Pequena Ode ao Berço- Felismina Mealha


Abres-te a Sul como quem diz:
“Sejam Bem-vindos!”
E, desde o Moinho do Nica
Desces pressurosa até à quinta!
Aí, espraias-te, como um mar chão…
E abres a nossos olhos, as belas terras do Pão!

Ferragial da Volta
Cerca Grande
Cerca do Sr. Loução…e,
Ao fundo…a Corte com a charneca…
Os Barrancões, a Crimeia…
E caminhas abrasada, até Garvão!
Por esses caminhos, quantas estórias

Meu irmão?

A Funcheira, em cujo cais, tantas lágrimas,
Foram ali derramadas
Em cada separação!
A escola! A algazarra!
A brancura das batas
As canções de roda
As Amoreiras, o muro
As letras…o futuro!
O tempo escuro, muito escuro…
Mas, ao fundo, a luz da esperança!
A casa! Oh, a casa!
Lugar onde sempre encontrei
A força, a coragem, a preocupação, a luta!
A abordagem dos temas, os lemas…
O carinho, a alegria, a segurança!
A vida, ofereceu-me sem reservas
Uns olhos de ver contente,
A minha terra, a minha gente!
O meu chão seco, ou florido,
E as aves voando em bando
Acordando este meu grito!
Ia atrás delas, voando
Com minhas asas de sonhos
Cheia de sonhos…cantando!
Havia naquela casa
Dois pares de olhos tão belos
e dois corações tão perfeitos,
que me fizeram pensar
Que o mundo se multiplicava
em corações e olhares
Daquele jeito…perfeito!
Oh! Como eu guardo dessa casa
E desses corações, as asas
Com que voei tanta vez,

até cair e acordar desse sonho tão bonito…
Tão perfeito, que o bendigo,
por dele me recordar!
Terra! terra de cheiros agrestes
da esteva, do rosmaninho,
do alecrim, da arruda…
Terra muda, mas gritando
a fome desses teus filhos,
Que desde muito novinhos,
Saudosos…te iam deixando!…
Terra, que tanta luz me ofereces-te
Tanta beleza me deste
Tanto verde salpicado de amarelo,
Aonde esse Sol tão belo, se revia namorado!

Oh terra onde nasci!
Nunca me esqueço de ti,
O meu presente…é passado!
Cantar-te-ei minha terra
Ao Sol nascente de Julho
Ao Sol poente de Agosto
Ao Sol rubro, de Setembro, prometendo…
Um amadurecer dos frutos,
E de homens resolutos
Que vão nascendo e morrendo
Tanto vermelho papoila
Gritando na Planície,
E desenhando nos trigais
Verdes-rubros, por de mais…
Uma Bandeira de esperança!
Uma Bandeira, Saudade,
dos meus dias de criança!



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