PÁSCOA: SONHO DA FELICIDADE- Diamantino Bártolo

     

    Mais um período Pascal se está a viver, com milhões de portugueses ainda, relativamente, “crucificados” por: impostos, taxas, sobretaxas, comparticipações extraordinárias, desemprego, fome, exclusão; idosos que se “arrastam”, sem terem a certeza de quanto vão receber de reforma e/ou pensão no mês seguinte; centenas de milhares de cidadãos que procuram, desesperadamente, um trabalho; excluídos que continuam a dormir na rua, com fome, sede, frio e doentes; jovens que abandonam a família, os amigos, o país em busca, no estrangeiro, de uma vida de trabalho e de dignidade, a que têm direito, mas que o país lhes recusa; e também, milhares de pessoas que, apesar da idade, ainda poderiam ser úteis à sociedade, com a sua experiência e sabedoria, todavia, são consideradas uma espécie de excluídos especiais, porque: por um lado, não os deixam trabalhar; mas por outro lado, lhes retiraram parte dos rendimentos para os quais labutaram e descontaram décadas.
    É tempo de se acabar, definitivamente, com o sofrimento e fazer descer da “Cruz” todos os portugueses que nos últimos anos foram: “crucificados”, injusta, imoral e, quem sabe, ilegalmente; é tempo de se cumprirem promessas feitas em contextos reais e que milhões de portugueses acreditaram e colaboram, para que elas fossem executadas; é tempo de nos ser restituído o respeito, a solidariedade, a dignidade devida, a pessoas verdadeiramente humanas.
    Este ano, a Páscoa, enquanto acontecimento religioso no mundo católico, decorre em data muito próxima de outro grande evento nacional que é o vinte e cinco de abril, data para se comemorar a liberdade, a igualdade e a fraternidade, valores que também são essenciais para se reconhecer a dignidade humana.
    Religião e Política não são incompatíveis, pelo contrário, podem articular-se, cooperar e encontrarem as soluções para que em Portugal, e no mundo, se viva com perspectivas de um futuro muito melhor, para que a sociedade portuguesa sinta, irreversivelmente, que os seus deveres são equitativamente exigidos, mas também os seus direitos integralmente respeitados.
    Os Portugueses são credores, em todo o planeta, de grande admiração, respeito e estima, porque são cumpridores, honestos, trabalhadores, humildes, educados e criativos. Tais qualidades devem ser reconhecidas “cá dentro”, entre todos nós, a começar por quem nos administra e em quem milhões de cidadãos acreditaram, independentemente das opções políticas, religiosas e filosóficas de cada um e dos respetivos estatutos socioprofissionais. É tempo de “Descrucificar” a população; é tempo de a retirar, definitivamente, da “Pesada Cruz”, a que foi submetida, injustamente, durante alguns, longos, demasiado longos, anos.
    Nesta Páscoa, que todos desejamos, finalmente, vivê-la com alegria e esperança, num futuro muito melhor, queremos, apesar de tudo, continuar a alimentar o “sonho da felicidade”, que se pretende realizar através da segurança, da estabilidade no trabalho, na certeza de um fim de vida confortável, sem receios de cortes nas pensões/reformas. Temos direitos adquiridos por contratos firmados, honestamente, imbuídos de boa-fé, com um parceiro que tem o dever de os cumprir e, se possível, melhorar, pelo menos em benefício dos mais carenciados e desprotegidos.
    E se é certo que: «A felicidade aumenta com a intervenção social e participação nas organizações beneficientes …» (RICARD, 2005:217), então, é necessário que o Estado se preocupe muito mais com a dimensão social que deve ter para com todos os portugueses, porque temos o direito de sermos felizes, aliás: «Nascemos para sermos felizes» (MARCELO, 2016, in: BÁRTOLO, 2017:Contra-Capa), em várias dimensões: axiológica, trabalho, segurança social, saúde, educação, formação, habitação e lazer, entre outras.
    É tempo de se dizer “basta”, de não se crucificar sempre os mesmos. Convoquem-se aqueles que não sendo funcionários públicos, reformados, pensionistas e trabalhadores do setor privado, mas os outros, aqueles que ocupam posições de destaque, bem remuneradas, porque, seguramente, que estes também estarão disponíveis para darem o seu contributo e, desta forma, atenuarem o sacrifício daqueles que, nos últimos anos, têm vindo a pagar a fatura de uma “despesa” que não fizeram. Corte-se no que é exagerado, nos bens e benefícios supérfluos, porque ainda nos poderá vir a fazer falta.
    Mais uma Páscoa. Nesta festa da Ressurreição de Cristo Redentor: que se continue com a “ressurreição/restauração” dos restantes direitos injustamente retirados; que se prossiga no respeito por todos quantos têm contribuído, para que este país seja símbolo do cumprimento dos Direitos Humanos, das Normas Constitucionais, enfim, pela exaltação da dignidade da pessoa humana.
    Nesta Páscoa de 2022, em que ainda não estamos totalmente protegidos da Pandemia provocada pelo COVID-19, em 2020, o mundo confronta-se agora com uma outra calamidade, com dimensões regionais que podem, provavelmente, alastrarem-se mundialmente, qual nova e terrífica pandemia, esta de natureza bélico/nuclear, a partir da invasão da Ucrânia pela Rússia. Iniciado este ataque desumano, criminoso e ilegítimo, em 24 de fevereiro de 2022, os combates prosseguem e, em algumas localidades, corpo a corpo.
    Na Ucrânia, aldeias, vilas e cidades já foram praticamente destruídas. Centenas de milhares de pessoas: mulheres, crianças, jovens, idosas e até animais de estimação, foram dizimadas pelos bombardeamentos russos. Os nossos irmãos não têm as mínimas condições para desfrutarem de algum conforto, porque; a fome grassa, a água, os alimentos, a eletricidade e as infraestruturas já não satisfazem as populações. Celebremos, em ato de solidariedade, para com o povo Ucraniano, a nossa Páscoa, com a alegria possível, mas os olhos postos naquele martirizado país. GLÓRIA À UCRÂNIA.
    Páscoa que se pretende para todas as pessoas, como um dia, pelo menos um dia no ano, de reflexão, de recuperação de valores humanistas universais, um dia para festejar e recomeçar com novas: Precaução, Moderação, Robustez, Justiça, Fé, Confiança, Caridade, Comiseração e Generosidade. Uma nova Esperança Redentora, entre a família, os verdadeiros e incondicionais amigos. A todas as pessoas: Páscoa Muito Alegre e Feliz.
    Nesta Páscoa, ficam aqui os votos muito sinceros do autor desta reflexão, que apontam no sentido de desculpabilizar todas as pessoas que, por algum meio e processo, o prejudicaram, ofenderam e magoaram, não significando esta atitude: “passar uma esponja”; esquecimento total, mas apenas a vontade de reconciliação, de tentar novos diálogos, novas abordagens, para um melhor e mais leal relacionamento.


Bibliografia 

BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2017). Em Busca da Felicidade. Lisboa:  Chiado Editora.
RICARD, Matthieu, (2005). Em Defesa da Felicidade. Tradução Ana Moura. Cascais: Editora Pergaminho, Ld.ª.

Venade/Caminha – Portugal, 2022

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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