Natal: Época de Fraternidade e Gratidão- Diamantino Bártolo

    É possível afirmar-se, sem grande margem de erro, que durante o ano inteiro, todos os dias recordam uma qualquer efeméride: seja um acontecimento mundial, de cariz social, cultural, científico, bélico, histórico, religioso, hagiográfico; seja, ainda, no âmbito das diversas profissões, biografias de grandes figuras mundiais, descobertas tecnológicas, comemorações de eventos que de alguma forma se tornaram referências universais.
    O Calendário anual dos Dias Ecuménicos, mas, também, nacionais, e dos temas a eles associados, realmente é muito rico, e extenso, de resto, verifica-se ao longo do ano que, por vezes, para um só dia, se revivem diversos acontecimentos e ainda que, de ano para ano, a lista vem aumentando e, em alguns casos, há alteração da data para o mesmo evento.
    O Natal é um desses dias universais que, praticamente, em todo o mundo cristão, se celebra com intensa emoção e profunda devoção, esta no que respeita aos rituais religiosos, aos quais, e paralelamente, se desenrola a festa profana, no contexto familiar, num misto de: amor, saudade, gratidão e alegria, na maior parte dos lares portugueses.
    Há princípios, valores e sentimentos que, nesta época do ano, se destacam com mais veemência: uns, obviamente, são verdadeiros, vividos e manifestados com grande sinceridade e afetuosidade; outros, com intenções diversas e objetivos bem definidos, não sendo de escamotear o recurso à hipocrisia, à bajulação e à obtenção de benefícios que, de outra forma tais pessoas não conseguiriam.
    A quadra natalícia, também é propícia à exuberância financeira, e/ou à ostentação de um qualquer poder: através da exibição de ofertas luxuosas às pessoas a quem se quer bem; ou impressionar, ou ainda, cativar para um apoio, eventualmente, inconfessável. O Natal serve para tudo isto, e muito mais.
    Mas, abordemos este período do ano tão sublime quanto respeitável, para destacarmos os sentimentos da saudade, para aquelas pessoas, amigas, familiares e de quem gostamos, para com elas convivermos e recordarmos bons momentos de confraternização, seja no âmbito académico, social, profissional e de lazer, que ao longo dos anos ocorreram.
    De igual forma, não se podem ignorar os valores da Solidariedade, da Humildade e da Gratidão que, nesta época do ano, para muitas pessoas, se transformam em autênticos atos de benevolência para com familiares, amigos e colegas, pelo menos durante alguns dias, o mundo conflituoso parece ficar afastado dos pensamentos, e das ações de grande parte da humanidade
    O Natal presta-se muito bem para comportamentos solidários, verificando-se que muitas pessoas doam a outras, alguns dos seus bens e, uma situação interessante, é que uma faixa significativa de uma população mais pobre, não olha a esforços, nem a despesas para ajudar quem ainda mais precisa, justamente através dos peditórios promovidos por diversas entidades, habitualmente, privadas.
    Com efeito, tais intervenções, promovidas por grandes fundações, como: Cruz Vermelha, Misericórdias, Banco Alimentar, diversas Organizações Não Governamentais e Instituições Particulares de Solidariedade Social, com todo um corpo de voluntariado, angariam bens de primeira necessidade, para serem entregues às pessoas em dificuldades.
    Este espírito solidário, tão característico do povo Português, faz-se notar ao longo do ano, no entanto, é em situações de catástrofe ou em períodos mais simbólicos, como o Natal, que a dádiva é, praticamente, instintiva, porque este valor de que tanto nos orgulhamos, ultrapassa fronteiras, como é sabido. Importa destacar que a solidariedade não é um conceito vazio, nem tão pouco negociável, porque ela implica autenticidade, bondade e humildade.
    O Natal que, um pouco por todo o mundo, ainda se comemora com a dignidade que se impõe, propicia às famílias, aos amigos e até aos conhecidos mais chegados, momentos de intensa confraternização, onde a saudade dos que estiveram ausentes vem, emocionalmente, à “flor da pele”, para, por entre abraços, beijos e lágrimas, estas de alegria e felicidade, as pessoas “matarem” as saudades, tantas vezes quantas as necessárias, até que os corações se acalmem.
    Como seria magnífico que todos os dias do ano se festejasse o Natal, numa perspectiva de amor, de paz e de felicidade. Infelizmente, tais como muitos outros dias festivos, que se celebram ao longo do ano, assim não acontece o que: se por um lado, não constituiu um mal maior; por outro lado, também permite viver este período da família com mais veemência.
    Este período de tempo, também poderá ser aproveitado para uma revisão da perceção, relativamente ao que fizemos durante os restantes 364 dias do ano, porque em boa verdade, ao longo dos anos, ou até de décadas, muitos erros foram cometidos: uns, involuntariamente; outros, propositadamente, por isso, é chegado o momento de “acertamos as contas” com o “tribunal da nossa consciência”.
    O contexto natalício importa que seja experienciado sem mágoas, sem aversões e, acima de tudo, que os sentimentos negativos sejam substituídos por afetos positivos, no mínimo, que a partir destes, se inicie um processo de reconciliação para com as pessoas que, ao longo do ano, ou dos anos, estiveram de costas voltadas para nós e, provavelmente, também nós não teremos agido da melhor forma, logo, é  necessária a nossa compreensão, benevolência,  generosidade e humildade para que possamos retomar o que, possivelmente, há décadas terá sido interrompido, quantas vezes sem se saber as razões de tais comportamentos.
    O Natal é união da família, certamente, mas essa circunstância constitui, apenas, uma parte da grandeza que devemos dar ao dia do nascimento de Jesus Cristo, obviamente, na perspectiva dos devotos católicos, porque outras manifestações, realizadas por crentes noutras dimensões religiosas, seguramente que devem ser respeitadas, sem censuras, nem condenações, até porque, poderá  alguém afirmar com total certeza, quem é que neste mundo está certo ou errado, no que respeita a uma possível vida espiritual, para além da morte física?
    No âmbito das nossas tradições natalícias: sejam de natureza religiosa cristã; sejam no âmbito dos festejos profanos; sejam, ainda, ao nível da solidariedade para com os mais necessitados, a verdade é que deveremos colocar de lado todas e quaisquer divergências, que nos tenham separado no passado e, retomemos, agora, uma vida de harmonização, de amor, de paz e de felicidade.
    Neste Natal de 2021, e no que a Portugal respeita, haveria melhores condições materiais para que: as pessoas, as famílias, os trabalhadores, os empresários e todo o tecido económico-social pudessem “respirar” um pouco de uma carga fiscal brutal que, durante alguns anos lhes foi imposta, de fora para dentro, desnecessariamente, conforme se tem vindo a comprovar, mas, entretanto, 2021 será um ano e má memória para todo o mundo.
    A pandemia, provocada pelo vírus COVID-19, que logo no início do ano se alastrou por toda a Europa e restantes continentes, tem levado milhões de pessoas a infeções graves e mortes.
    Portugal e os Portugueses, em geral, não têm razões fortes para: festejar este Natal como era de tradição, contudo: a esperança em melhores dias, não morreu; a esperança num futuro melhor mantêm-se, com perspetivas de um nível de vida superior a que, legal e legitimamente têm direito; portanto, haverá motivos que justificam acreditar, que o pior brevemente, estará a passar; porque soubemos vencer os obstáculos que nos foram colocados, razões mais que suficientes para encararmos este Natal com algum otimismo, apesar das duras restrições e condicionalismos a que ainda estamos sujeitos.
    Desperdiçar esta quadra tão importante na vida das pessoas, das famílias, das organizações, pode significar mais uma oportunidade perdida, no caminho do Bem-Comum, do Amor, da Paz e da Felicidade. Não querer aderir, com entusiasmo, às seculares e salutares tradições religiosas e profanas portuguesas, dentro do que é possível e nos é permitido, é colocar-se à margem de uma comunidade civilizada, culta e humanista, como é a Portuguesa, em particular, e a sociedade Lusófona em geral.
    Independentemente da crítica, já muito banal, que muitas pessoas fazem, quando afirmam que “Natal deveria ser todos os dias”, com a qual até se concorda, a verdade é que, se pelo menos, uma vez por ano, houver um esforço de boa-vontade, de afeto sincero e de alegria, então vale a pena esperar um ano para se vivenciar este dia, com a dignidade que tanto nos caracteriza.
  Aproveito esta oportunidade para: primeiro, pedir desculpa por algum erro que, involuntariamente, tenha cometido e  magoado alguém; depois para desejar um Santo e Feliz Natal, com verdade, com lealdade, com gratidão, seja no seio da família, seja com outras pessoas, com aquela amizade de um sincero «Amor Humanista», com um sentimento de tolerância, de perdão e muito reconhecimento pelo que me tem ajudado, ao longo da minha vida, compreendendo-me e nunca me abandonando. É este Natal, praticamente simbólico, que eu desejo festejar com a alegria possível, pesem embora as atuais restrições e condicionalismos, impostos por uma pandemia cruel e mortífera. Próspero Ano Novo de 2022 e que ele nos proporcione o fim desta catástrofe
 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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