No decorrer das nossas vidas deparamo-nos com imensas situações que, pela positiva, e/ou pela negativa, nos afetam permanentemente e, quantas vezes, para o resto da existência. Os valores e sentimentos que cultivamos, e defendemos, são dimensões que tanto podem conduzir à felicidade, como à desventura.
Poderá ser insuficiente, para vivermos felizes: a posse de determinados bens materiais e/ou a realização profissional; a obtenção de um estatuto social de prestígio, títulos e honrarias. Por outro lado, muitos bens imateriais são essenciais para a felicidade e dignidade humanas.
Conquistar e consolidar um amigo verdadeiro, leal, solidário e confidente, pode demorar muito tempo, mas, é um “Bem” tão importante que muito dificilmente alguém conseguirá viver feliz sem ele. Perder um amigo, acontece, muitas vezes, em poucos segundos, a partir do momento em que se verifica que já não existe o SAL da vida: Solidariedade, Amizade e Lealdade.
A Amizade incondicional de um amigo é uma riqueza inestimável, eventualmente, a par de outros bens, um dos valores mais personalizados. Por isso, a Amizade de um verdadeiro amigo, devemos preservá-la, lutar com “unhas e dentes”, contra tudo, e contra todos, que no-la queiram tirar ou diminuí-la.
Uma afeição verdadeira, alicerçada nos valores da Solidariedade, da Amizade, da Lealdade, da Confiabilidade, da Gratidão e da Reciprocidade profundas, será sempre muito difícil de destruir, todavia, se tais valores não existem, ou deles não estamos seguros, então viver-se-á numa falsa e impostora “amizade”, o que, quando descoberta, provoca profunda mágoa, dor e tristeza. Pode, inclusivamente, conduzir à depressão e, em última instância, ao suicídio da pessoa traída, nos seus valores, e sentimentos mais nobres.
A radicalidade de um “Amor-de-Amigo”, não é compatível com posições que ofendem aquele sentimento tão honroso, com atitudes e comportamentos de permanente indiferença para o com amigo, e agradabilidade sistemática para com aqueles que sabemos terem ofendido o nosso verdadeiro protetor.
Em boa verdade, é impossível ser-se solidário com quem não é solidário connosco, ou com os nossos amigos, com quem se relaciona com aqueles que nos ofendem, a nós ou ao nosso amigo. Quando existe este duplo posicionamento, infelizmente, vai resultando enquanto as pessoas não se apercebem dele, e que quem o usa, está a ser desleal para com o amigo verdadeiro.
Por vezes, ganha-se um amigo e com ele convivemos determinado tempo da nossa vida, até que, pelas mais diversas e, eventualmente, fúteis circunstâncias, decidimos abandonar tal amigo, mesmo sabendo que estamos a desconsiderá-lo, magoá-lo e a humilhá-lo, que ele não merece certas atitudes de indiferença, desprezo e até de ódio disfarçado, da nossa parte.
Entretanto, encontramos outras pessoas que nos podem ser, num dado e muito específico momento, materialmente mais “necessárias”, para atingirmos determinados objetivos e, estas pessoas, assim “angariadas” e/ou “descidas à terra”, quais “Salvadoras da Pátria”, passam, então, para primeiro plano, enquanto que, a/o verdadeira/o amiga/o é atirada/o para a “prateleira dos “desprezados”, dos “substituíveis”, enfim, dos “descartáveis”
Mas o mundo é realmente muito pequeno e, a torná-lo cada vez mais uma aldeia de interdependências, está todo o processo de globalização. O mundo começa a estar repleto de “esquinas”. A vida prega-nos partidas e o “destino”, por vezes, é irónico e cruel. Manter os amigos com provas dadas, é uma capacidade que se tem de aperfeiçoar, conscientemente, para evitar vivermos ao sabor das correntes, onde todos navegam e procuram salvar a pele, na hora do naufrágio.
Quando, por qualquer motivo, estamos bem na vida, ou julgamos que o estamos, entendemos que já não voltamos a precisar de quem foi nosso amigo, de quem sempre esteve ao nosso lado, mas que deixou de ter interesse para nós, porque, consideramos, então, que já não necessitamos mais desse amigo, eis que, numa reviravolta do “mar da vida”, ficamos numa situação de grande fragilidade humana, moral, sentimental e material.
Inevitavelmente, recordamos aqueles que foram nossos verdadeiros amigos que, durante uma fase da nossa vida, nos ajudaram em tudo o que carecemos, que estiveram ao nosso lado nas horas boas, mas também nos momentos mais difíceis da vida, contudo, quando julgamos que não iriamos precisar mais deles, os afastamos cruelmente, por vezes através de estratégias meticulosamente calculadas, até com a ajuda da/o/s nova/o/s supostas/o/s amigas/o/s, onde não faltam a injustiça, a ingratidão e a humilhação, para quem as sofre, no mais fundo da sua dignidade, e dos seus sentimentos.
Podemos viver muitos anos com um estatuto de “superioridade” social, financeira, profissional e até etária, esta em função de uma ainda relativa juventude. Acreditamos que os amigos mais maduros, acabam por “desaparecer” primeiro, naturalmente, no que respeita à sua existência física. Podemos pensar que nunca mais vamos “aterrar” no território dos “comuns e pacatos mortais”, onde “residia” esse amigo.
Somos tentados, então, a agir, com indiferença e insensibilidade, contra os mais fracos, mesmo que numa determinada fase das nossas vidas, quando, realmente, estávamos na “mó de baixo” esses tais, amigos verdadeiros, que agora nos parecem frágeis, nos tenham apoiado incondicionalmente, nos hajam aberto os seus corações, e entregue os seus mais nobres sentimentos.
Mas, como em tudo na vida, “Não há bem que sempre dure; nem mal que nunca acabe”. Fazem-se grandes “castelos”, em cima das areias movediças das ilusões da vida. Trocam-se amizades sólidas, solidárias e leais, por bajulações, aparências e circunstancialismos momentâneos.
Deixamo-nos seduzir por futilidades, por ofertas momentâneas de colaboração (e que nós até precisamos, justamente, dada a nossa fragilidade, ignorando que tais pessoas, que sabem aparecer na hora certa, já nos ofenderam, ou ofenderam os nossos verdadeiros amigos), com vernizes, punhos de renda, que escodem, em muitas pessoas: a hipocrisia, a manipulação e a conquista fácil de supostas amizades.
Mas isso acabará um dia. Acordaremos, então, para uma dolorosa realidade que, de fato, não pensamos pudesse vir a acontecer, e logo connosco. Deixamo-nos inebriar pelas aparências, queremos juntarmo-nos às maiorias, mesmo que isso vá contra os mais elementares princípios da nossa dignidade.
Esquecemo-nos que, quanto mais tempo permanecermos nesta situação, muito menos hipóteses teremos de sairmos dessa “lama” de umas certas amizades impostoras, dissimuladas, maledicentes, implacavelmente estigmatizantes, para o resto da nossa vida.
Ignoramos que, entretanto, os nossos verdadeiros amigos que, em relação a eles, tudo fizemos para, cirurgicamente, os afastar, desconsiderar, ridicularizar, humilhar e magoar, estão sofrendo porque se sentiram traídos, trocados, abandonados. A fragilidade dos nossos valores “bateu no fundo do poço” da incompreensão, da insensibilidade, da ingratidão. De facto, somos muito fracos.
Recordaremos, então, todo um passado de amizade pura e solidária, que os amigos agora desprezados, nos proporcionaram. Poderá ser tarde, para recuperar os amigos, os princípios, os valores e os sentimentos. Tudo isto faz parte da fragilidade humana, contra a qual teremos de lutar, especialmente se a nossa vida, e a nossa relação com o “Outro”, que queremos ter por Amigo, for de Solidariedade, Amizade e Lealdade, SAL da vida.

No fim da existência, e para aqueles que de alguma forma, e por circunstâncias diversas, connosco conviveram, será feito o balanço, eventualmente, transmitido de uns para outros, podendo chegar, inclusivamente, ao conhecimento daqueles que nos eram mais próximos: pais, cônjuge, filhos, amigos, colegas.
As ações, realmente, ficam com quem as praticam, mas o julgamento, justo ou injusto, será feito, desde logo a começar pelo “Tribunal da nossa Consciência”, ao qual não conseguiremos escapar, porque do passado ninguém poderá fugir.
A sentença ditada pelo “Tribunal da Consciência” será rigorosa, a pena consistirá em receberem, na mesma moeda, tudo o que fizeram, de bom ou de mal, certamente. Este “Tribunal” colocará, então, a nu, toda a nossa fragilidade e, eventualmente, considerará esta nossa fraqueza, como uma possível atenuante, porém, a culpa, o remorso, o sofrimento, isso não mais nos abandonará para o resto da vida.
Podem os racionalistas, os materialistas os positivistas e todas as pessoas insensíveis a determinados princípios, valores e sentimentos, pensar que isto são teorias, “delírios”, de quem alguma vez se sentiu desprezado, traído, humilhado. Mas não devem ignorar que, ao pensarem assim, também revelam uma flagrante e indisfarçável fragilidade, encapuzada, nas alegadas atitudes práticas, de uma vida real, concreta e objetiva. São as fragilidades Humanas.



Com o protesto da minha perene GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal


COMENDADOR das Ciências da Educação, Letras, Cultura e Meio Ambiente Newsmaker – Brasil



DOCTOR HONORIS CAUSA EN LITERATURA” pela Academia Latinoamericana de Literatura Moderna y la Sociedad Académica de Historiadores Latinoamericanos.












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