O VELHO E AS MIGALHAS DE PÃO- Anabela Carvalho

 A cidade ainda dorme silenciosa. 
A manhã estava fresca e molhada pelo orvalho matinal!
Apenas o som dos pombos, rolas e da bengala tac tac a bater no chão. 
Olhei bem, na direção de onde vinha o som. 
Era daquele vulto magro e franzino que pela rua deambulava. 
Porte alto e elegante, camisa clara e bem passada, 
que contrastava com as mãos enegrecidas
 e enrugadas pelo passar do tempo. 
Na mão direita transportava uma bengala que auxiliava o andar e na outra, 
um saquinho transparente contendo migalhas de pão.
As pernas magras dançavam dentro das calças largas 
que os suspensórios seguravam. 
Afinal tinha que arranjar forças!
As pombas da rua esperavam-no e ao pão pro bico.
As forças iam fugindo.... mas a causa motivava-o para sair!
Chegado ao jardim, abriu o saco das migalhas do pão esfarelado 
e despejou-o no chão.
Repentinamente, de todos os lados e direções, 
os columbídeos esfomeados rodearam-no de arrulhos.
Na minha cidade, ainda há " velhos" que acordam cedo e saem à rua...
que transportam o coração nas mãos.... 
e fintam o tempo com o olhar!
Volvendo vida à minha cidade!!!


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