Ascensão da Mulher- Diamantino Bártolo

     
    Numa sociedade, ainda, fortemente, masculinizada, a situação da mulher não alcançou o lugar que por direito, e por mérito próprio, lhe pertence, pesem, embora, alguns avanços que no último século se verificaram e, principalmente, a partir da segunda metade do século XX, com a implementação de vários documentos oficiais, a nível mundial.
    Erroneamente, há quem coloque em causa as faculdades intelectuais e as capacidades de trabalho da mulher, quando, em boa verdade, são muitos os exemplos de que ela estará preparada para desempenhar, praticamente, todas as atividades que o homem desenvolve, podendo-se excluir uma ou outra que, eventualmente, postula características masculinas de difícil substituição. Mas o contrário também é verdade: o homem não realizará certas tarefas, experimentalmente exclusivas da mulher, todavia, em termos gerais, pensa-se que homem e mulher se complementam, perfeitamente, sem que haja superioridade de um em relação à outra.
    A mentalidade, segundo a qual, existe uma certa inferiorização da mulher, acredita-se que não será da responsabilidade exclusiva da sociedade, no seu todo, e do homem em particular, porque também cabe à população feminina lutar pelos seus legítimos interesses, pela igualdade de oportunidades e pelo reconhecimento da sua insubstituabilidade, porque a discriminação negativa, contra a mulher, revelará sempre um profundo atraso cultural.
    A sociedade, ao que tudo indica, maioritariamente constituída por mulheres, em muitos países, ditos civilizados, não tem o direito de subjugar a mulher porque: «O certo é que até hoje as possibilidades da mulher foram suprimidas e perdidas para a humanidade, e que já é mais do que hora de se permitir que ela se arrisque em seu próprio interesse e no interesse de todos.» (Simone de Beauvoir, in: LOBOS, 2003:5).
    Importa, por isso, refletir, neste trabalho, sobre a integração plena da mulher em todos os setores de atividade, onde ela se sinta útil à sociedade e realizada, porque os requisitos essenciais, seguramente, não lhe faltam: seja para assumir responsabilidades ao mais alto nível de qualquer instituição; seja para posições modestas, tal como já acontece com os homens. 
    A sensibilidade feminina, em muitas atividades, provavelmente, será uma mais-valia inestimável, em relação aos homens, o que lhes confere, a elas, mulheres, uma posição nobre, difícil de igualar ou ultrapassar, por isso, quando surgem as oportunidades, os empregadores deverão ter em conta essa e outras circunstâncias, em vez de se preocuparem com aspetos, que são mais do foro íntimo, da vida privada da concorrente.
    Eliminar uma candidata a um emprego, só porque ela pretende constituir, e/ou ampliar família, desenvolver outros projetos, por exemplo: casar, ter filhos ou estudar, poderá configurar uma mentalidade retrógrada, em que interesses meramente materiais, e/ou atitudes preconceituosas, se sobrepõem a outras possibilidades bem mais interessantes, para a instituição, caso aquela mulher viesse a ser admitida.
    E se para o trabalho a mulher deve ser cada vez mais solicitada, também para outras tarefas, nomeadamente de voluntariado, o seu apoio é impagável, e a verdade é que se tem conhecimento de que, na esmagadora maioria das instituições, elas estão presentes, desenvolvem funções altamente meritórias, eficazes e com grande espírito de missão. A presença das mulheres em atividades sociais, é já um dado adquirido incontestável.
    Voltando ao trabalho nas diversas organizações públicas e privadas, em muitas delas, cinquenta por cento das mulheres já atingiram lugares de executivas de topo, por mérito próprio, e sem quaisquer influências “estranhas” às suas funções e muito menos por alegadas “simpatias” ou “favores”. Também se sabe que a mulher quando decide colocar a sua carreira profissional à frente de outras situações, incluindo a família, então o sucesso é, praticamente, garantido, no entanto, na maioria das situações, a família continua a ser o seu baluarte defensivo.
    A sociedade, em que homens e mulheres se movimentam, possivelmente, começa a compreender as virtualidades da mulher, em quaisquer contextos e, nesse sentido, a abertura para a sua integração total, e irreversível, é já um facto consumado, por isso, de nada valerá, algumas resistências masculinas absurdas, para a excluir desta ou daquela intervenção, salvo motivos justificáveis e aceites pela comunidade, e por ela própria, enquanto mulher de deveres e direitos.
    O que atualmente, e também para o futuro, se deseja é uma mulher do lado do homem: nem à frente, nem atrás, mas sim ao lado, uma mulher complemento do homem, mas que também é complementada por ele. Uma mulher que, lado a lado com o homem, contribua para uma sociedade melhor.
Que alguém possa ter o preconceito de que há pessoas “ideais”, deve-se respeitar, concordando-se, ou não, mas ter a noção, segundo a qual, existe a mulher ou o homem perfeito, talvez seja uma opção, mas deve-se recusar tal afirmação, porque na verdade a perfeição pura, e outros qualificativos soberanos, encontram-se ao nível dos absolutos, e estes transcendem o ser humano.
    Aceitar que no universo humano as pessoas são todas diferentes, que nenhuma é perfeita em coisa alguma, mas que poderá haver quem reúna melhores condições, em diversos domínios, tal já é possível, independentemente de quaisquer estatutos, orientações, género, raça, idade e origem. Nesta perspectiva é que se pode conceber a mulher que: a sociedade em geral; e o homem em particular, mais desejam.
    O relacionamento entre homens e mulheres, no local de trabalho não tem de ser, necessariamente, conflituoso, pelo contrário: desde que o respeito exista; o espírito de colaboração esteja presente; e haja a adequada adaptação ao posto de trabalho, tudo funcionará corretamente. Não deveria subsistir, para o homem, nenhum complexo de inferioridade, quando o seu superior hierárquico é uma mulher, até porque: «A liderança feminina é fácil, clara e objetiva; liderança masculina é difícil, não é clara e muitas vezes não é objetiva. Mulheres seguras são grandes líderes.» (Rita Buri, in: LOBOS, 2003:153). 
A opinião acima transcrita, certamente, que não será partilhada por uma faixa de homens imbuídos, ainda, de uma mentalidade poderosamente masculinizada, ou mesmo machista, mas a verdade é que no mundo empresarial, e também no setor público, já se detetam mudanças profundas, no sentido de promover a mulher aos lugares superiores que, tal como os homens, a eles têm direito.
    A ascensão da mulher nesta sociedade, em permanente evolução, é já um fenómeno irreversível. Com efeito: «No século XXI, o sucesso profissional irá requerer destreza para lidar com a ambiguidade, gerenciar tarefas múltiplas ao mesmo tempo, e construir redes de suporte tanto no trabalho como na comunidade. As mulheres parecem adaptarem-se melhor, enfim, às carreiras do futuro.» (Morrison, et. al., in: LOBOS, 2003:205).
    Apesar da evolução positiva que se vem verificando, em relação à mulher, a verdade é que o homem tem, igualmente, o seu papel de destaque, ao lado da mulher e, nestas circunstâncias, é fundamental partilhar o que uma e outro possuem de melhor, jamais desencadear quaisquer tentativas de rivalidades, ou de supremacias, porque o que, inequivocamente, a História da Humanidade nos prova é que: é impossível ao homem viver sem a mulher; é impensável a mulher existir sem o homem.
    Compatibilizar sinergias, femininas e masculinas, tanto quanto possível, em projetos ecléticos, ainda assim parece ser uma nova estratégia a adotar-se, aliás, é isso mesmo que se pretende da nova mulher deste século XXI, deseja-se uma mulher profissional, companheira e mãe, papeis que, querendo, só ela tem faculdades para desempenhar muito bem.
    Se se analisar bem, do ponto de vista sociológico, rapidamente se pode concluir que ela, a mulher, é insubstituível, designadamente na sua função mais nobre e sublime que é a maternidade. Selma Santa Cruz, afirma o seguinte: «Acredito que nós mulheres temos uma grande, imbatível, intransferível e deliciosa vantagem competitiva: a maternidade. Afinal, ser mãe é um exercício permanente de construir tirando o melhor de cada situação.» (Cf. in: LOBOS, 2003:208).
    Entretanto, se se abordar a intervenção profissional da mulher, no domínio ético, também aqui poderá haver agradáveis surpresas porque: «As mulheres percebem nitidamente o que é correto – e o correto é seguir as regras. A menos, claro, que as regras estejam equivocadas. (…). Justamente porque as mulheres percebem com clareza o que é correto, elas não reconhecem a existência de várias éticas, mas de uma só. A ética da felicidade sobrepõe-se à da razão.» (LOBOS, 2003:179).
    A colocação da mulher ao nível do homem, constitui um imperativo categórico, que deve entrar para a “agenda” dos deveres e direitos humanos, de facto, e não apenas em teorias legislativas. A mulher é parte integrante e insubstituível da humanidade, portanto, cabe a todas as instâncias, de todos os poderes, contribuir para que este desiderato se concretize, o mais rapidamente possível, até porque, pensa-se que, cada vez mais, existirá uma maioria masculina que deseja ter a seu lado, em todas as circunstâncias da vida, uma mulher profissional, companheira e mãe. Quando isto acontecer, certamente, as famílias se tornarão mais sólidas, mais felizes e não haverá tantas separações. Estaremos, então, perante a mulher que se deseja.

Bibliografia. 

LOBOS, Júlio, (2003). Amélia, Adeus. São Paulo: Instituto da Qualidade.

Venade/Caminha – Portugal, 2023

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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