Diz-me!- Albertino Galvao

 

Diz-me!
Porque as pedras da calçada
já não sentem os teus passos
manhã cedo, meu amor,
e o vento já não sopra o teu perfume
pela rua onde mora a minha dor?

Diz-me!
Porque murcham as hortênsias no jardim
e não nascem, nos loendros, primaveras?
Porque as noites são mais negras e severas,
e as estrelas dos teus olhos
já não brilham, como antes, para mim?

Diz-me!
Porque o dia já não tem o mesmo encanto
e o alecrim perdeu o cheiro e até o viço?
Porque a lua cheia já não estende o velho manto
nem acende o nosso amor com seu feitiço?
Porque crescem as urtigas no meu peito
e os espinhos da idade me atormentam?
Porque sinto tanto frio no meu leito
e os seios da tristeza me amamentam?

Diz-me!
Em que portas teus desejos se esconderam
Em que lábios os teus beijos se alojaram
Com que sonhos tu teceste novos laços
Em que dedos os teus dedos se enlaçaram
e em que braços os teus braços se acolheram
quando os meus tanto queriam seus abraços?

Diz-me porque evitas que eu invada
as fronteiras do teu corpo
bloqueando-me a entrada
com as grades do teu medo?
Porque impedes que meu beijo
quebre o gelo dos teus lábios
e estilhace a carapaça
onde escondes teus segredos?

Diz-me!
Porque foge o teu olhar
quando o meu nele se fixa
e à noite porque choras
quando em ti desejos gritam?
Porque deixas que teus sonhos
se passeiem por teus seios
e te roubem os prazeres
que se negam aos meus dedos?

Diz-me!
Porque fechas as portadas do prazer
e não pedes nem me deixas
dar-te amor e receber?
Porque foges dos meus braços
se de abraços tu precisas?
Tu não sabes que os abraços
dão conforto e segurança
às pessoas indecisas!

Vem… vem agora...
Vem agora, por favor!
Abre as cortinas da vida!
Salta a cerca que limita
as vontades que alimentas!
Parte a concha que te prende!
Rasga o medo que te oprime
e à luz do sol da esperança
lê meu poema e entende
que apesar da rima ausente
a ternura está presente
e é amor o que ele exprime!


Comentários

A minha gratidão pela divulgação dos meus poemas e parabéns pela excelência do blogue.
Com estima
Abgalvão