Felicidade na Infidelidade. Será Possível?- Diamantino Bártolo

    


    Naquela manhã de agosto, relativamente fria e assolada por uma chuva miudinha, junto à praia, tendo pela frente as rochas e o mar imenso, bastante calmo, de um azul profundo, Iracema e Gentil, estacionaram a viatura, conduzida pela jovem senhora, antes de efetuar a marcha de regresso, conforme estava previsto.
    Iracema, como que sondava o mar sem-fim, com um olhar nostálgico, algo misterioso, com o rosto levemente branco, muito lindo, aparentemente, com uma expressão preocupada e, simultaneamente, transmitindo uma sensação de tranquilidade, de uma felicidade disfarçada de melancolia, tendo o seu rosto bem próximo de Gentil, que continuava sentado ao seu lado.
    Aquele jovem, que estava fixado em Iracema, como que hipnotizado e, ao mesmo tempo, atraído pela beleza e serenidade da jovem senhora, não aguentou mais o sofrimento que lhe ia na alma, ganhou coragem e perguntou-lhe: “Posso dar-te um beijinho, apenas um, nos teus lábios, qual passarinho a voar, levemente esvoaçando?”
    Entre os dois jovens tinha-se estabelecido, desde há muito tempo, um laço muito forte de amizade, que aumentava dia após dia, que se ia consolidando, uma afeição muito especial, pelo menos por parte de Gentil, extremamente sincera, sem quaisquer artifícios, nem intenções inconfessáveis, porque este jovem, jamais pretendia magoar, muito menos ofender, aquela jovem senhora tão nobre.
    Iracema, primeiro não teve qualquer reação perante o pedido de Gentil, porém, ela olhou bem fundo, nos olhos dele, certificou-se que estava a ser verdadeiro, humilde e angustiado, sorriu deliciosamente e, com uma candura profundamente sedutora, ofereceu-lhe a boca, com uma expressão angélica, ficando a aguardar a concretização do pedido de Gentil.
    O jovem, tremia, transpirava, era o seu primeiro beijo numa jovem casada, mas não resistindo por mais tempo àquela boca, contornada por uns lábios relativamente volumosos, muito vermelhos, não tinham qualquer pintura, mais pareciam cerejas maduras, daquelas de excelente qualidade, que só de olhar para elas, logo se tem apetite para as saborear delicadamente.
    Os lábios de Iracema, como que estavam a tremer, porque, tudo indica, também ela, desejava aquele momento, de contrário, não teria acedido ao pedido do seu companheiro de viagem. Gentil aproxima, então, a sua boca daqueles lábios rijos, quentes, húmidos, tremendo de desejo, ou de ansiedade, ou até de preocupação, não fosse alguém vê-los naquela situação, que resultava de uma amizade que se transformava em amor, talvez não o amor matrimonial, mas um “Amor-de-Amigo”, onde se impunha o respeito, em simultâneo com o prazer.
    Foi um primeiro beijo, apenas nos lábios, não muito prolongado, mas com o tempo suficiente para fortalecer uma ternura que ambos desejavam duradoura, num local romântico, onde o sussurrar das ondas, o barulho do vento e o ruído dos pingos da chuva, a cair no tejadilho do carro, enriqueciam o ambiente amoroso, propício a juras de amizade eterna, muito especial e que passaria a constituir um primeiro segredo entre os futuros amantes.
    Iracema era, uma jovem senhora, dotada de qualidades invulgares, em diversas dimensões: pessoais, profissionais, éticas e sociais, ela estava acima da média das jovens do seu tempo e até com mais idade, sempre muito empenhada nos projetos e atividades em que se envolvia, e que quem com ela se relacionava, sabia muito bem que não facilitava, e que lutava sempre pelos melhores resultados.
    Seu marido, sensivelmente da mesma idade dela trabalhava noutro setor, relativamente distante do local onde naquela manhã ela se encontrou com Gentil e, certamente, não faria a menor ideia do que a esposa estaria a fazer, que, por enquanto, não seria assim extremamente grave, talvez tivesse dado um primeiro passo para uma futura traição, em toda a sua extensão. O tempo o diria.
    Aquela senhora, fisicamente bem constituída, olhos castanhos, de resto, a cor mais frequente nos olhos das mulheres portuguesas, cabelos loiros, umas vezes, outras, castanho e ainda outras, relativamente claro com algumas madeixas brancas. Sem receio de se errar, por um lado, e sem qualquer intenção de bajular, por outro lado, Iracema era aquele tipo de mulher verdadeiramente escultural e que, sem intento de ofender ou magoar, fazia “perder a cabeça” a qualquer homem.
    Gentil era um jovem, mas já com alguma experiência de vida, talvez se pudesse afirmar que, em algumas circunstâncias, seria mais “maduro” do que Iracema, porém, em certas situações, comportava-se como um adolescente, sempre com receio de magoar aquela que viria a ser a sua mulher mais preferida, no meio de muitas outras por onde poderia tentar alguma relação, ainda mais íntima.
    Depois daquele beijo nos lábios, os dois amigos passaram a encontrar-se mais vezes, em certas conjunturas, diariamente, sempre que Iracema tinha o marido seguro no trabalho, combinava com Gentil o local para conversarem, tomarem uma bebida, trocarem algumas carícias. 
    A jovem senhora, passou a merecer todas as atenções do seu amigo e este nunca lhe negou a aplicação de nenhum tipo de princípios, de valores e sentimentos. A solidariedade, a amizade, a lealdade, a gratidão e a cumplicidade, já faziam parte da personalidade do jovem.
    O tempo passava, os encontros entre os dois jovens amigos, sucediam-se a um ritmo cada vez mais “acelerado”, todos os pretextos serviam para se verem, nos locais mais adequados e sigilosos, se possível, também com algum pormenor romântico, embora não fosse um aspeto que os preocupasse, porque o mais importante era a sobriedade, o respeito pelo marido dela, o sigilo, a segurança.
    Num belo dia do fim de Agosto, Gentil encontrou Iracema numa festa. Ela estava só, provavelmente teria ido rezar, tal como Gentil também costumava fazer. Ao verem-se, ambos sorriram docemente, os olhos como que descarregavam relâmpagos de felicidade, quer nela, quer nele, e assim, ambos iniciaram a conversa romântica a que já se tinham habituado, e de que muito gostavam
    Entretanto as pessoas que estavam na festa, por volta do meio-dia e meia, começaram a abandonar o recinto. Iracema e Gentil acabaram por ficar sós e entenderam que deveriam caminhar um pouco em redor da Igreja. Neste percurso, Iracema diz a Gentil: “Eu gostava de te dar um beijinho, mas aqui …”
Gentil nem queria acreditar no que acabava de ouvir. Continuaram a caminhar e, chegados a um local mais resguardado, ele certificou-se de que não havia ninguém e então, suavemente, deitou-lhe o braço por cima do ombro, puxou-lhe a cabeça e deu-lhe um beijo, porém, desta vez, conseguiu introduzir a sua língua bem no interior da boca de Iracema. 
    Ela ainda tentou reagir, “encolher” a língua, mas acabaram por se tocar, línguas quentes, húmidas e escorregadias, línguas que já transmitiam muito mais do que uma simples amizade. Bocas que pareciam autênticas fogueiras. Lábios que irradiavam um calor intenso, que estavam firmes, rígidos e se entregavam reciprocamente, com verdade, com autêntica alegria e, quem sabe, felicidade.
    No dia seguinte, Iracema telefona a Gentil para lhe dizer o seguinte: “Tu ontem foste atrevido…” e, após um pequeno período de silêncio, acrescentou: “no bom sentido”, ou seja, afinal Iracema gostou da iniciativa de Gentil que mais não foi do que dar seguimento ao desejo que a jovem Iracema já tinha manifestado antes. 
    Os dois jovens amigos (talvez, nos preconceitos da sociedade, já fossem considerados amantes) queriam estar  cada vez mais tempo juntos, encontrarem-se, se possível, e no mínimo, todas as semanas o que, praticamente, viria a acontecer e, num outro dia, que seguramente ficou registado no coração dos dois, Iracema convidou Gentil para conhecer a casa dela e, inclusivamente, a título de amigo, lhe apresentar algum familiar.
O encontro em casa de Iracema aconteceria numa melancólica manhã de Setembro, ainda não era meio-dia. Os dois entraram em casa, com Iracema à frente ao mesmo tempo que chamava por sua mãe que, ao que tudo indica, teria saído. O primeiro aposento visitado foi o quarto de Iracema e do marido e aqui, na ombreira da porta, mas do lado de fora do espaço conjugal, os dois amantes abraçaram-se, loucamente, os beijos na boca, línguas “enroscadas”, quentes, húmidas e lânguidas não pararam mais, durante bastante tempo. O delírio, a paixão, tomavam conta destes dois amantes, agora sim, talvez se pudessem considerar como tais.
    Apesar da oportunidade proporcionar a possibilidade de os jovens enveredarem por um relacionamento mais íntimo, designadamente ao nível sexual, Gentil, mais racional e com um sentido de respeito pelo marido dela, ausente a trabalhar para ela e para o lar, entendeu que não deveriam violar aquele recinto matrimonial, não entrando, por isso mesmo, para o quarto e muito menos para a cama, não obstante isso ter constituído um esforço tremendo para Gentil, porque realmente, estavam reunidas as condições totais, para consumar o ato sexual.
    Seguiram-se outras visitas aos restantes aposentos, os dois jovens enamorados, sempre abraços, beijando-se perdidamente, sorrindo de felicidade, olhos brilhantes e comprometidos, porque a relação entre os dois assumia proporções que, mais tarde ou mais cedo, não se sabia como iriam terminar. Na despedida daquela manhã, Iracema conduziu Gentil até à porta e aí, mais uma longa e apaixonada troca de beijos, bem no interior das bocas.
    Claro que de ora em diante, tudo seria diferente, eventualmente, para melhor, porque alguma razão teria Iracema para trair o marido, e mesmo que ainda não tivesse consumado o ato sexual com Gentil, este nunca soube, se alguma vez aquela jovem, que vibrava nos seus braços, teria tido alguma outra relação sexual, extraconjugal. Gentil nunca colocou, nem quis acreditar nesta hipótese, porque também lhe parecia que Iracema gostava do seu marido, mas que no momento, talvez estivessem a atravessar um período de dificuldades sentimentais.
    A verdade é que, na cultura da sociedade em que ambos se inseriam, o relacionamento deles, poderia enquadrar-se, perfeitamente, no conceito de traição. Mas aqui surge a questão: “Felicidade na Infidelidade: Será Possível?” Para Gentil, entendia que sim, porque ele considerava que esta bem-aventurança, que afinal poderia ser entendida como um acréscimo de alegria e satisfação na vida de Iracema, porque para ele, era isso mesmo, uma Felicidade que vinha enriquecer a que ela, possivelmente, já desfrutava, ainda que agora estivesse a ser como que interrompida por circunstâncias menos boas que afetavam o casal.
    Depois da visita à casa de Iracema, o mais natural é que Gentil convidasse a sua querida amiga, e lhe retribuísse tão maravilhosa quanto inesquecível visita. Para esse efeito, combinou com ela para ambos se encontrarem na casa dele, numa altura em que os pais dele não estivessem, tendo ela aceitado a convocação, e a mesma se concretizaria no final desse mesmo mês de Setembro, ao fim de uma tarde quase outonal.
    Iracema, conforme tinha combinado, visita Gentil que a recebe, sorridente e com uma alegria e felicidade, impossíveis de esconder. Entram em casa, e logo os dois amantes se abraçam e assim percorrem alguns aposentos, para, num destes, Iracema sentar-se e de seguida, o seu companheiro se “alojar” no seu colo e, nesta posição, continuar a beijá-la, com imenso carinho e intensa ansiedade, obviamente à mistura com muito respeito, sem, contudo, deixar de introduzir a sua língua na boca dela, até se tocarem, sofregamente.
    De seguida, os dois jovens, agora enamorados, visitaram um outro compartimento da casa e aqui foi Gentil a sentar-se e a convidar Iracema para o colo dele, ao que ela acedeu, prontamente, com um sorriso malicioso e um olhar penetrante, como que a perguntar: “E agora o que vai acontecer?”; “O que vais querer de mim?”
    Imediatamente, a intimidade dos dois acentua-se. Gentil beija Iracema nos olhos, nos ouvidos, no pescoço, nos lábios e bem no interior da boca dela, que arfava, quente, húmida e macia. As línguas dos dois, como que se entrelaçavam com estes beijos longos, ardentes, até faltar a respiração.
    Segue-se um período ainda de maior intimidade. Iracema, nesse dia, vestia uma blusa, relativamente bem decotada, deixando à mostra a parte superior de um peito majestoso, volumoso e firme, branquinho como a cal. Gentil está completamente perturbado e extasiado, perante esta beleza jamais vista, o desejo apodera-se, inexoravelmente, quase lhe retira a racionalidade e, nestas circunstâncias, ele ousa perguntar a Iracema se pode beijar-lhe aquele peito maravilhoso.
    Iracema não responde, mas sorri, um sorriso de concordância que Gentil muito bem interpretou, iniciando então o movimento para um beijo muito especial. Aproximou a sua boca do seio de Iracema, enquanto procurava desviar um bocadinho o sutiã e, ao fazê-lo, a sua estupefação não teve limites. Aquele seio monumental, encimado por um mamilo proeminente, escuro estava ali, praticamente à    disposição de dele, que, entretanto, foi beijando o peito até chegar ao mamilo.
    Iracema, enquanto isso, comentava: “Eu estou doidinha” ao que Gentil lhe respondia: “Não, não estás minha querida, meu amor”. Com alguma precipitação, ela acabou por aconchegar o sutiã, fechar mais a blusa. Estava corada, talvez excitada, eventualmente, preocupada e, provavelmente, envergonhada, porque, afinal, estaria a trair o seu marido que, bem longe, trabalhava para o casal.
    A partir daquele dia, a relação íntima continuou por vários meses. Uma manhã, Iracema acabaria por confessar a Gentil que se ia divorciar. O jovem sempre gostou muito de Iracema, jamais se aproveitou, até às últimas consequências, da relação que vinha mantendo com ela, além disso, ele sempre desejou que ela lutasse pela felicidade, sim, que nunca traísse o seu marido, até porque um dia, poderia vir a ter filhos e estes, de resto, assim como o marido, poderiam vir a descobrir este segredo de Iracema e Gentil, e então seria o fim da família.
    Gentil, em toda esta relação com Iracema, sempre se comportou como um autêntico cavalheiro e, ao abdicar da consumação final da traição, revelou uma grandeza de valores inimaginável e impossível de encontrar noutros jovens do seu tempo, manifestou uma generosidade, para com Iracema e para com o seu marido, que é difícil de igualar. 
    Gentil acredita que nenhum dos diversos alegados “amigos” de Iracema e do próprio marido, ou até mesmo da família, se se lhes proporcionasse uma oportunidade como a que o jovem Gentil teve, certamente, não estariam com quaisquer preocupações quanto à reputação, ao bom-nome, honra e dignidade, tanto dela como do marido.
    Iracema bem pode estar agradecida para o resto da vida, bem pode estimar e manifestar-lhe reiteradamente toda a solidariedade, amizade, lealdade e gratidão, a Gentil que tudo fez para “segurar” o casamento e a felicidade dela Iracema com o seu marido, com a sua família e, talvez um dia, com os seus filhos. Gentil, mostrou, afinal, toda a sua grandeza de alma, toda a sua genuína amizade, camaradagem e proteção para com Iracema e apenas deseja que ela,  se comporte com a mesma estima, consideração e amizade para com ele.

Venade/Caminha – Portugal, 2022

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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