Em Donetsk, Karkhiv ou Mariupol- ALBERTINO GALVÃO

 Em Donetsk, Karkhiv ou Mariupol
Não há lírios, cravos, rosas
Margaridas, girassóis
Nem hortências ou mimosas
A beijar os arrebóis!
Só há fumo, só há pó
Só bombas, destruição
E cenas a gerar dó
Revolta e consternação!

Em Donetsk, Karkhiv ou Mariupol
Não há esp´rança e o futuro
Já se adivinha minado
Sob um céu nublado e escuro
Num chão morto ou decepado!
Nas vozes não há certezas
Nos lábios não há sorrisos
Nos rostos só há tristezas
Não há risos de alegria
Não há hoje ou amanhã
Só olhos gritando avisos!

Em Donetsk, Karkhiv ou Mariupol
Cada dia é um suplício
Cada vida coisa vã!
Não há tardes nem manhãs
Nem há parques p’ra brincar
Sob a luz do arrebol...
E as crianças criam medos
Que a metralha faz gerar!
Não há sono nem há sonhos
Nem há tempo p’ra dormir
Só pesadelos medonhos
Que os canhões fazem parir!

Em Donetsk, Karkhiv ou Mariupol
Não há cravos nem craveiros
Nem Dezembro, nem Abril...
Mas há “lobos” e “cordeiros”
Juntos no mesmo redil!
Só há sede só há fome
Só há tempo, pouco tempo
Pra morrer ou pra fugir
Porque a bomba não traz nome
De quem irá atingir!

Em Donetsk, Karkhiv ou Mariupol
Não há crianças correndo
Atrás da bola ou seu cão
Mas há crianças morrendo
Ou fugindo do seu chão!
Não há velhos nem há novos
Não há homens nem mulheres...
Só há reflexos nos espelhos
Quebrados entre os talheres!

Em Donetsk, Karkhiv ou Mariupol
Sopram gases venenosos...
Processo subtil e lento
Mas de efeitos desastrosos!
Não há água, nem há luz
Falta isso e muito mais...
Mas há bocas dos obuses
A soltar berros mortais!

Em Donetsk, Karkhiv ou Mariupol
Não há tempo p’ra viver
Pois por lá o tempo é só
De fugir ou de morrer

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