Amizade Incondicional- Diamantino Bártolo

    
     Os verdadeiros e sinceros princípios, valores, sentimentos e amigos são inegociáveis porque, de contrário, faltar-se-á ao que de mais autêntico deverá prevalecer nas pessoas que,reciprocamente, se desejam bem.
    Efetivamente, a comunhão daquelas dimensões, nas pessoas genuinamente humanas, constitui a superior e sublime diferença entre o ser humano e as restantes criaturas que habitam este planeta. A amizade pura, sem restrições, é o sentimento que consolida todas relações entre pessoas que se gostam, dir-se-á, que se amam, aqui na grandeza e generosidade de um genuíno “Amor-de-Amigo”.
    Ao longo da vida, nas diferentes situações, papéis e intervenções que surgem a cada ser humano, os sentimentos perduram, com maior ou menor intensidade, de acordo com os níveis de lealdade, reciprocidade e confiabilidade da pessoa por quem eles se manifestam.
    A amizade não pode ficar prisioneira de conjunturas circunstanciais e, muito menos, de oportunismos e conveniências pessoais, sociais, profissionais e estatutárias. A amizade é um bem supremo, pelo qual se deve pautar toda a relação que se deseja sincera, permanente e fidedigna. A amizade, quando se norteia pela reciprocidade, deverá ser eterna. Ela só é conciliável com a lealdade, com a solidariedade, com a cumplicidade, com a reciprocidade, com a gratidão e com a firmeza de atitudes.
    É praticamente impossível conceber a amizade sem algum sofrimento. A pessoa que verdadeiramente alimenta um autêntico “Amor-de-Amigo”, ao longo de uma relação, enfrentará situações complexas, por desinformação, por dificuldades de explicação, por incorreta interpretação de uma ou das duas pessoas envolvidas e, porque estas se querem bem, preocupam-se, mutuamente, com o bem-estar de cada uma, e tudo o que contrarie aqueles objetivos, causa dor.
    Tais desentendimentos, temporários, possibilitam, depois, um reforço da amizade, justamente, pelo esclarecimento e pela reconciliação. É nesta dialética relacional que os amigos atingem, com frequência, a Felicidade de se ser um verdadeiro e incondicional amigo. A Felicidade dos amigos é um bem supremo, não acessível a pseudo-amigos.
    O amigo será sempre um conselheiro, um confidente, um cúmplice, no qual se pode acreditar, desabafar, pedir ajuda, dar apoio. O amigo não vira as costas, em nenhuma circunstância, à pessoa de quem verdadeiramente gosta, que por ela luta incansavelmente, procurando, a todo o custo, tê-la sempre do seu lado. Os amigos são para se ouvirem, para se solidarizarem, para partilharem tudo, sem restrições, nos bons e nos maus momentos. Amigos incondicionais, para a vida e para a morte.
      Há um princípio na vida das relações pessoais, e da amizade que reza o seguinte: «Quem convive, confraterniza e se relaciona bem, para lá do estritamente profissional, com pessoas que ofendem, a nós e/ou aos nossos amigos, então quem continua a conviver com tais pessoas, não pode ser nossa verdadeira e sincera amiga». (AUTOR). Há como que uma incompatibilidade sentimental, afinal, e se se quiser, uma inconfortável “flexibilidade” que, quantas vezes, magoa o verdadeiro amigo.
    Pode-se transformar aquele princípio na seguinte fórmula: “Se “A” é amigo de “B”; “B” é amigo de “C”; mas “C” é detrator de “A”; então “B” não pode ser amigo verdadeiro de “A” e vice-versa. Se assim não for e todos se fazem amigos de todos, então talvez esteja aberto o caminho da hipocrisia, da falsidade, da desconfiança.
Dito de forma mais direta: «O amigo do meu adversário/inimigo, e/ou que com este convive, não será, certamente, meu amigo». Se assim não for, então, as pessoas envolvidas numa relação desta natureza, fingem que são amigas, elas cuidam das suas aparências, pretendem fazer passar a ideia de que são “boazinhas”, quais “lobos vestidas de cordeirinhos”. Infelizmente, a sociedade, está repleta de “cordeirinhos”.
    Outras há que colocando, acima de tudo e de todos, os seus próprios interesses, egoísmos e ganâncias, do tipo: “primeiro eu, depois eu e sempre eu”, dando, depois, para os outros, com falsa generosidade, o que já não podem e/ou não querem “comer”, também não parece que possam ser amigas sinceras, do coração.
    Estas pessoas, enquanto a vida corre para o seu lado, tudo fazem para ganhar as simpatias, convivendo com “Deus e com o Diabo”, porém, quando as suas ambições e ganâncias se frustram, são as primeiras a “abandonar o barco”, leia-se, os presumíveis “amigos”, disso não parece existir as menores dúvidas. De resto, até se vão aproveitando de quem está de boa-fé, com bons sentimentos e sinceridade.
    Desmascaradas tais “falsas amizades”, então vão ficar aquelas pessoas que realmente nos “amam”, como amigas leais, cúmplices e em quem se pode continuar a confiar, até ao resto da vida. Em boa verdade não interessa ter muitos alegados amigos de ocasião, e para quando lhes convém este “estatuto”, importa, isso sim, ter muito poucos amigos, mas que sejam idóneos, solidários, leais, companheiros e nos apoiem quando nós mais precisamos deles.
    Por vezes, menosprezam-se amizades que provêm de pessoas simples, humildes, generosas, que não sabem mentir, nem disfarçar, que dizem, com coragem, mas lealmente, o que lhes vai na alma. Os sentimentos destas pessoas nem sempre são apreciados e respeitados, valorizando-se mais, em certos círculos societários, a bajulação e a hipocrisia.
    Pessoas leais, quantas vezes não conseguem transmitir os verdadeiros e puros sentimentos e emoções, e quando pensam que esse valor, o da lealdade, é apreciado, confrontam-se, incompreensivelmente, com atitudes de menosprezo, de rejeição, precisamente, por parte de quem esperavam amizade sincera, carinho e ternura.
    Vive-se, em muitas circunstâncias, em meios sociais e profissionais de cinismo, de falsidades, enfim, de “sorrisos e palavrinhas suaves”. Infelizmente não se acredita nesta realidade, enquanto é tempo. Algumas pessoas, como que se deixam “seduzir” por estes estilos de relacionamento, em que os “punhos de renda” inebriam, produzem como que uma “tranquilidade paradisíaca” e, assim, sem aparentes problemas, preferem esta relação balofa e hipócrita. Uma “Paz Podre”.
    O receio de assumir, inequívoca e publicamente, valores como a fidelidade, a solidariedade, a conivência, a credibilidade, a reciprocidade, entre outros, que conduzem a uma amizade firme e duradoura, é evidente em muitas pessoas, porque temem perder algum tipo de benefício, situações, interesses e pessoas de que julgam necessitar. Afinal, ficam cada vez mais prisioneiras dos falsos amigos.
    Compreende-se esta posição, mas duvida-se que ela possa vir a ser a solução, para a elevação da autoestima, para a afirmação da própria dignidade, para a caracterização de uma personalidade bem definida, pela positiva. O verdadeiro amigo nunca poderá ficar passivo perante tais comportamentos e, certamente, pedirá, generosamente, ao seu amigo, para abandonar este rumo de insegurança.
    Com efeito, por vezes, pensamos que precisamos de certos favores, de determinadas pessoas, colocamos de lado as nossas próprias capacidades, eventualmente, um saudável orgulho que podemos e devemos defender, com prudência, sabedoria e humildade, sem nunca magoar ninguém, pela possível sobranceria ostentada.
    Recorremos a tais pessoas, mesmo que elas, num passado recente, nos tenham ofendido, a nós ou a amigos nossos, ou então, que continuem a pactuar e a conviver com quem nos faz mal.  Estamos a humilharmo-nos.
    Outras vezes, exaltamo-nos com os verdadeiros amigos, só porque estes têm a lealdade e a coragem de nos alertar para certos perigos e, como que castigando aqueles amigos, redobramo-nos em amabilidades e subserviências para com aquelas pessoas que, disfarçadas de “amigas”, cuidam primeiro dos seus interesses, ainda que à nossa custa, ou ignorando-nos.
    Não se pode hipotecar a dignidade, a competência e a superior qualidade da nossa inteligência, em troca de uns favores casuísticos, de umas “esmolas” intelectuais, profissionais ou outras. A quem nos ofende e aos que pactuam, convivem e confraternizam com tais pessoas, nada devemos pedir, nenhum favor, nenhuma ajuda, porque a nossa firmeza, os nossos sentimentos, o nosso caráter são bem mais importantes, e abonatórios das nossas personalidades.
    Por tudo o que aqui fica refletido, e que cada pessoa, seguramente, já tem experienciado ao longo da vida, o corolário mais lógico vai no sentido de que: construir, alimentar e consolidar uma amizade, para a vida e, até, para além desta, não depende, apenas, da racionalidade de cada pessoa, nem está acessível a mentes influenciáveis e/ou impressionáveis. Exige verdade, amor e firmeza.
    Uma amizade leal, suportada num sincero “Amor-de-Amigo”, entre duas pessoas, independentemente do sexo, raça, confissão e estatuto, tem todas as condições para frutificar e perdurar, para todo o sempre.
    Dois amigos assim, jamais se deixarão envolver em falsas aparências, em relações pretensamente amigáveis, em compromissos alegadamente honestos, com quaisquer pessoas que utilizam estratégias inconfessáveis. A Amizade verdadeira é transparente e objetiva.
    São os gestos simples, as gentilezas, a boa educação e correção em todos os papéis da vida, as preocupações pelo bem-estar do amigo, a solidariedade sempre reiterada, a lealdade, a cumplicidade, a confiabilidade e a reciprocidade que sustentam, para sempre, uma amizade pura e superior, porque, em boa verdade: “Das pequenas coisas e gestos simples, Também se fazem as grandes amizades da vida”.
    Para se conquistar um amigo pode-se demorar dias, meses ou anos. Para se perder um amigo, são suficientes alguns segundos. Por isso, quando se têm provas irrefutáveis, segundo as quais, uma determinada pessoa é nossa verdadeira amiga, e se queremos a sua amizade, o caminho a seguir é só um: retribuirmos, incondicionalmente, tal amizade, estarmos, inequivocamente ao lado desse amigo, rejeitarmos, liminarmente, os “lobos com pele de cordeirinhos”, e todas as atitudes de quem pretende fazer-se passar por nosso amigo.
    Adaptando o adágio popular, segundo qual: “vale mais um pássaro na mão do que dois a voar”, também se poderá dizer que vale mais um amigo fiel e solidário, em todas as circunstâncias e durante toda a vida, do que muitos “pseudo-amigos” em situações pontuais e, quantas vezes, para exclusivo interesse deles próprios.
    É importante referir, que este trabalho tem por objetivo levar os leitores a refletir sobre este inestimável sentimento, que é a Amizade e, neste sentido, apelar para a Felicidade que um amigo verdadeiro pode proporcionar.
    Hoje, ter um amigo seguro, franco, solidário, disponível para nos ouvir, aconselhar e apoiar, que por nós é capaz de tudo fazer, só para nos ver bem na vida, e realizados e felizes, pode-se considerar uma verdadeira dádiva, uma autêntica ventura.
    A amizade incondicional de um amigo assim, é uma das maiores riquezas a que uma pessoa pode aspirar na vida. Com efeito, a relação pessoal mais pura e nobre, entre dois amigos, só é possível quando estes se entregam sem reservas, confiando, totalmente, na força, honestidade e respeito de um sincero “Amor-de-Amigo”.
 
Venade/Caminha – Portugal, 2020
 
Com o protesto da minha perene GRATIDÃO
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
http://nalap.org/
http://nalap.org/Directoria.aspx
 





 

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