Nem só de prata ou ouro- Michelangelo



Na opinião de Alma Altizer, Michelangelo foi um poeta extraordinário, e em seus melhores momentos foi capaz de expressar uma poderosa unidade de visão que os torna ao mesmo tempo rústicos e sofisticados, arcaicos e contemporâneos, obscuros e cristalinamente claros. Buscava com eles poder expressar "os movimentos internos de sua alma". Para a pesquisadora sua força deriva de sua capacidade de condensar nos poucos versos de suas formas favoritas, o soneto e o madrigal, uma vasta gama de significados e uma rica pletora de imagens poéticas, penetrando fundo na dialética inerente à vida humana. Nos cerca de trezentos poemas e fragmentos que chegaram aos dias de hoje é recorrente a exploração de antíteses — imaginação e realidade, criação e destruição, sujeito o objeto, espírito e matéria, amante e amado, dor e prazer, vida interior e exterior, beleza e feiura, vida e morte. Suas primeiras obras são muitas vezes inacabadas, convencionais e derivativas de Dante Alighieri e Petrarca, e também da filosofia escolástica em sua maneira de lidar com os paradoxos morais e religiosos, mas com o passar dos anos desenvolveu uma técnica sintética original que lhe possibilitou manejar as antíteses em vários planos simultâneos. Girardi apontou como outras características de sua poesia uma tendência a abstrair e interiorizar as imagens e expressões formais que herdou de seus modelos, uma recusa a usar conceitos de maneira simplesmente ornamental como um fim em si mesmos, e uma capacidade de evitar circunlóquios e ir diretamente ao ponto desejado, o que lhes empresta uma grande força persuasiva e os anima como imagens de uma experiência verdadeira.A seguir um madrigal composto para Vittoria Colonna:

pintura Vittoria Colonna por Sebastiano del Piombo, c. 1520

 (tradução livre)


Nem só de prata ou ouro
fusos no fogo, ainda espera ser cheia,
oca da obra feita,
a fôrma, que só a revela ao quebrar;
eu também, a queimar
de amor, por dentro eu forro
o anelo oco pela beleza infinda
daquela que eu adoro,
alma e coração desta frágil vida.
Nobre dama, e bem-vinda,
em mim desce por tão finos espaços,
que a extraí-la me rompo em pedaços.



Non pur d'argento o d'oro

Nem só de prata ou ouro
"Non pur d'argento o d'oro
vinto dal foco esser po' piena aspetta,
vota d'opra prefetta,
la forma, che sol fratta il tragge fora;
tal io, col foco ancora
d'amor dentro ristoro
il desir voto di beltà infinita,
di coste' ch'i' adoro,
anima e cor della mie fragil vita.
Alta donna gradita
in me discende per sì brevi spazi,
c'a trarla fuor convien mi rompa e strazzi."











Fonte: Wikipédia






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