Lisboa, sonho contigo!- Felismina Mealha


 Deixa-me dizer-te Lisboa, do encanto que tu és!
Deixa-me olhar-te bem, mirar o Rio a teus pés,
envolto na neblina, que a fresca madrugada,
espalhou pelo rio acima,
enquanto tu dormias, sorrindo e sonhando
com risonhos dias, com fartas marés,
com peixes dourados, beijando-te os pés!

Eu fiquei absorta, sonhando contigo,
mirabolantes sonhos… de mendigo!
Uma onda maior, pintou-se de oiro,
De rosa e vermelho…
E um fogo irrompeu!

Ao fundo, já mar, um sol que acordava
Pintou todo o rio…
Foi-se…a madrugada!
E o Terreiro encheu-se de gente que luta,
correndo apressada, desperta, resoluta,
mas…decepcionada!

Os peixes dourados, mal o sol lhes deu,
desapareceram nas águas do Rio…
E aquela traineira dos homens da Trafaria
Baloiça nas águas, de noite e de dia.
Os homens queimados, do frio e do sol,
arregaçam as mangas e com gestos vagos,
Tiram da traineira, uns magros trocados…
Afagam seus rostos, cofiam as barbas,
onde o sal se instala, e os marca e os come,
e eu queria saber, porque não morre a fome!

Mas, por sobre as águas, correndo na Ponte
Há um corrupio de cavalos bravos, de Sul para Norte
De Norte para Sul, cavalgando o tempo, que foge, que foge!

Lembrei tempos idos, lembrei meu País, que sonhei risonho
Num tempo em que quis, acreditar, que os homens…
O queriam feliz!

Quando abri os olhos, o sol me cegou!
e, à minha frente, o D. José de sempre, também acordou.
Seu nobre cavalo de azebre pintado, escorria verde
sobre o chão do Paço, e, até ele, estava pasmado!

Oh! Que sonho meu Deus!
Num dia tão lindo, sonhei coisas tais, que até tive medo…que fossem reais.

Lisboa, minha cidade! por ti choro, e sonho, e grito, e calo, me encanto, me desencanto…e te exalto!

 



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